24 de out de 2023 às 14:55
O patriarca latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, condena a violência que atualmente abala a Terra Santa, região que passa por “um dos períodos mais difíceis e dolorosos” da sua história recente.
O cardeal publicou hoje (24) uma carta aos fiéis da Terra Santa, pouco mais de duas semanas após o ataque do grupo terrorista Hamas contra o sul de Israel, que resultou numa série de bombardeios do exército israelense em direção à Faixa de Gaza.
Segundo relatos, a incursão do grupo islâmico causou a morte de pelo menos 1,4 mil pessoas e mais de 220 sequestrados, que foram levados para Gaza, região controlada pelo Hamas desde 2007 e onde também existem outros grupos anti-israelenses como a Jihad Islâmica.
Os ataques aéreos israelenses deixaram mais de 5 mil mortos em Gaza. Segundo o Ministério da Saúde, 40% são crianças e 22% são mulheres ou idosos.
“A minha consciência e o meu dever moral me obrigam a declarar claramente que o que aconteceu em 7 de outubro no sul de Israel não é de forma alguma admissível e não podemos deixar de o condenar. Não há razão para tal atrocidade. Sim, temos o dever de afirmá-lo e denunciá-lo”, diz o cardeal Pizzaballa.
“O recurso à violência não é compatível com o Evangelho e não conduz à paz. A vida de cada pessoa humana tem igual dignidade diante de Deus, que nos criou a todos à Sua imagem”, continua.
No entanto, acrescenta, “a mesma consciência, com um grande peso no coração, leva-me hoje a afirmar com a mesma clareza que este novo ciclo de violência causou mais de cinco mil mortes em Gaza, entre elas muitas mulheres e crianças, dezenas de milhares de feridos, bairros devastados, falta de medicamentos, água e bens de primeira necessidade para mais de dois milhões de pessoas. São tragédias que não são compreendidas e que temos o dever de denunciar e condenar sem reservas”.
O patriarca latino de Jerusalém adverte que os bombardeios só continuarão causando mais mortes em Gaza “e só aumentarão o ódio e o ressentimento, não resolverão nenhum problema, mas criarão novos. É hora de parar esta guerra, esta violência sem sentido”.
Para o cardeal Pizzabala, é necessário resolver este conflito desde as suas raízes, o que inclui acabar com a ocupação israelense dos territórios palestinos – como está acontecendo na Cisjordânia – e dar "uma perspectiva nacional clara e segura ao povo palestino", caso contrário “nunca haverá a estabilidade que todos desejamos”.
“A tragédia destes dias deve nos levar a todos, religiosos, políticos, sociedade civil, comunidade internacional, a um compromisso mais sério a este respeito do que aquele que foi assumido até agora. Só assim poderemos evitar mais tragédias como a que vivemos agora. Devemos isso às muitas, muitas vítimas destes dias e de todos estes anos. Não temos o direito de deixar esta tarefa para outros”, diz.
Orar, fazer penitência e interceder
Na sua carta, o cardeal Pizzaballa diz que os dias de oração pela Terra Santa convocados, como o que o papa Francisco convocou para 27 de outubro, são “um belo olhar” e “um importante momento de unidade com a nossa Igreja”.
“É talvez a principal coisa que nós, cristãos, podemos fazer neste momento: rezar, fazer penitência, interceder. E por isso agradecemos do fundo do coração ao Santo Padre”, diz.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
O cardeal exorta a voltar o olhar para o Evangelho de Jesus, “porque no final é de lá que todos devemos partir e para onde devemos sempre voltar”.
“Olhar para Jesus, claro, não significa se sentir isento do dever de dizer, denunciar, recordar, bem como consolar e encorajar. Como ouvimos no Evangelho do domingo passado, é necessário dar ‘a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus’. Portanto, olhando para Deus, queremos, antes e tudo, dar a César o que é dele”, diz.
Segundo o cardeal Pizzabala, a fé iluminará o modo de ver o que está acontecendo na Terra Santa. “Precisamos de uma Palavra que nos acompanhe, nos console e nos encoraje. Precisamos disso como do ar que respiramos”.
Na sua carta, o cardeal recorda a passagem do Evangelho de João em que Cristo diz: “Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo”.
“Ele dirige estas palavras aos seus discípulos, que em breve serão abalados como por uma tempestade antes da sua morte. Eles entrarão em pânico, se dispersarão e fugirão, como ovelhas sem pastor”, lembra o patriarca.
Para o cardeal, “esta última palavra de Jesus é um encorajamento. Ele não diz que vai vencer, mas já venceu. Mesmo no drama que se aproxima, os discípulos poderão ter paz”.
Isto, acrescenta, não é uma resignação de que não há nada que possa ser feito para mudar o mundo, “mas sim ter a certeza de que foi precisamente no meio de todo este mal que Jesus saiu vitorioso”.
“Foi na cruz que Jesus venceu. Nem com armas, nem com poder político, nem com grandes meios, nem por imposição. A paz de que ele fala nada tem a ver com a vitória sobre os outros. Ele conquistou o mundo, amando-o”.
"A resposta de Deus à questão de por que os justos sofrem não é uma explicação, mas uma Presença. ‘É Cristo na cruz’”, diz.
O cardeal também lembrou as 18 vítimas do atentado a bomba que afetou a Igreja Ortodoxa de Gaza, cujas famílias são conhecidas dos fiéis católicos, já que a comunidade cristã na Faixa tem pouco mais de mil pessoas.
A dor das famílias “é grande e, no entanto, a cada dia percebo mais que estão em paz. Assustados, chocados, angustiados, mas com paz no coração. Estamos todos com eles, em oração e em solidariedade concreta, agradecendo-lhes o seu belo testemunho”, diz.
“É preciso coragem para poder exigir justiça sem espalhar o ódio”, bem como para manter a unidade “apesar da diversidade das nossas opiniões, sensibilidades e visões”, continua.
O cardeal Pizzaballa conclui a sua carta convidando a rezar por todas as vítimas inocentes, porque o seu sofrimento tem diante de Deus “um valor precioso e redentor, porque está unido ao sofrimento redentor de Cristo. Que o seu sofrimento traga a paz cada vez mais perto”.