MANÁGUA, 29 de mai de 2023 às 12:05
O governo de Daniel Ortega ordenou o bloqueio das contas bancárias de várias dioceses e paróquias da Nicarágua, segundo denunciaram defensores dos direitos humanos, padres e meios de comunicação.
Até a publicação desta matéria, nem a Conferência Episcopal da Nicarágua nem os bispos do país emitiram um comunicado oficial.
Segundo disseram fontes eclesiásticas ao jornal 100% Noticias, o cardeal Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, na capital do país, tentou sem sucesso acessar as contas desde a noite da quinta-feira (25). Segundo a revista Expediente Público, quando o cardeal Brenes foi questionado sobre o assunto, ele respondeu: “estamos vendo como resolver a situação”.
Na noite de sexta-feira (26), a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, entrou em contato com fontes nicaraguenses próximas à Igreja no país.
Martha Patricia Molina, advogada e autora do estudo "Nicarágua: uma igreja perseguida?", disse que a "informação que alguns religiosos têm é que as contas estão congeladas, não há acesso".
Félix Maradiaga, ex-candidato presidencial na Nicarágua e presidente da Fundação Libertad, confirmou à ACI Prensa o congelamento das contas.
“O bloqueio começou com duas das dioceses mais importantes da Nicarágua, que são a diocese de Matagalpa, no norte da Nicarágua, e a diocese de Estelí. A diocese de Matagalpa é a minha diocese, precisamente a do nosso bispo dom Rolando Álvarez, condenado injusta e arbitrariamente a 26 anos de prisão”, disse o ativista na sexta-feira (26)
Maradiaga, que também é ex-preso político e opositor do regime, disse saber "que outras contas bancárias de organizações católicas, como escolas, universidades e centros de atendimento a pessoas vulneráveis, também foram congeladas".
“Por exemplo, na cabeceira da Região Autônoma da Costa Sul do Caribe, na cidade de Bluefields, existem algumas organizações católicas que também receberam a mesma notificação do sistema financeiro nacional”, continuou.
O político nicaraguense disse que, durante a sexta-feira (26), a Fundação Libertad recebeu a mesma informação de mais constituintes e municípios do país.
“Uma das questões que não está clara é o que acontece com esses fundos, que são fundos que pertencem à Igreja, que foram obtidos com as contribuições dos leigos e esses fundos estão congelados neste momento”, disse.
O padre Erick Díaz, da diocese de Matagalpa que está exilado e atua na diocese de Chicago, EUA, disse à ACI Prensa na noite de sexta-feira que o ocorrido "agrava ainda mais a situação da Igreja porque já não conseguirá sustentar suas instituições, nem mesmo pagar por seus serviços básicos”.
"Isso é uma morte financeira para a Igreja parar de funcionar", disse.
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Maradiaga disse que “este é mais um ataque frontal contra a Igreja Católica e um ato perverso de perseguição religiosa que revela as verdadeiras intenções do regime: que é silenciar a voz profética e pastoral da Igreja”.
“Mas, além disso, tentar eliminar também a presença institucional católica na Nicarágua”, acrescentou.
Molina disse, em entrevista à ACI Prensa, que “não é a primeira vez que as contas religiosas são congeladas e seus bens confiscados”.
"No entanto, nunca aconteceu de forma tão massiva. Então acho que devemos esperar pelas próximas horas para ver qual é o primeiro pronunciamento da Conferência Episcopal da Nicarágua", disse.
Para a pesquisadora nicaraguense, o congelamento das contas “afetaria seriamente cada uma das paróquias e dioceses, porque lembramos que elas têm sua própria dinâmica e suas próprias despesas, seus serviços administrativos básicos”.
"Tudo isso causaria um desastre financeiro", concluiu.
Na semana passada, o regime de Ortega e de sua mulher a vice-presidente, Rosario Murillo, ordenou à Polícia Nacional a intervenção de três padres católicos. O último deles, o padre Jaime Iván Montesinos Sauceda, foi preso em 23 de maio e posteriormente acusado de “ter cometido atos que atentam contra a soberania, independência e autodeterminação da nação”.
Nos últimos cinco anos houve ao menos 529 ataques de Ortega contra a Igreja, 90 deles foram cometidos em 2023, segundo o relatório "Nicarágua: uma igreja perseguida?"
Entre os ataques, o documento cita a prisão injusta de dom Rolando Álvarez, desde fevereiro. Também relata 32 religiosas expulsas do país, sete igrejas confiscadas pelo regime e vários meios de comunicação fechados.
Confira também:
Fundação ACN pede para não ser indiferente diante de perseguições religiosas na América Latina https://t.co/UF3GNcyITr
— ACI Digital (@acidigital) May 26, 2023