Num encontro com budistas, xamãs, xintoístas e outros representantes religiosos da Mongólia, o papa Francisco disse no domingo que o diálogo inter-religioso “não é antitético à proclamação”, mas ajuda as tradições religiosas a compreenderem-se umas às outras.

“Com humildade e espírito de serviço (…) a Igreja oferece o tesouro que recebeu a cada pessoa e cultura, num espírito de abertura e em respeitosa consideração pelo que as outras tradições religiosas têm para oferecer”, disse o Papa Francisco num discurso. no Hun Theatre de Ulaanbaatar hoje (3). “As tradições religiosas, apesar de toda a sua especificidade e diversidade, têm um potencial impressionante para o benefício da sociedade como um todo”.

O Papa Francisco reuniu-se com 12 líderes religiosos e representantes no centro de artes cênicas na montanha Bogd Khan Uu, com vista para a capital da Mongólia. O teatro foi construído no formato circular de uma tradicional residência nômade da Mongólia chamada ger. O reitor da única igreja ortodoxa da Mongólia, padre Antony Gusev, representou a Igreja Ortodoxa Russa na reunião.

No seu discurso, o papa Francisco citou duas vezes o Dhammapada, coleção de ditos do Buda.

“A fragrância das flores espalha-se apenas na direção do vento, a fragrância daqueles que vivem de acordo com a virtude espalha-se em todas as direções'”, disse o papa, citando o Dhammapada.

Quase 90% dos mongóis que se identificam como religiosos são budistas.

Khamba Nomun Khan, chefe do Mosteiro Gandan em Ulaanbaatar, acompanhou o Papa Francisco na sua entrada no evento de diálogo inter-religioso.

A paisagem religiosa da Mongólia foi dramaticamente alterada pelo regime comunista.

Na virada do século, havia cerca de 110 mil monges budistas e 700 mosteiros na Mongólia.

Sob o governo de partido único da República Popular da Mongólia, muitos mosteiros foram destruídos e fechados e cerca de 17 mil monges budistas foram mortos, e muitos outros renunciaram à vida religiosa.

Embora nos últimos anos o país tenha tido um modesto renascimento religioso com um movimento para reconstruir os mosteiros budistas destruídos após a queda da União Soviética, hoje cerca de 40% da população da Mongólia permanece ateia ou sem religião.

“Que a memória dos sofrimentos passados ​​– aqui penso especialmente nas comunidades budistas – conceda a força necessária para transformar as feridas escuras em fontes de luz, a violência sem sentido na sabedoria da vida, o mal devastador em bondade construtiva”, disse o papa Francisco na reunião.

Gusev, que representou a Igreja Ortodoxa Russa no evento, também recordou a perseguição que os cristãos sofreram na Mongólia no século XX.

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No seu discurso, o papa Francisco citou outra frase atribuída ao Buda: “‘O homem sábio alegra-se em dar, e só com isso se torna feliz”.

O papa também citou os escritos de Mahatma Gandhi sobre ter “pureza de coração” e do filósofo Soren Kierkegaard sobre esperança.

Depois do budismo, o islão e o xamanismo representam cerca de 5% da população mongol segundo o censo de 2020.

Segundo o xamanismo mongol, os xamãs entram em transe para se comunicar e às vezes são possuídos por seres espirituais. O sacrifício de animais, especialmente de cavalos ainda faz parte de rituais xamânicos.

D. Jargalsaikha, presidente da União Unida dos Xamãs da Mongólia, disse que os xamãs mongóis “adoram os ídolos do Céu Eterno, o Imperador Ghengis [Khan], ancestrais e pais”.

No primeiro discurso do papa aos funcionários do governo mongol, o papa disse que “a visão holística da tradição xamânica mongol, combinada com o respeito por todos os seres vivos herdado da filosofia budista, pode contribuir significativamente para os esforços urgentes e não mais adiáveis ​​para proteger e preservar o planeta.”

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Os católicos são uma pequena minoria na Mongólia: 1,5 mil católicos em 3,2 milhões de habitantes.

No evento inter-religioso, Dambajav Choijiljav, chefe do Mosteiro Budista Zuun Khuree Dashchoilin, e D. Jargalsaikhan, presidente da União Unida dos Xamãs da Mongólia, encontraram-se com o papa e fizeram um discurso.

Outros representantes religiosos presentes na reunião incluíram Adiyakhuu Oktyabri da Igreja Adventista do Sétimo Dia, um mórman e um representante da comunidade bahá'í da Mongólia.

“Gostaria de assegurar-vos que a Igreja Católica deseja seguir este caminho, firmemente convencida da importância do diálogo ecuménico, inter-religioso e cultural. A sua fé está fundamentada no diálogo eterno entre Deus e a humanidade que se encarnou na pessoa de Jesus Cristo”, disse o Papa Francisco aos líderes religiosos.

Após o evento inter-religioso, o Papa Francisco retornará à prefeitura apostólica de Ulan Bator para almoçar antes de presidir uma missa dominical à tarde na Steppe Arena da Mongólia. O papa de 86 anos fará a viagem de retorno de 11,5 horas a Roma na tarde de segunda-feira.