NOVA DELHI, 27 de jul de 2023 às 16:19
A Conferência dos Bispos Católicos da Índia (CBCI) concluiu na segunda-feira (24) uma visita a Manipur, estado do noroeste do país, onde a violência étnica causou a morte de dezenas de cristãos e a destruição de centenas de igrejas e edifícios desde o início de maio.
Durante uma visita de dois dias, entre 23 e 24 de julho, a delegação da CBCI, liderada por seu presidente, o arcebispo Andrews Thazhath, doou alimentos às vítimas e preparou uma análise da situação.
Num comunicado divulgado após a visita, os bispos indianos condenaram "todas as formas de violência, atrocidades e ataques", e manifestaram a sua profunda preocupação "pela situação atual e pelo futuro daqueles que fugiram desses lugares" e temem "pelo futuro de seus filhos.
O Vatican News informou na segunda-feira (24) que desde 3 de maio de 2023, ao menos 160 pessoas foram mortas em Manipur, dezenas de milhares foram deslocadas e até 349 igrejas e instituições foram destruídas ou danificadas por causa de confrontos étnicos entre o povo hindu Meitei e o comunidade cristã Kuki.
A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, na sigla em inglês) disse que os ataques têm como ponto de partida o pedido do grupo Meitei para ser incluído na lista de "Tribos Registradas na Índia", sendo formalmente reconhecido pela legislação nacional.
Isso “rapidamente se transformou em ataques contra as tribos cristãs das colinas, os Kuki e os Naga. Os violentos ataques dos grupos militantes Meitei causaram o incêndio de aldeias inteiras, a morte de mais de uma centena de civis Kuki inocentes e a destruição de igrejas católicas e protestantes”, diz o relatório de 17 de julho, compartilhado com ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI.
A delegação da CBCI diz ainda que a sua delegação teve a oportunidade de visitar várias áreas afetadas e de conhecer em primeira mão “a destruição em larga escala de casas particulares, igrejas/locais de culto, escolas e instituições em vários locais ao longo do caminho”.
A delegação não hesita em denunciar o “silêncio prolongado e a apatia das forças da ordem em conter a violência”.
“Apelamos a todos os interessados para que entrem no processo de diálogo e se concentrem no desenvolvimento de todos os setores da população para alcançar a paz e a harmonia na Índia e em particular no estado de Manipur”, pede.
Um dos muitos ataques contra templos cristãos ocorreu no dia 3 de maio contra a paróquia de São Paulo, segundo um relatório da diocese de Imphal recebido pela ACN.
Neste caso, várias pessoas do povo Meitei invadiram a paróquia e o centro de formação pastoral de São Paulo, em Sangaiprou.
“Por volta das 20h30, uma multidão chegou e começou a vandalizar e destruir a igreja e as propriedades nela. Quebraram os vidros das janelas, as portas, o interior da igreja, as estátuas, os crucifixos, os aparelhos de som, os instrumentos musicais e tudo o que havia na igreja, e incendiaram o altar”, diz o relatório.
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Os fiéis foram obrigados a apresentar prova de identidade e mostrar que não pertenciam à comunidade Kuki. No dia seguinte, apesar de não terem conseguido verificar a presença de membros da etnia rival, os agressores voltaram a atacar o templo, provocando a destruição quase total do imóvel.
Segundo o relatório recebido pela ACN, "durante todo este tempo não houve cobertura de segurança", apesar das repetidas tentativas de contato com a polícia.
Situação semelhante ocorreu na paróquia do Santo Redentor, em Canchipur. Segundo a ACN, um grupo de pessoas não identificadas entrou à força e, “após destruir as portas, janelas e mobiliário da igreja, os assaltantes incendiaram o templo”.
Novamente, neste caso, as forças de segurança não prenderam os agressores, apesar de estarem no local quatro agentes da polícia.
A Índia é um governo parlamentar com uma forte maioria hindu.
Segundo o relatório da Comissão dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF) de 2023, cristãos e muçulmanos enfrentam violência constante de turbas e destruição de casas, igrejas e propriedades, tudo isso passando despercebido pelo governo indiano.
As leis anticonversão em todo o país punem aqueles que se convertem do hinduísmo para outras religiões ou crenças com multas e penas de prisão.
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