Lisboa, 5 de ago de 2023 às 07:14
“Uma Jornada Literária Inesperada”, este foi o título do projeto levado por um padre, seminaristas e jovens de Brasília para o Festival da Juventude da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023. Em duas sessões na jornada e uma nos Dias nas Dioceses, eles abordaram a relação entre literatura e religião, através dos escritores J.R.R. Tolkien e Dante Alighieri.
“Nossa ideia é um projeto continuado de inserção literária no nível cristão-católico, de formação da juventude, de nossos adultos, na expectativa de evangelizar, dando a eles uma capacidade de um imaginário bem formado e, a partir de um imaginário bem formado poder apresentar Jesus Cristo concreto”, disse a ACI Digital o idealizador do projeto, padre Cássio Selaimen Dalpiaz, que faz mestrado na área de Literatura Comparada, na Universidade de Brasília. Do ensino no seminário, o sacerdote começou um trabalho de extensão universitária.
Segundo ele, “esse projeto nasceu da experiência docente com alunos dos propedêuticos da arquidiocese de Brasília, no ensino de literatura”. “A experiência de perceber nos alunos, os seminaristas, que eles pegaram o gosto pela leitura e, a partir disso passaram a desenvolver trabalhos seja na Filosofia, seja na Teologia, ligados a aspectos literários, me fez perceber que o incentivo à leitura é uma coisa necessária e que gera muitos frutos”, disse.
Então, pensou em levar o projeto para a JMJ. “Nesse meio tempo, havia um grupo de seminaristas que disseram que se eu fizesse um grupo, eles queriam vir para a jornada. Falei: vamos com um projeto literário. Todos toparam”.
Para custear a viagem, o grupo começou a fazer eventos literários em Brasília, cobrando ingresso. “Fizemos em locais como em uma hamburgueria ou outros, procuramos pessoas que nos ajudassem, que abrissem espaço para o projeto. E o mais bacana foi que cada vez que fazíamos uma vez por mês esse evento, as pessoas diziam que tínhamos que fazer outro”.
“Assim, o mesmo trabalho que comecei fazendo com os seminaristas, de um momento lúdico, no formato ted talks, com falas de dez minutos, junto com interpretação de poesias, começou a se ter um público cativo e mais pessoas se aproximavam do projeto”, disse o padre Dalpiaz.
Segundo o sacerdote, a ideia inicial era fazer na JMJ uma toca de hobbit, pois seu “foco de pesquisa é em Tolkien”. Mas, decidiram “associar Dante Alighieri, um clássico propriamente católico”.
Em Coimbra, houve uma atividade menor, “como uma prévia”, no seminário maior. Lá, alguns especialistas abordaram o tema “Uma Jornada pelos Clássicos, ou Contemplando a Beleza sobre os ombros de Gigantes”.
Já no Festival da Juventude da JMJ, houve uma sessão no dia 1º, no auditório do Museu dos Coches, que também reuniu especialistas que falaram sobre o tema “Entre elfos e magos, uma experiência de fé com a literatura de Tolkien”. Outra sessão, no dia 3, no mesmo local, contou com a exposição de painéis, caracterização de personagens, contação de histórias, ambientação musical e espacial.
O padre Dalpiaz contou que na última sessão fizeram um paralelo entre dois cegos dos evangelhos e Dante e Tolkien. “O primeiro cego é aquele que está sentado pedindo esmola e grita para Jesus ter piedade dele, que é a imagem um pouco de Dante quando está entrando no inferno e gritando ‘piedade de mim’. O outro cego é aquele cego de nascença que Jesus passa e joga terra em seus olhos e depois manda que vá lavar. Este cego está sentado lá, pedindo esmola, mas nunca viu nada, então, está bem. É a imagem do Bilbo Bolsero, da obra de Tolkien, que está no Condado e Gandalf bate à porta dele e diz ‘vamos para uma aventura’, mas ele responde que não quer uma aventura”.
Da literatura à fé
O padre Cássio Daliaz disse que, atualmente, “a juventude é muito ferida, seja pelo ‘feísmo’, que é uma tendência mundial na arte, mas também pela pornografia, que é uma pandemia que fere muito o imaginário das pessoas, e também pelo excesso de tela, de imagens, super produções”.
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“A tecnologia avançou, o homem é o mesmo, mas a capacidade a apreensão não é a mesma, porque, com a aceleração de todas as informações que recebemos a cada segundo, somos já incapazes de fazer leituras profundas, de parar e contemplar”, declarou.
O sacerdote destacou que contemplar “é subir até o templo”. E, “do alto, tenho uma surpresa, não vejo o imediato, mas a perspectiva. Nessa capacidade de contemplar, de olhar desde o templo, vejo que a história é uma história de Salvação, não é de perdição, não é uma história de erros, mas uma história de amor de Deus, que manifesta em nossas vidas esse amor”.
Para que a literatura possa ser também um instrumento de evangelização dos jovens, o padre Dalpiaz disse que é necessário “ensiná-los a ler”.
“O que fazemos diante de uma cultura do ‘feísmo’? Vamos apresentar o belo. Não vou dizer que o feio não é bom, é proibido. Eu vou apresentar o belo e o belo vai atrair por si só. Diante de uma literatura muito superficial, posso apresentar uma literatura melhor e maior”, disse.
Com isso, disse, é possível ajudar o jovem “a formar o imaginário, formar consciência, ter bons modelos e, a partir dos bons modelos, convidá-los a mais”.
Neste processo em que apresenta a literatura, o padre Dalpiaz disse que se está ajudando o jovem “a formar o que podemos chamar de pré-religioso”. “A literatura tem este meio de ajudar a formar para em cima poder dar a boa nova”, acrescentou.
O passo seguinte, segundo o sacerdote, “é seguir com literatura maior”. “Por exemplo, se apresento Tolkien de um lado, apresento depois Dante Alighieri, que faz o caminho do purgatório, céu e inferno. Esta caminhada que Dante faz é uma caminhada que eu posso ir fazendo junto com ele e ir descobrindo as virtudes, vou descobrindo as graças e, junto com isso, vou descobrindo a sede por mais”.
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