Lisboa, 3 de ago de 2023 às 15:52
Diante de centenas de milhares de jovens reunidos no Parque Eduardo VII, o papa Francisco pronunciou um discurso emotivo no qual refletiu sobre o chamado pessoal de Deus a cada um dos jovens presentes.
O papa Francisco recordou a todos que Deus os ama como som, não como “gostariam de ser” e ressaltou que na Igreja há espaço para todos.
A seguir, o texto completo do discurso do papa Francisco na cerimônia de acolhimento da JMJ Lisboa 2023:
Queridos jovens, boa tarde!
Sede Bem-vindos e obrigado por estardes aqui. Fico feliz por vos ver e também por escutar o simpático barulho que fazeis, contagiando-me com a vossa alegria. É bom estarmos juntos em Lisboa: para aqui fostes chamados por mim, pelo Patriarca, a quem agradeço as suas palavras, pelos vossos Bispos, sacerdotes, catequistas e animadores. Agradeçamos a todos os que vos chamaram e a todos os que trabalharam para possibilitar este encontro, e o fazemos com um forte aplauso. Mas, sobretudo, foi Jesus quem vos chamou: agradeçamos-Lhe! Agradeçamos a Jesus com outro forte aplauso.
Vós não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-vos, não só nestes dias, mas desde o começo da vida. Sim, Ele chamou-vos pelo nome. Escutamos a Palavra de Deus que vos chamou por seus nomes. Tentai imaginar estas três palavras escritas em letras grandes e, em seguida, pensai que estão escritas dentro de vós, nos vossos corações, como que formando o título da vossa vida, o sentido do que sois: tu és chamado pelo nome, tu és chamada pelo nome, eu sou chamado pelo nome. Pensemos nisso: fostes chamados pelo vosso nome, tu, tu, tu, aqui todos nós, eu, fomos chamados pelo nosso nome, não fomos chamados automaticamente.
Fomos chamados pelo nome, pensemos nisso. Jesus me chamou por meu nome. São palavras escritas no coração e depois, pensemos que estão escritas dentro de cada um de nós.
Ao princípio da trama da vida, antes dos talentos que temos, antes das sombras e das feridas que carregamos dentro de nós, nós fomos chamados. Fomo chamados, por quê? Porque somo amados. Fomos chamados porque somos amados. Que lindo.
Aos olhos de Deus somos filhos preciosos, que Ele cada dia chama para abraçar e encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única e original, cuja beleza mal conseguimos vislumbrar.
Queridos jovens, nesta Jornada Mundial da Juventude, ajudemo-nos a reconhecer esta realidade essencial: sejam estes dias ecos vibrantes da chamada amorosa de Deus, porque somos preciosos a seus olhos, apesar do que às vezes os nossos olhos veem, enevoados pela negatividade e ofuscados por tantas distrações.
Que sejam dias em que o meu nome, o teu nome, através de irmãos e irmãs de muitas línguas e nações que o pronunciam com amizade, ressoe como uma notícia única na história, porque único é o pulsar do coração de Deus por ti. Sejam dias para fixar no coração que somos amados tal como somos. Não como gostaríamos de ser. Como somos agora. Este é o ponto de partida da JMJ, mas sobretudo da vida.
Jovens, rapazes e moças, somos amados como somos, entendam isso. Vocês entendem isso? E somos chamados pelo nome de cada um de nós: não é um simples modo de dizer, é Palavra de Deus (cf. Is 43, 1; 2 Tm 1, 9). Amigo, amiga, se Deus te chama pelo nome significa que, para Ele, nenhum de nós é um número, mas um rosto, uma cara, um coração.
Quero fazer-te notar uma coisa: muitos, hoje, sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome. Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado.
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Quantos lobos se escondem por trás de sorrisos de falsa bondade, dizendo que conhecem quem és, mas sem te querer bem, insinuando que creem em ti e prometendo que serás alguém, para depois te deixarem sozinho, quando já não lhes fores útil. São as ilusões do mundo virtual e devemos estar atentos para não nos deixarmos enganar, porque muitas realidades que nos atraem e prometem felicidade mostram-se depois pelo que são: coisas vãs, bolhas de sabão, supérfluas, coisas que não servem, substitutos que deixam o vazio interior. Jesus, não! Jesus não é assim. Ele tem confiança em ti, para Ele tu contas. Para Jesus cada um de vocês é importante. Esse é Jesus.
E assim nós, sua Igreja, somos a comunidade dos chamados: não somos a comunidade dos melhores, não, somos todos pecadores, mas somos chamados, assim como somos. Pensemos um pouquinho nisso, no coração: Somos chamados como somos, com os problemas que temos, com as limitações que temos, com a nossa alegria, com a nossa vontade de ser melhor, com a nossa vontade de vencer, somos chamados como somos. Pensemos nisso, Jesus nos ama como somos, não como gostaria de ser.
Somos a comunidade dos irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai. Amigos, gostaria de ser claro com vocês que são alérgicos às falsidades e a palavras vazias. Na Igreja há espaço para todos, para todos. Na Igreja ninguém sobra, ninguém está demais, há espaço para todos. Assim como somos, todos. Isso Jesus o disse claramente, quando manda os apóstolos para chamar para o banquete que esse senhor havia preparado, Ele disse saiam e tragam a todos. Jovens e velhos, saudáveis e doentes, justos e pecadores, todos, todos. Na Igreja há lugar para todos. ‘Ah eu sou um desgraçado, uma desgraçada, tem lugar para mim? Há lugar para todos, todos juntos. Cada um em sua língua, repita comigo, todos, todos, todos. Não se ouve, outra vez! Todos, todos, todos. Essa é a Igreja, a mãe de todos, e há lugar para todos!
E o Senhor não aponta para nós com o dedo, mas abre os seus braços. É curioso. O Senhor não sabe fazer isso, mas faz isso, abraça-nos a todos, isso mostra-nos Jesus na cruz, que abriu os braços para ser crucificado e morrer por nós.
Jesus nunca fecha a porta, nunca, mas convida a entrar: Entre e veja. Jesus recebe, Jesus acolhe. Nestes dias, cada um de nós transmite a linguagem de amor de Jesus: Deus te ama, Deus te ama. Que lindo que é isso. Deus me ama, Deus me chama, quer que esteja perto d’Ele.
Nesta tarde, vós também me fizestes perguntas, muitas perguntas. E perguntar, é bom; nunca se cansem de perguntar. Fazer perguntas é bom, aliás muitas vezes é melhor que dar respostas, pois quem pergunta permanece «inquieto» e a inquietude é o melhor remédio contra a rotina, às vezes uma espécie de normalidade que anestesia a alma. Cada um de nós tem as suas interrogantes dentro, levemos estas interrogantes conosco e levemo-la no diálogo comum entre nós e levemo-la quando rezamos diante de Deus. Essas perguntas que com a vida vão se dando respostas que só temos que esperar. Uma coisa muito interessante. Deus ama por surpresa. O amor de Deus é surpresa. Sempre surpreende. Sempre nos mantém alertas e nos surpreende.
Queridos jovens, rapazes e moças, vos convido a pensar isso tão belo, que Deus nos ama, que Deus nos ama como somos, não como gostaríamos de ser ou a sociedade gostaria que fôssemos, mas como somos. Ama-nos com os defeitos que temos, com as limitações que temos e com a vontade que temos de seguir adiante na vida. Deus nos chama assim. Confiem, porque Deus é Pai, e é um Pai que gosta de nós e Pai que nos ama. Isso não é muito fácil e para isso nós temos uma grande ajuda da Mãe do Senhor, que é a nossa Mãe também. Ela é a nossa Mãe.
Somente era isso o que eu gostaria de dizer, não tenham medo, tenham coragem, sigam adiante, sabendo que estamos amortizados pelo amor que Deus tem por nós. Deus nos ama. Digamos isso todos juntos: Deus nos ama! Mais forte que eu não ouço! Não se ouve aqui. Obrigado, Adeus.
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