O Comissário Pontifício do Instituto do Verbo Encarnado (IVE), cardeal Santos Abril y Castelló, enviou uma carta aos seus membros na qual estabelece uma série de medidas.

A carta de 19 de abril chegou aos membros do IVE quatro dias antes da morte do fundador do Instituto, padre Carlos Miguel Buela, ocorrida no domingo (23).

O padre, também fundador do Instituto Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, foi acusado em 2010 de abusos sexuais e de poder contra membros da instituição, por isso foi afastado de qualquer função governamental e enviado para um mosteiro.

O cardeal Santos Abril recorda em sua carta que em 25 de março de 2013, o papa Francisco havia confirmado as proibições impostas pelo papa Bento XVI, para que o padre Buela não tenha ingerência no governo e na gestão do Instituto.

Com cerca de 40 anos de fundação, o IVE e o Instituto Feminino estão em missão nos cinco continentes, em 93 jurisdições eclesiásticas de 44 países, onde contam com quase três mil religiosos, distribuídos nos ramos apostólico e monástico.

Eles servem em diversos lugares onde os cristãos são minoria ou onde a situação é difícil, como Palestina, Iraque e Ucrânia.

Na carta, o cardeal destaca a importância da vida comunitária e diz: “Os dados que os Superiores Provinciais nos enviaram mostram a existência de numerosas presenças, cerca de 70, que dificilmente podem ser chamadas de comunidades, com apenas um ou dois religiosos”, e que há outras presenças que “nem sequer estão erigidas canonicamente”, contrariando o que estabelece o Código de Direito Canônico (cc. 608-611).

“Esta situação afeta gravemente a vida do Instituto”, diz o cardeal, de 87 anos, que recorda que, segundo o número 353 das Constituições do IVE, é imprescindível ter pelo menos três membros nas comunidades.

A carta também diz que quando o número 354 das Constituições "afirma que em cada comunidade local haverá um sacerdote (superior local) assistido, a menos que não seja possível, por um Conselho de quatro membros, pensa-se que o normal seriam comunidades de ao menos 5 religiosos”.

As comunidades com poucos religiosos, continuou o cardeal espanhol, "afetam seriamente a qualidade de sua vida fraterna em comum, quando não impossibilitam viver esta dimensão comunitária: as atividades se multiplicam, há uma sobrecarga de trabalhos, de responsabilidades", o que vai “afetando a situação pessoal e vocacional dos religiosos”.

O cardeal espanhol também diz que, com a "informação ainda incompleta, quase 275 religiosos, a maioria sacerdotes, deixaram o Instituto: 125 reduções ao estado laical, 52 incardinações em diferentes dioceses, 5 processos no (Dicastério para a) Doutrina da Fé, 11 expulsões e quase 50 exclaustrações simples”.

“Além disso, mais de 30 dispensas de votos temporais e perpétuos concedidas apenas nos quatro anos deste último Comissário”.

Diante desta situação, o cardeal pede aos Conselhos Provinciais que iniciem “um processo de revisão e requalificação” para ter ao menos três religiosos professos perpétuos em cada comunidade.

O resultado do processo deve ser apresentado ao Comissário até 31 de agosto.

Três proibições

Em meio a diversas medidas relacionadas com a vida do instituto para o seu bom funcionamento, o cardeal Santos Abril estabelece como primeira proibição que não se façam novas fundações ou pré-fundações.

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Também estabelece que as fundações em andamento ou feitas desde 29 de junho de 2019 “devem ser suprimidas, por terem sido feitas contra o que está estabelecido nas Constituições 322: a necessária aprovação do Comissário Pontifício com seu Conselho”.

Uma segunda proibição é a impossibilidade de fazer transferências, sem a permissão por escrito do comissário, de noviços ou religiosos fora de suas províncias de origem.

Isso porque, nos últimos quatro anos, "todas as transferências foram feitas de forma ilegal, contra as regras do Instituto".

A terceira proibição refere-se a não permitir que os religiosos passem da vida apostólica à vida monástica, e vice-versa.

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No plano de revisão dos mosteiros, que também deve ser apresentado antes de 31 de agosto, o cardeal recorda que, de acordo com a legislação atual, para estabelecer novas fundações de vida contemplativa, são necessários "cinco religiosos professos, pelo menos três com votos perpétuos", e que "para a ereção canônica deve haver pelo menos oito religiosos com votos perpétuos".

O cardeal lamenta que tenha tomado conhecimento das transferências "sempre como algo do passado, e graças à informação enviada por alguns religiosos, nunca pelos Provinciais".

Por isso, recordou "aos Superiores Provinciais seu voto de obediência e a obrigação que têm de respeitar e cumprir, em primeiro lugar, as normas das Constituições e Diretórios".

Nesse sentido, os provinciais devem sempre informar o comissário sobre os movimentos de sacerdotes dentro da província e quando eles assumem novos apostolados.

Um chamado de atenção

O cardeal espanhol continua dizendo que o que está escrito na carta "mostra que depois de 30 anos de intervenções da Santa Sé, e sendo o quarto Comissário Pontifício, pouco mudou".

O cardeal lamenta que em março, sem seu conhecimento ou permissão, tenha acontecido uma reunião com o padre Buela em Acilia, Itália, "um fato realmente grave" por causa das restrições impostas a ele e porque foi "em uma casa sob minha jurisdição direta como Comissário Pontifício", e encoraja os membros do Instituto a serem obedientes.

Para concluir, o comissário diz que tudo isso é feito com a melhor das intenções, para continuar "trabalhando para o bem do IVE e da Igreja".

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