ROMA, 30 de ago de 2023 às 10:15
Após o líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana expressar “grande dor e preocupação” sobre a recente mensagem em vídeo do papa Francisco a jovens católicos russos, a Santa Sé disse que o papa não teve a intenção de exaltar o imperialismo russo.
O porta-voz da Santa Sé, Matteo Bruni, disse ontem (29) que “o papa pretendia encorajar jovens a preservar e promover o que há de positivo na grande herança cultural e espiritual da Rússia, e certamente não glorificar a lógica imperialista e personalidades do governo”.
O comunicado veio em resposta ao arcebispo-maior da Igreja Católica Ucraniana, Sviatoslav Shevchuk, sobre as palavras do papa Francisco que se referem à “grande Rússia de Pedro I, Catarina II, esse grande e iluminado império russo de muita cultura e muita humanidade”.
O papa fez o comentário ao falar de improviso durante uma videoconferência ao vivo com jovens russos na última sexta (25).
“Não se esqueçam de sua herança. Vocês são herdeiros de uma grande Rússia. A grande Rússia de santos, de reis. A grande Rússia de Pedro II [possível referência a Pedro I], Catarina II, esse grande e iluminado império russo de muita cultura e muita humanidade. Nunca neguem essa herança, vocês são os herdeiros da grande mãe Rússia, sigam em frente com isso, e obrigado, obrigado… por seu jeito de ser e por serem russos”, disse o papa Francisco antes da bênção final.
As observações foram feitas em italiano após uma sessão de perguntas e respostas do papa com os jovens, antes da bênção, e não foram incluídas na transmissão ao vivo nem na transcrição oficial do discurso do papa Francisco divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé no último sábado (26).
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As palavras do papa foram publicadas na plataforma cathmos.ru da arquidiocese de Moscou na conclusão do evento para jovens no último domingo (27).
O papa Francisco fez referência a czares russos que expandiram o império russo em séculos passados e que o presidente Vladimir Putin invocou anteriormente para justificar a invasão em grande escala da Ucrânia.
O arcebispo-maior ucraniano respondeu alarmado. “Esperamos que estas palavras do Santo Padre tenham sido ditas espontaneamente, sem qualquer tentativa de avaliação histórica, muito menos de apoio às ambições imperialistas da Rússia”, disse Shevchuk. “Existe o perigo de que estas palavras possam ser interpretadas como apoio ao próprio nacionalismo e imperialismo que causou a guerra na Ucrânia hoje – uma guerra que traz morte e destruição ao nosso povo todos os dias”.
A nunciatura apostólica na Ucrânia divulgou posteriormente uma declaração “rejeitando firmemente” a interpretação de que “o papa Francisco poderia ter encorajado os jovens católicos russos a se inspirarem em figuras históricas russas conhecidas por ideias e ações imperialistas e expansionistas que afetaram negativamente as populações vizinhas, incluindo o povo ucraniano”.
A embaixada da Santa Sé acrescentou que as palavras do papa devem ser entendidas no contexto do papa Francisco ser “um ferrenho opositor e crítico de qualquer forma de imperialismo ou colonialismo em todos os povos e situações”.
A arquidiocese de Moscou disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, que mantém o esclarecimento prestado pela sala de imprensa da Santa Sé.
Na videoconferência do papa Francisco com os jovens católicos russos, o papa exortou-os a serem pacificadores e “construtores de pontes”.
“Desejo a vocês, jovens russos, a vocação de serem artesãos da paz em meio a tantos conflitos, em meio a tantas polarizações de todos os lados, que assolam o nosso mundo”, continuou.