3 de out de 2024 às 00:30
A Igreja Católica celebra hoje (3) a festa de são Francisco de Borja S.J. (Valência, Espanha, 1510 - Estados Pontifícios, 1572). Ele foi casado, teve filhos e após a morte de sua mulher descobriu uma vocação singular: seguir os passos de Cristo como religioso.
O chamado à santidade
Durante o tempo em que esteve casado, Francisco se tornou amigo de alguns membros da Companhia de Jesus. Seu apreço inicial pelos jesuítas se tornaria, após a morte de sua mulher, motivação para uma busca mais intensa por Deus e pelo caminho que Ele havia traçado para sua vida. Assim, depois de um tempo de busca e discernimento, Francisco daria uma reviravolta completa na sua vida.
O nobre valenciano deixou para trás o mundo que construiu, ligado aos círculos sociais que rodeavam a corte real e a aristocracia, para se dedicar totalmente ao serviço da Santa Mãe Igreja, ao lado de santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus.
Homem de família, homem do mundo
Francisco de Borja nasceu em Gandía, Valência, em 1510. Como sua família pertencia à realeza, foi educado como parte da elite. Na sua juventude ocupou vários cargos públicos muito de acordo com os títulos que detinha: foi erigido IV duque de Gandía, I marquês de Lombay, grande de Espanha e vice-rei da Catalunha. Ele até serviu como conselheiro pessoal do imperador Carlos I da Espanha e V da Alemanha.
Com apenas 19 anos, Francisco se casou com Leonor de Castro. E sua casa foi abençoada com oito filhos, que foram criados com muito carinho e dedicação.
Um vice-rei cara a cara com a morte
Nos tempos em que Francisco ocupava o cargo de vice-rei da Catalunha, recebeu a ordem real de transferir os restos mortais da imperatriz Isabel para o local onde repousariam definitivamente, o túmulo real de Granada. A viagem levaria vários dias.
Quando o vice-rei chegou ao local onde se encontrava o corpo da imperatriz, segundo o protocolo fúnebre da época, dirigiu-se à câmara onde havia sido colocado. Ele tinha que ver, reconhecer e certificar oficialmente a morte de Isabel.
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No momento em que viu o cadáver, um abismo de medo se abriu diante dele e ele sentiu um vazio sem precedentes. O rosto da imperatriz morta, outrora cheio de exuberância e frescor, jazia à sua frente, desfigurado, deformado, em claro processo de decomposição.
Ter contemplado, mesmo que apenas por alguns momentos, um espetáculo tão lamentável causou estragos em seu interior. A morte abalou a sua segurança habitual e imediatamente mudou a sua forma de compreender a vida.
O vice-rei tinha percebido pela primeira vez a fatuidade da existência humana, sempre agarrada a “castelos de areia” que escondem a sua expiração e miséria até desmoronarem. Anos mais tarde, o santo se referiria a esses acontecimentos como “o dia da sua conversão”. Daí a sua famosa promessa: “Nunca mais servirei um homem que pode morrer”.
“Ele não é Deus dos mortos, mas dos vivos” (Mc 12, 17)
Após a morte de Leonor, sua mulher, e tendo cuidado dos filhos como deveria, Francisco renunciou aos seus títulos e bens e entrou para a Companhia de Jesus. Lá, ele aprendeu a ser servo dos outros e a não esperar ser servido. Por muito tempo, teve que ser ajudante de cozinha na Companhia.
A formação rigorosa, a oração e o estudo enobreceram sua alma e o prepararam para o sacerdócio. Vale lembrar que Jesus estabeleceu um tipo diferente de “nobreza” no mundo. Chegaria assim o dia da sua ordenação e da consequente nomeação como provincial da Companhia na Espanha. Abriu novos conventos e escolas e tornou-se conselheiro de reis e bispos. Sabe-se que até mesmo o papa pedia a sua opinião quando necessário.
Geral da Companhia: “Ele colocou o telhado no edifício e arrumou o interior” (R.P. Verjus SJ)
Em 1566, o santo foi nomeado terceiro superior-geral da Companhia de Jesus e, sob o seu mandato, o espírito missionário da Ordem foi fortalecido. No que diz respeito à educação, Francisco de Borja se tornaria o promotor do Colégio Romano, gerido pela Companhia, que mais tarde se tornaria a prestigiada Universidade Gregoriana.
São Francisco de Borja morreu à meia-noite do dia 30 de setembro de 1572. Dele falaria o famoso padre Verjus, biógrafo do santo e também membro da Companhia de Jesus: “Santo Inácio de Loyola projetou o edifício e lançou os alicerces; o padre Laínez construiu as paredes; são Francisco Borja colocou o telhado no edifício e arrumou o interior e, desta forma, concluiu a grande obra que Deus tinha revelado a santo Inácio".