ROMA, 21 de out de 2023 às 09:00
“A humanidade sempre sonhou com robôs, desde a antiguidade. Historicamente, os robôs, originalmente chamados de automs, foram concebidos como produtos de tecnologia juntamente com a fé. A união do robô e da religião foi consumada ao longo dos últimos dois séculos, quando a ciência e a religião se separaram, e desde então têm sido geralmente vistas em oposição. Hoje, à medida que os robôs e a inteligência artificial (IA) começam a se espalhar na sociedade, novas possibilidades e novos desafios éticos surgem no horizonte”.
Assim começa na revista 'Philosophy' um artigo científico, 'O robô SanTO: o novo com um olhar para o passado', de Gabriele Trovato, professor associado do Programa Inovador Global do Instituto Shibaura de Tecnologia de Tóquio, Japão, que criou o primeiro robô, que ajuda os fiéis na busca de um texto bíblico ou de uma oração, baseado na 'simplicidade' de um avô, nascida cinco anos antes na Pontifícia Universidade de Lima, onde o protótipo é desenvolvido.
“Mas a ideia me surgiu no Japão, à medida que aprofundava o estudo do design de robôs, para melhor adaptá-los a diferentes culturas. Daí para a religião o passo foi curto. Eu estava preparando um rosto artificial que parecia o mais japonês possível”.
“Um robô que não é apenas antropomórfico, em suma, mas também equipado com um elemento sobrenatural. Pois bem, perguntei-me: como poderia ser transferido o conceito de cristianismo? Respondi projetando um robô feito à imagem e semelhança de um santo, que fosse capaz de responder perguntas sobre fé e rezar junto com seu usuário”.
O professor Trovato disse que o robô “SanTO (acrônimo de SANctified Theomorphic Operator - operador teomórfico santificado) é um robô que se parece com a estátua de um santo em um nicho, propõe orações, cita passagens relacionadas a diversos temas e conta a história dos santos do ano. Seu desenho é uma união de engenharia e arte sacra, que envolve a seção áurea e tem como base um estilo neoclássico. Na verdade, é o primeiro robô católico a ser criado. O único antecessor é o ‘monge mecânico’ do século XVI, encomendado por Filipe II de Espanha”.
Como surgiu essa ideia?
“Eu trato da interação entre o ser humano e os robôs, e em particular como adaptar robôs para serem usados na sociedade em diferentes países, com origens culturais muito diferentes, como podem ser o Japão e a Itália. Precisamente do Japão nasceu uma ideia que envolve alguns elementos do budismo e do xintoísmo para fazer um robô que pudesse ser facilmente aceito pelos mais velhos japoneses. A partir daí, o próximo passo foi transportar essa ideia para o cristianismo. Graças ao apoio do prof. Cuellar, professor da Pontifícia Universidade do Peru, em Lima, foi possível fazer o primeiro protótipo em 2017”.
Como funciona o robô?
“A operação foi projetada para ser facilmente compreendida até mesmo pelos idosos. Basta tocar nas mãos do robô para ativá-lo, e o resto é feito por voz. Há um tempo definido para fazer uma pergunta (ao contrário de Alexa, que grava continuamente), após o qual o SanTo responde. As luzes da auréola regulam o tempo da conversa”.
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Quais questões surgem com o uso desses robôs teomórficos?
“O conceito de teomorfo na robótica é entendido como o desenho e criação de autômatos que representam ou têm ligação com algo considerado sagrado. As lacunas e questões que ela abre são muitas. Uma delas, por exemplo, é a percepção de que robôs deste tipo podem provocar usuários mais ou menos religiosos. Os robôs usados em público são frequentemente ignorados ou às vezes maltratados. Quem iria vandalizar um robô que carrega uma cruz?”.
Esta experiência foi realizada em um hospício em Siegen, perto de Colônia, rezando em alemão juntamente com os hóspedes do estabelecimento: “As pessoas mais velhas podiam se beneficiar da conversa diária com uma personalidade artificial em vez de ficarem sozinhas; porém, sua interação com robôs é uma questão muito delicada no que diz respeito à sua acessibilidade, pois muitas vezes há dificuldades no uso de dispositivos tecnológicos como telefones celulares”.
Você não corre o risco de ter um substituto ao padre?
“A intenção principal não é substituir o papel do padre. Na verdade, é ampliar o papel que uma pequena estátua de algum santo pode ter, ou melhor, acrescentar um novo papel, que é justamente o de companheiro de oração e proponente de conteúdos e palavras sábias. Dois mil anos de textos que compõem a teologia católica podem ser inacessíveis a um crente comum, mas esses conteúdos têm um valor que poderia ajudar, em particular, a pessoas solitárias ou em hospitais...”
Qual é a posição da Igreja diante deste robô?
“A posição da Igreja é de prudência. Uma questão central é que o robô não deve dar interpretações da Bíblia. Um papel que pertence à Igreja. Além disso, uma vez que a Igreja é definida como uma comunidade de homens, uma máquina não pode desempenhar um papel como, por exemplo, celebrar uma missa. No entanto, o potencial que este robô pode ter como um novo canal de fé, da mesma forma que o rádio ou a televisão, é enorme”.