25 de set de 2023 às 12:14
O missionário espanhol padre Alexandre Alapont queria morrer na sua terra de adoção, o Zimbabué, aonde chegou em 1957, com um ano de sacerdócio. Alguns anos depois, entrou para o Instituto Espanhol de Missões Estrangeiras (IEME).
No entanto, ele morreu no dia 7 de setembro, na Casa Sacerdotal Betania, em Quart de Poblet, na arquidiocese de Valência, cidade onde nasceu, aos 90 anos.
Ele morava lá há algum tempo, quando chegou muito doente, “quase morto”, segundo informou à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, o delegado diocesano para as missões, padre Arturo Javier García. Com os cuidados necessários, “se recuperou e voltou a andar”, mas não voltou para a África.
O seu desejo de morrer no Zimbábue era real, ele tinha tudo planejado com antecedência.
É o que diz o padre Carmelo Pérez-Adrados, que disponibilizou à ACI Prensa o pequeno livrinho que se costuma escrever entre os missionários quando algum deles morre: “Como eu era o mais novo, ele me deu uma terra de seu povoado, La Alcudia -Valência -, para despejá-la junto com a dos nambias, e o texto teria que escrever em seu epitáfio".
O padre Pérez-Adrados também é membro da IEME e soube da notícia da morte em Manila, Filipinas, onde recebia formação com outros missionários. Ele recordou a sua chegada ao Zimbabué em 1988.
Aí conheceu o padre Alapont, de quem se recorda como “de pequena estatura” e de quem captou imediatamente “a essência de que era feito: toda paixão, otimismo e entusiasmo pela missão, com uma opção clara pelos mais pobres, com os seus amados nambias, um povo no noroeste do Zimbabué com 40 mil habitantes, ignorado e subvalorizado”.
Antes de estar com eles, o padre Alapont fez uma primeira evangelização na região de Gokwe e em Kana, onde, como recorda o padre Pérez-Adrados, “recebeu os novos missionários da IEME e apresentou-os ao país, à cultura desses povos, enchendo-os de amor por essas pessoas”.
No entanto, diz, “onde passou os anos mais longos e demonstrou toda a sua maturidade como missionário foi com os já mencionados nambias”.
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Esta dedicatória mostra eloquentemente que o padre Alapont dedicou quase 30 anos ao estudo da língua local (nambia) para traduzir o Missal Romano e a Bíblia, que vendeu “por 5 dólares americanos ou uma galinha”.
Não foi a única língua que aprendeu para poder difundir a Palavra, pois também estudou nyanja, shona e português. O seu interesse pela língua vem de longa data, pois aos 18 anos se esforçou para aprender a gramática e a escrita do valenciano, língua regional falada na sua terra natal.
Essa grande obra intelectual poderia dar a impressão de que se tratava de “um homem de gabinete, cercado de livros em uma sala e saindo apenas para as coisas mais essenciais”. No entanto, foi fruto da sua disciplina férrea: “O seu trabalho de tradutor era feito metodicamente, sobretudo depois do jantar, pois durante o dia era aquele pastor com ‘cheiro de ovelha’ nas palavras do papa Francisco”, conta o padre Pérez.-Adrados.
Da sua personalidade, sobressai também “a sua bondade natural, inocente no bom sentido da palavra, dando-lhe sempre o acolhimento e a palavra adequada, e por nada no mundo uma palavra ofensiva, nem mesmo irônica”. Por outro lado, era uma pessoa otimista que via o lado positivo das coisas.
O arcebispo de Valência, dom Enrique Benavent, celebrou a missa fúnebre pelo descanso eterno do padre Alapont.