13 de out de 2023 às 15:54
O arcebispo de Rabat, Marrocos, e presidente da Conferência Episcopal Regional dos Bispos da África do Norte, cardeal Cristóbal López Romero, denunciou a violência de que são vítimas os migrantes em várias partes da África quando se dirigem para a Europa. Ele disse que sofrem dramas como a “venda de escravos”: “Tem crianças, adolescentes que foram vendidos até três vezes”.
Entrevistado por ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, no dia 2 de outubro, o arcebispo de Rabat disse: “Vemos que há cada vez mais problemas psiquiátricos, porque as experiências que vivenciam na travessia do deserto são tão traumáticas que não é de surpreender que um adolescente, um jovem, até um adulto fique com sequelas”.
“Estamos falando de roubos, violência, estupro e venda de escravos”, disse.
Segundo a agência turca Anadolu, até meados deste ano as autoridades marroquinas reportaram mais de 25 mil tentativas de migração irregular daquele país para a Europa. Com isso, haveria cerca de 366 mil tentativas de migração irregular nos últimos cinco anos a partir do país do norte da África.
O Instituto Nacional de Estatística da Espanha informou em agosto de 2023 que 21,5 mil imigrantes marroquinos entraram no país durante o primeiro semestre do ano, embora o estudo não especifique se o fizeram ou não em condições irregulares.
Segundo o Missing Migrant Project (Projeto Migrante Desaparecido) da Organização Internacional para as Migrações (OIM), “a região do Oriente Médio e África do Norte (MENA) é uma importante região de origem, trânsito e destino para pessoas que passam por algumas das rotas migratórias mais mortíferas do mundo".
O cardeal López Romero, que também é presidente da Cáritas Marrocos, disse que para o trabalho solidário da Igreja “foram escolhidos três tipos de pessoas”. O primeiro grupo é o dos “doentes”, que procuram “acompanhar com os cuidados necessários, não só administrados diretamente, mas através do Sistema Público de Saúde do Marrocos”.
Este país, disse, “colocou todas as suas instalações de saúde ao serviço gratuito dos migrantes”.
O segundo grupo de atenção prioritário são “mulheres grávidas ou com bebês”, e o “terceiro” é constituído por “menores de 18 anos desacompanhados ou mal acompanhados”.
“Encontramos crianças de 12 a 14 anos que vêm sozinhas e atravessaram o deserto com outros adultos. E chegam a Marrocos e ficam lá semanas, meses, anos, porque não é fácil dar o passo para a Europa”, disse o cardeal.
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O arcebispo de Rabat também disse que os migrantes que chegam ao Marrocos recebem formação profissional e capacitação para que possam conseguir um emprego quando chegarem à Europa. Eles são acolhidos, ouvidos, recebem orientação jurídica e cuidados médicos.
“Existem vários serviços dependendo da cidade em que você está. Por exemplo, em Rabat não há alojamento, mas em Casablanca os menores são acolhidos, sobretudo aqueles em situação de doença”, disse.
O cardeal López Romero também disse que a Igreja está em constante diálogo com as organizações civis europeias de ajuda humanitária.
“Tudo o que fazemos em Marrocos é financiado através da Cáritas em Espanha, Itália, França, Alemanha, e há reuniões de pessoas que trabalham nesta área da migração no Norte do Mediterrâneo e no Sul do Mediterrâneo. Há reuniões periódicas, presenciais e virtuais, para chegar a um acordo e trocar experiências”.
Outra das suas tarefas é sensibilizar os governos dos países de onde partem os migrantes para que façam campanhas informativas sobre o que sofrem os seus concidadãos quando embarcam no que é conhecido regionalmente como “a aventura”.
“Chegam a Marrocos muitas pessoas que não sonhavam com o que iriam sofrer na travessia do deserto, na viagem até o norte da África. Inclusive, soubemos de jovens e crianças que não sabiam que tinham que atravessar um mar para chegar à Europa”, disse.
O cardeal foi categórico ao garantir que o fenômeno da migração não é um problema em si: “Os problemas são a guerra, a perseguição política, a fome, as desigualdades econômicas, a falta de trabalho. Os efeitos são que as pessoas abandonam o seu país porque não encontram lá condições de vida dignas”, disse.
Para procurar esta mudança, propôs trabalhar para transformar o sistema econômico, para que os países em desenvolvimento possam avançar rapidamente para uma situação que lhes permita oferecer a todos os seus cidadãos uma vida digna.
“As pessoas que emigram à força deveriam ser um despertar de consciências”, disse. “Algo está errado no nosso mundo para que estas migrações ocorram em todos os continentes”.