A Conferência Episcopal Nórdica defendeu a doutrina tradicional católica sobre sexualidade em uma carta pastoral lida nas igrejas no fim de semana. “Oferecer algo menos exigente seria uma decepção. Não recebemos as Ordens Sacras para pregar pequenos ideais de nossa própria autoria”. A doutrina sexual católica, especialmente no que se refere à homossexualidade, vem sendo atacada por bispos especialmente nos países de língua alemã, na Bélgica e na França. 

“Hoje, as noções do que é ser humano e, portanto, um ser sexual, estão em fluxo”, diz a carta da conferência episcopal que reúne os bispos de Suécia, Dinamarca, Noruega Islândia e Finlândia referindo-se à teoria de gênero. “O que é dado como certo hoje pode ser rejeitado amanhã. Qualquer um que aposte muito em teorias passageiras corre o risco de ser terrivelmente ferido. Precisamos de raízes profundas”.

A teoria de gênero a que os bispos se referem diz que a sexualidade humana independe do sexo e se manifesta em gêneros muito mais variados do que homem e mulher. Em vez de dois polos, a ideologia de gênero acha que existe uma gama de variações, por isso o arco-íris foi escolhido como símbolo.

A ideia contraria a Escritura que diz, no livro do Gênesis 1, 27: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher Ele os criou”, na tradução oficial da CNBB.

O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 369: “O homem e a mulher foram criados, quer dizer, foram queridos por Deus: em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, por um lado; mas, por outro, no seu respectivo ser de homem e de mulher. «Ser homem», «ser mulher» é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível e que lhes vem imediatamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são, com uma mesma dignidade, «à imagem de Deus». No seu «ser homem» e no seu «ser mulher», refletem a sabedoria e a bondade do Criador.

“Nossa missão e tarefa como bispos é apontar para o caminho pacífico e vivificante dos mandamentos de Cristo, estreito no início, mas cada vez mais largos à medida que avançamos”, afirmam os bispos na carta. O cardeal Anders Arborelius, bispo de Estocolmo, Suécia, é um dos oito signatários do documento. Os outros são: da Noruega, o bispo de Trondheim, Erik Varden, o bispo de Tromsø, Berislav Grgić, e o bispo de Oslo, Bernt Eidsvig; da Dinamarca, o bispo de Copenhague, Czeslaw Kozon; da Islândia, o bispo de Reykjavik, Dávid Tencer, e o bispo emérito de Reykjavik, Pierre Bürcher; e da Finlândia, o administrador apostólico de Helsinki, padre Marco Pasinato.

A "Carta Pastoral sobre a Sexualidade Humana" começa recordando que a Quaresma não é o único período de 40 dias na história da salvação e fala do dilúvio universal, cujo resultado foi "um novo começo" na relação entre Deus e os homens.

Assim surgiu a primeira aliança, que foi confirmada com o sinal do arco-íris no céu; um sinal que hoje é reivindicado "como o símbolo de um movimento político e cultural".

Na carta, os bispos dizem reconhecer “quão nobres são as aspirações deste movimento” quando se opõem a toda discriminação injusta. No entanto, rejeitam “uma visão da natureza humana que abstrai da integridade encarnada da pessoa, como se o sexo fosse algo acidental”.

“Nós nos opomos quando tal visão é imposta às crianças como uma verdade comprovada e não uma hipótese ousada, e imposta aos menores como um pesado fardo de autodeterminação para o qual eles não estão preparados”, continuam. "É impressionante que uma sociedade tão atenta ao corpo o trate de fato de forma superficial ao não considerá-lo como um sinal de identidade".

A carta recorda que a criação do ser humano à imagem e semelhança de Deus "não se refere apenas à alma: inscreve-se misteriosamente também no corpo", e que isso se manifesta "na complementaridade do masculino e o feminino". “O caminho da autoaceitação passa pelo confronto com a realidade. Nossas feridas e contradições estão incluídas em nossa realidade vivida”.

Os bispos reiteram: “estamos aqui para todos, para acompanhar a todos”. “A aspiração ao amor e a busca de uma sexualidade integrada tocam o ser humano na sua fibra mais íntima”.

Não escondem, por outro lado, que “o caminho da realização requer paciência, mas há alegria em cada passo”, e que “toda a busca de realização e integridade merece respeito e deve ser sustentada”.

Uma atitude acolhedora, diz a carta, não ofusca a visão rumo à plenitude: “Esta misericórdia não exclui ninguém, mas estabelece um alto ideal”.

Essa aspiração é apresentada nos mandamentos, "que nos ajudam a crescer além das noções estreitas de nossa identidade" para "nos tornarmos novos homens e mulheres".

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“Pode acontecer que as circunstâncias tornem impossível para um católico receber os sacramentos por um certo período de tempo. Não é por isso que ele deixa de ser membro da Igreja”, diz a carta pastoral.

“A experiência do exílio interior vivida na fé pode levar a um sentimento de pertença mais profundo. É o que acontece com frequência nos exílios bíblicos”, diz a carta.

A carta diz que “não podemos reduzir o sinal do arco-íris a nada menos do que o pacto vivificante entre o Criador e a criatura”. “A imagem de Deus impressa em nosso ser exige a santificação em Cristo. Qualquer noção de desejo humano que seja inferior a esse padrão é insuficiente do ponto de vista cristão.

Por outro lado, diz que "atualmente as ideias sobre o que é o ser humano e o seu carácter sexual estão num estado de fluidez", de modo que "o que hoje é dado como certo pode ser rejeitado amanhã”.

Por isso, alerta, “quem se apega demais a teorias passageiras corre o risco de se machucar muito”.

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A carta reconhece que “o ensinamento cristão sobre a sexualidade causa perplexidade em muitos”. Para quem se sente assim, os bispos oferecem duas recomendações:

A primeira é “conhecer o chamado e a promessa de Cristo: conhecê-lo melhor na Escritura e na oração, através da liturgia e do estudo do ensinamento integral da Igreja, e não a partir de fragmentos encontrados aqui e ali”.

Assim, "aumentar-se-á o alcance das perguntas iniciais", dilatando a mente e o coração.

Em segundo lugar, a carta exorta a ter consciência “das limitações de um discurso puramente secular sobre a sexualidade” que precisa ser enriquecido com “um vocabulário adequado”.

A carta diz que “a finalidade do ensinamento da Igreja é possibilitar o amor, não o impedir”, e que para este amor “o mundo foi criado e nossa natureza formada”.

A carta conclui com um desejo: “Que nossa comunidade católica, tão multifacetada e colorida, possa testemunhar este amor na verdade”.

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