O vice-porta-voz do departamento de Estado dos EUA, Vedant Patel, condenou ontem (17) a recente expropriação de uma universidade gerida por jesuítas na Nicarágua e pediu pela liberação de prisioneiros políticos no país, incluindo dom Rolando Álvarez.

 

“A expropriação da faculdade jesuíta Universidade Centro-Americana representa mais erosões das normas democráticas e um espaço cívico abafado. Esse é um importante centro de excelência acadêmica, pensamento independente e uma esperança para [o] futuro na Nicarágua”, disse Patel em resposta a uma pergunta sobre a situação feita por Owen Jensen, correspondente da “EWTN News Nightly”.

 

“Os EUA condenam a repressão em curso a figuras e instituições religiosas feita pelo regime e pedem pela liberação imediata e incondicional de indivíduos de consciência presos na Nicarágua, incluindo o bispo Álvarez”, continuou Patel.

 

“A decisão é mais um sinal de que Ortega e Murillo continuam a abraçar o autoritarismo e minar todas as instituições independentes na Nicarágua, incluindo o bispo Álvarez. Apesar de seus esforços, eles não podem extinguir a liberdade de pensamento e vamos continuar a usar ferramentas diplomáticas e econômicas para responsabilizá-los por tais atos”.

 

Jensen também perguntou se o governo dos EUA sabia se Álvarez ainda estava vivo ou não, ao que Patel respondeu que não tinha mais nenhuma avaliação a oferecer além do apelo contínuo pela libertação do bispo.

 

A ditadura do presidente Daniel Ortega na Nicarágua confiscou na terça (15) todos os bens e contas bancárias da Universidade Centro-Americana (UCA), administrada pela Companhia de Jesus (jesuítas), acusando a escola de “terrorismo”.

A universidade confirmou a ação do governo em um e-mail compartilhado na quarta (16) na rede social X por Arturo McFields Yescas, ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos (OEA).

Em sua mensagem à comunidade universitária, a UCA informou que, em 15 de agosto, a Décima Vara Criminal de Manágua anunciou “a apreensão de bens imóveis, móveis, dinheiro em moeda nacional ou estrangeira de contas bancárias bloqueadas, produtos financeiros em moeda nacional ou estrangeira de propriedade da UCA.

O tribunal também decidiu que a partir de agora o regime será responsável por “todos os programas educacionais”.

Em seu e-mail, a UCA disse que as medidas foram tomadas com base em “alegações infundadas” de que “funcionava como um centro de terrorismo, organizando grupos criminosos”.

“Diante de tudo isso, a Universidade Centro-Americana reafirma seu compromisso com a sociedade nicaraguense com uma educação superior de alta qualidade, fiel aos seus princípios fundadores há 63 anos”, continua a mensagem.

Após agradecer pelas mensagens de confiança e solidariedade recebidas, a UCA anunciou que, a partir de 16 de agosto, suspende “todas as atividades acadêmicas e administrativas até que seja possível retomá-las normalmente”.

A província afirmou que “o confisco de fato da UCA é o preço a pagar pela busca de uma sociedade mais justa, protegendo a vida, a verdade e a liberdade do povo nicaraguense segundo o seu lema: A verdade vos libertará (João 8:32).”

A província destacou que esta “agressão” da ditadura liderada por Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, “não é um fato isolado”, mas sim “faz parte de uma série de ataques injustificados contra a população nicaraguense e outras instituições educacionais e sociais instituições da sociedade civil”.

A província destacou que desde abril de 2018, “como consequência de sua postura em defesa da vida das pessoas que estavam sendo reprimidas por forças estatais e parapoliciais, a UCA tem sido objeto de constante cerco, assédio e aborrecimentos por parte da instituições governamentais da Nicarágua.”

Os jesuítas enfatizaram que “é necessário e essencial” que a UCA possa “exercer o seu direito inalienável de legítima defesa contra tais acusações”.

Eles também pediram que “a medida drástica, inesperada e injusta adotada pelo corpo judicial seja imediatamente revertida e corrigida” e que “cesse a crescente agressão do governo contra a universidade e seus membros”.

Os jesuítas também apelaram à busca de “uma solução racional em que prevaleçam a verdade, a justiça, o diálogo e a defesa da liberdade acadêmica”.

“Deus é quem tem a última palavra sobre a história e também terá a última palavra sobre a Nicarágua”, disseram os jesuítas da América Central.

Fundada pela companhia de Jesus em 1960, a UCA é a primeira universidade privada da Nicarágua. Ao longo de sua história, formou gerações de profissionais e abrigou a oposição à ditadura dinástica de Somoza até o fim da ditadura em 1979. Também contribuiu para o processo de retorno à democracia na década de 1990 e denunciou as injustiças e a repressão do regime a protestos contra o governo na Nicarágua em 2018, nos quais pelo menos 300 morreram.

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