“Uma abordagem puramente secular da sexualidade é necessariamente diferente de uma abordagem cristã porque estamos lidando com entendimentos muito, muito diferentes do que significa estar vivo e do que significa ser humano. Temos que ser ao mesmo tempo lúcidos e delicados. Esse é o equilíbrio a ser buscado”, disse o bispo de Trondheim, Noruega, Erik Varden, O.C.S.O, à CNA, agência em inglês do grupo ACI, sobre o papel de um bispo e por que a conferência dos bispos nórdicos decidiu publicar uma carta sobre sexualidade e transição de gênero neste momento.

 

A carta, assinada pelos bispos dos cinco países nórdicos reafirmando o ensinamento da Igreja Católica sobre a sexualidade humana, foi publicada no dia 26 de março.

 

“Este sinal da aliança, o arco-íris, é reivindicado em nosso tempo como o símbolo de um movimento que é ao mesmo tempo político e cultural”, escreveram os bispos. “Declaramos nossa discordância, no entanto, quando o movimento apresenta uma visão da natureza humana que se abstrai da integridade corporificada da personalidade, como se o gênero físico fosse acidental.”

 

 

“Obviamente, o assunto está sob nossa atenção há muito tempo, como está sob a atenção de qualquer pessoa”, disse Varden por telefone na semana passada à CNA. “A importância de dizer algo construtivo era óbvia para nós.”

 

Os bispos discutiram a questão no ano passado em sua reunião de outono, e um membro escreveu um rascunho de carta que foi discutido em uma assembleia em março.

 

“Estávamos substancialmente de acordo sobre o que queríamos dizer e como queríamos dizer”, disse. “Em termos de substância, acho que estávamos totalmente de acordo.”

 

Ele disse que a carta pastoral foi escrita para o povo das dioceses.

 

“Mas suponho que seja parte de toda essa dinâmica sinodal”, acrescentou. “A questão é que a voz de todos deve ser ouvida. Sentimos que tínhamos algo que queríamos e precisávamos para contribuir com um debate em andamento.”

 

Varden, de 48 anos, é monge trapista e autor de livros sobre espiritualidade. Ele é bispo de Trondheim, na região central da Noruega, desde 2020.

 

Nas discussões sobre gênero e sexualidade, “tudo se torna subjetivo” e focado nas histórias e feridas individuais das pessoas – dando a ideia de que cada um “tem sua própria verdade”, diz Varden.

 

“O que queríamos deixar claro era simplesmente que não estamos enviando esta carta como oito sujeitos individuais que concordaram em algo e depois decidiram divulgar isso ao mundo”, explicou Varden. “Fomos encarregados de um ministério de ensino, e não se trata de despejar nossas próprias opiniões, mas sim ensinar e expor da forma mais clara possível a verdade que nos foi dada”.

 

“A noção do depósito da fé é muito profunda na compreensão cristã da transmissão. É um lembrete extremamente útil do que é a tarefa de um bispo, que é manter esse depósito, que é vasto, e apresentar às pessoas a riqueza que ele contém”.

Falando sobre a verdade

A carta pastoral dos bispos foi lida nas missas do fim de semana de 25 e 26 de março em igrejas católicas na Suécia, Noruega, Finlândia, Dinamarca e Islândia.

Varden disse que os bispos ficaram surpresos com o interesse provocado pela carta.

“A carta é mais longa do que a homilia média, por isso foi uma espécie de mortificação quaresmal para os fiéis” ouvi-la na missa, disse ele. “Mas eles aceitaram de forma muito educada”.

Para Varden, as questões sobre sexualidade estão na mente de todos hoje em dia, especialmente devido à sua prevalência na mídia. Segundo o bispo, parte da recepção da carta foi “uma sensação de alívio por podermos falar sobre isso”.

“Parte do nosso desejo era criar um ambiente para falar sobre isso sem polêmicas”, explicou. A discussão, acrescentou, deve ser “fundamentada na fé, nas Escrituras, na cristologia”.

“Do ponto de vista cristão, a antropologia divorciada da cristologia é manca e incompleta. E quando a Igreja fala sobre essas questões, ela precisa falar daquilo que é seu tesouro particular de discernimento, que é um discernimento cristocêntrico”.

Embora o ensinamento da Igreja sobre sexualidade nem sempre seja algo fácil de abordar, Varden disse esperar que as pessoas “falem sobre isso na mesa de jantar”.

“Essa é outra coisa realmente importante que falamos através das gerações sobre essas coisas. Gerações diferentes falam línguas diferentes, mas quando se trata de questões de sexualidade, quando há uma grande mudança cultural, corremos o risco de não estarmos mais falando uns com os outros”, disse.

Ele disse que os bispos não podem forçar as pessoas a ter essas conversas, mas podem convidá-las.

“É difícil falar, por isso precisamos praticar”, sublinhou.

“Há a característica espiritual do momento oportuno, e é importante tentar encontrar o momento oportuno”, aconselhou o bispo.

“Nossos tempos tentam isolar esse tema e discuti-lo em uma bolha. Isso acaba sendo complicador e limitante”, disse.

Varden disse que, ao publicarem a carta, os bispos esperavam que ela fosse um catalisador para mais discussões em famílias, grupos e paróquias.

“Isso vai depender muito das iniciativas locais. Há um certo risco de que as cartas pastorais dos bispos não sejam o que as pessoas irão continuar a ler durante o ano”, disse.

Na diocese de Trondheim, Varden encorajou seus padres e catequistas a incorporarem o conteúdo da carta em sua pregação, ensino e trabalho com os jovens.

Varden também vai produzir uma série de episódios de podcast semanais de cinco a dez minutos em inglês sobre sexualidade e outros tópicos. Eles estarão disponíveis online via streaming após a Páscoa.

Ele disse que também irá retomar o tema em algumas de suas outras palestras e catequeses.

O bispo também irá publicar um livro no verão sobre tópicos relacionados e que “explique as implicações do que os bispos disseram”.

“Outra noite, conheci um grupo de estudantes e nos sentamos à mesa para conversar sobre castidade, imagine só, e é ótimo poder fazer isso de uma forma que não seja meramente prescritiva, mas que seja baseada na fé e na teologia e fundamentada em questões reais e complexidades reais. Os católicos precisam falar sobre esse tema simplesmente porque é fundamental”, disse Varden.

 

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