O novo patriarca de Lisboa, dom Rui Valério, disse que com a Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu de 1º a 6 de agosto na capital portuguesa, “morreu a vergonha de ser Igreja, de viver enclausurado no medo de aparecer e testemunhar a esperança que nos move”. Para ele, com a JMJ, morreu “a cultura do temor” e ressurgiu uma Igreja “sem medo de testemunhar a fé em Cristo”.

A afirmação foi feita ontem (3), na homilia da missa de entrada solene no patriarcado de Lisboa, celebrada no Mosteiro dos Jerónimos.

Dom Rui Valério foi nomeado patriarca de Lisboa em 10 de agosto, substituindo o cardeal Manuel Clemente, que renunciou por idade. Até então, ele era bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança.

Para dom Rui Valério, “a grande esperança da Jornada Mundial da Juventude não residiu só nem principalmente na quantidade de jovens aqui reunidos, nem apenas no entusiasmo que envolveu aqueles dias, nem o elevado nível pastoral e evangelizador que pudemos testemunhar”. Somente a missa de encerramento da JMJ, celebrada pelo papa Francisco no Parque Tejo, reuniu mais de 1,5 milhão de pessoas. Nos demais dias, cerca de 800 mil pessoas participaram dos atos centrais.

“A JMJ não representou só o encontro de jovens do mundo inteiro, Foi essencialmente o o desconfinamento espiritual da humanidade. E essa circunstância representa uma acrescida responsabilidade para não deixar esfriar a sua pujança nem mutilar o ardor do seu dinamismo”, disse o patriarca.

O patriarca falou ainda da morte “da mentalidade individualista que consagrava o indivíduo como critério absoluto da história, para emergir um profético sentido de pessoa, que afirma que o ser humano é um ser em relação e que é na relação que se constrói a sua identidade de filho de Deus de irmão de cada um”.

Disse que “morreu ainda uma forma de ser Igreja que o papa Francisco apelida de clericalismo. Renovou-se a consciência da comunidade cristã ser a totalidade do povo de Deus”.

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Dom Valério destacou que a “Igreja é para todos”. Segundo ele, “a sinodalidade que emergiu em cada onda, mostrou que a partir da centralidade de Cristo todos são chamados a participar da alegria da vida nova e do amor aos irmãos”.

“Na Igreja, todos têm lugar e devem ser acolhidos, ouvidos e respeitados. E a Igreja está aberta a esta participação”, declarou.

O patriarca disse que, com Maria, é preciso “servir na proximidade”, “escutar na disponibilidade” e “promover a paz, na abertura a todos”. Por isso, disse que fará de “serviço um estilo, mas também uma identidade”.

“A esperança do mundo e também da Igreja não reside na expansão proselitista dos seus crentes, mas na sua capacidade de ser, ela própria, uma existência abnegada e totalmente dedicada ao serviço dos outros”, disse.

Dom Valério também se referiu à guerra na Ucrânia e aos demais conflitos no mundo, que “já constituem, como diz o papa Francisco, uma terceira guerra mundial aos pedaços”. Ele falou sobre a “urgência da paz” e a disponibilidade da Igreja em Lisboa nesse sentido.

“Em harmoniosa cooperação e estreita colaboração com as autoridades do Estado, as autarquias, instituições civis, Forças Armadas e de Segurança e num verdadeiro espírito ecumênico, vamos implementar no coração dos irmãos, na cidade, na relação das pessoas, no convívio das instituições, um autêntico ambiente de paz e serenidade, pela promoção da justiça, pelo amor à verdade e pelo empenho na solidariedade”, disse.