Uma teóloga que participa no Sínodo da Sinodalidade disse ontem (17) que gastar muito tempo na “questão de nicho” das mulheres sacerdotes ou diaconisas distrai a Igreja de abordar o que as mulheres realmente precisam.

“Como mulher, não estou nem um pouco focada no fato de não ser sacerdote”, disse Renée Köhler-Ryan, uma das 54 mulheres delegadas ao Sínodo da Sinodalidade, em entrevista coletiva ontem (17).

“Acho que há muita ênfase nesta questão”, acrescentou a professora católica. “E o que acontece quando colocamos demasiada ênfase nesta questão é que nos esquecemos daquilo que as mulheres, na sua maioria, em todo o mundo, precisam”.

Köhler-Ryan é diretora da Escola de Filosofia e Teologia da Universidade de Notre Dame em Sydney, Austrália. Ela participou do conselho plenário da Igreja na Austrália e está escrevendo um livro sobre os ensaios sobre a mulher de santa Teresa Benedita da Cruz, a filósofa judia convertida e morta em campo de extermínio nazista que se chamava Edith Stein.

Paolo Ruffini, presidente da comissão de informação do sínodo, disse aos jornalistas que as discussões sinodais na tarde da segunda (16) se concentraram muito no papel das mulheres na Igreja, incluindo se as mulheres deveriam ser capazes de pregar a homilia na missa e o “restabelecimento do diaconato feminino”.

Outro tema de discussão, disse ele, foi “como superar os modelos clericais que impedem a comunhão ou que podem impedir a comunhão de todos os batizados”.

Köhler-Ryan disse que “algumas pessoas estão muito focadas nesta ideia de que somente se as mulheres forem ordenadas elas terão algum tipo de igualdade”.

Mas a igualdade “não é um por um” ​​na Igreja, disse. Segundo ela, o Sínodo da Sinodalidade se concentrou muito na ideia de unidade na diversidade.

“Bem, parte dessa diversidade é que existem realidades de maternidade e paternidade que são espirituais e biológicas e que são realmente importantes para compreender o que está acontecendo em toda a Igreja”, acrescentou a esposa e mãe.

Ela disse que a questão da ordenação de mulheres “distrai” a Igreja do que poderia estar fazendo para ajudar as mulheres de outras formas, como oferecer maior apoio às famílias e às mães trabalhadoras.

“Acho que é uma conversa muito mais interessante para a maioria das mulheres do que aquilo que costumo considerar uma espécie de assunto de nicho”, disse Köhler-Ryan.

Os comentários de Köhler-Ryan surgiram pouco depois de outro delegado ter descrito a participação das mulheres no Sínodo da Sinodalidade, onde são membros votantes de pleno direito pela primeira vez, “preparando o terreno para mudanças futuras”.

A irmã Maria de los Dolores Valencia Gomez, freira da congregação de São José, liderou a assembleia do Sínodo da Sinodalidade em 13 de outubro, como uma das dez presidentes-delegadas do papa Francisco. Ela descreveu a experiência de sentar-se com o papa “como um símbolo desta abertura, deste desejo que a Igreja tem… de algo que coloque todos nós no mesmo nível”.

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Outro participante do sínodo, uma das 13 pessoas encarregadas de ajudar a elaborar um documento resumido da assembleia de 4 a 29 de outubro, disse na semana passada ao jornal National Catholic Reporter, do mesmo grupo a que pertence ACI Digital, que estaria aberto a um diaconato feminino.

“A questão da ordenação de mulheres é claramente algo que precisa ser abordado universalmente. … E se o resultado fosse que a ordenação ao diaconato fosse aberta às mulheres, eu certamente acolheria isso”, disse o bispo Shane Mackinlay de Sandhurst, Austrália.

Ruffini disse que as discussões de segunda-feira também incluíram pedidos de “maior atenção a uma linguagem inclusiva na liturgia e nos documentos eclesiais” e que a palavra “cooperacão” no cânon 208 do Código de Direito Canônico, que diz que todos os cristãos “cooperam na construção do Corpo de Cristo segundo a condição e função de cada um”, passa a ser “corresponsabilidade”.

Sobre “a possível reintegração do diaconato feminino”, Ruffini disse que havia referência a estudar primeiro a natureza exata do diaconato.

Sobre as diaconisas, Köhler-Ryan disse que o que o sínodo está “identificando no momento é onde é necessário haver mais consideração teológica de diferentes questões, e acho que posso dizer com segurança que este é aquele onde é necessário haver mais consideração, sabendo que esse foi um problema que já foi analisado antes.”

Durante o seu pontificado, o papa Francisco formou duas comissões temporárias para estudar a questão das mulheres diaconisas.

A primeira, em 2016, examinou a questão histórica do papel das diaconisas na Igreja primitiva. Em 2019, foi anunciado que a comissão composta por 12 pessoas não havia chegado a nenhum consenso sobre a questão.

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Em abril de 2020, o papa formou uma segunda comissão depois que o tema das diaconisas foi discutido no Sínodo da Amazônia em outubro de 2019, juntamente com um pedido para que a comissão de 2016 fosse restabelecida.

No final da reunião de outubro de 2019, os membros do sínodo recomendaram ao papa Francisco que as mulheres fossem consideradas para certos ministérios na Igreja, incluindo o diaconato permanente, que é uma ordem dentro do sacramento das ordens sagradas.

Mas na sua exortação apostólica sobre a Amazônia , publicada em fevereiro de 2020, o papa Francisco apelou para que as mulheres da região sul-americana fossem incluídas em novas formas de serviço na Igreja, mas não nos ministérios ordenados do diaconato ou sacerdócio permanente.

O tema das diaconisas já foi estudado anteriormente pela Igreja, inclusive num documento de 2002 da Comissão Teológica Internacional (CIF), um órgão consultivo da congregação para a Doutrina da Fé.

No documento, a CIF concluiu que as diaconisas na Igreja primitiva não eram equivalentes aos diáconos do sexo masculino e não tinham uma “função litúrgica” nem sacramental. Também sustentava que mesmo no século IV d.C., “o modo de vida das diaconisas era muito semelhante ao das freiras”.