Violência e destruição tomaram conta de Jaranwala, Paquistão, ontem (16), por causa da acusação de que dois cristãos locais fizeram pouco do Alcorão, livro sagrado para os muçulmanos, o que é considerado blasfêmia no Paquistão e pode ser punido com prisão perpétua.

 

Pelo menos 15 igrejas foram profanadas, centenas de cristãos tiveram suas casas destruídas, e cerca de 2 mil cristãos foram forçados a fugir por causa dos ataques, segundo um comunicado de Maria Lozano, chefe de imprensa da Ajuda à Igreja que Sofre (ACN Internacional) publicado ontem (16).

 

Os ataques em Jaranwala aparentemente foram encorajados por uma mensagem de líderes islâmicos transmitida em alto-falantes de mesquitas, segundo o grupo de direitos religiosos Christian Solidarity Worldwide (CSW).

 

Lozana disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, que testemunhas relataram “mensagens transmitidas em auto-falantes de mesquitas encorajaram locais a ‘saírem e matarem’ cristãos”. Ela disse que os ataques causaram um “êxodo em massa”.

 

Entre as igrejas que foram saqueadas e incendiadas estava a igreja católica de são Paulo, segundo a rede de notícias Al Jazeera.

 

O padre Abid Tanveer, vigário-geral da diocese católica de Faisalabad e testemunha ocular dos ataques, disse à ACN Internacional que “os cristãos estão muito assustados” e que “muitas pessoas perderam seus pertences, tudo. Eles não sabem o que fazer ou para onde ir”.

 

“A chegada dos bombeiros e da polícia não dissuadiu os agressores, que continuaram a destruir propriedades, jogar móveis nas ruas e incendiar igrejas e casas, enquanto gritavam pelo assassinato dos supostos blasfemos”, acrescenta Lozano.

 

“Apesar da destruição generalizada e do choque causado pelo incidente”, Lozano disse que “atualmente não há indícios de vítimas entre os membros da comunidade cristã, que “parecem ter conseguido fugir do local porque foram avisados ​​com antecedência”.

 

Ao documentar a destruição de ontem (16), um líder da Igreja Protestante do Paquistão, o bispo Azad Marshall, descreveu a comunidade cristã em Jaranwala como “profundamente triste e angustiada”.

 

“Uma igreja está sendo queimada enquanto digito esta mensagem”, escreveu Marshall. “As Bíblias foram profanadas e os cristãos foram torturados e assediados por terem sido falsamente acusados ​​de violar o Alcorão sagrado.”

 

Leis de blasfêmia atiçam as chamas do ódio anticristão

 

Os ataques em Jaranwala ocorreram após a aprovação de novas leis de blasfêmia no Paquistão.

 

As atuais leis de blasfêmia do Paquistão determinam prisão perpétua por profanar ou insultar o Alcorão, e a punição por profanar o nome de Maomé ou de outros profetas muçulmanos é a morte.

 

A Lei de Leis Criminais de 2023, aprovada por ambas as casas do parlamento paquistanês, mas ainda não sancionada, aumentaria ainda mais a punição por insultar qualquer esposa, membro da família ou companheiro de Muhammad à prisão perpétua.

 

Kiri Kankhwende, representante da CSW, disse à CNA que provavelmente “esses ataques não têm ligação com a aprovação das novas emendas à lei de blasfêmia, que ainda não recebeu aprovação presidencial” e ainda não está em vigor.

 

No entanto, Kankhwende disse que “já vimos esse padrão antes” e que “este pode ser um caso de leis de blasfêmia sendo usadas para acertar contas pessoais”.

 

Cristãos acusados ​​de violar leis de blasfêmia

 

Segundo a CSW, em meio aos ataques em Jaranwala, a polícia apresentou denúncias contra dois cristãos por supostamente violarem as leis de blasfêmia do Paquistão.

 

A CSW também disse que “os residentes locais expressaram sua crença” de que “se a polícia tivesse agido a tempo, a situação não teria piorado”.

 

“Desde então, o governo convocou contingentes policiais adicionais de outras cidades e convocou os Rangers, policiais federais do Paquistão, para subjugar a multidão”, disse a CSW. “Os pontos de entrada e saída da cidade foram selados, enquanto as instituições cristãs e igrejas nas cidades vizinhas foram fechadas na tentativa de evitar novos ataques”.

 

As várias leis anti-blasfêmia do Paquistão receberam condenação internacional e foram criticadas por aumentar a perseguição e visar cristãos e outras comunidades minoritárias, incluindo muçulmanos xiitas.

 

“Embora metade das vítimas sejam muçulmanas, as leis de blasfêmia vitimam desproporcionalmente as minorias religiosas, e estudos repetidos mostraram que elas são usadas como meio de intimidação ou acerto de contas em disputas privadas”, disse Paul Marshall, chefe da Equipe de Ação do Sul e Sudeste Asiático do Instituto de Liberdade Religiosa, à CNA após a aprovação das novas leis de blasfêmia.

 

“O aumento proposto em tais leis irá aumentar o clima de medo religioso que já domina as minorias”, explicou Marshall.

 

A última lei anti-blasfêmia aprovada pelo parlamento paquistanês se aplicaria a qualquer pessoa que direta ou indiretamente “contaminar o nome sagrado” de qualquer esposa, membro da família ou companheiro de Maomé por meio de palavras escritas, faladas, representação visível, imputação, insinuação ou insinuação.

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