25 de out de 2023 às 11:25
Um homem do estado americano do Kentucky envolvido em um “ministério católico LGBTQ” publicou uma carta on-line que diz ter recebido no início deste mês do papa Francisco agradecendo-lhe pelo seu trabalho.
Stan “JR” Zerkowski chefia a comissão de divulgação LGBTQ da diocese de Lexington, no estado americano do Kentucky. A comissão é um “esforço diocesano de buscar, acolher, acompanhar e ministrar à comunidade LGBT”.
Ele também lidera o ministério LGBTQ+ na Igreja Católica de St. Paul em Lexington, uma paróquia que foi causa de polêmica no passado, inclusive por uma imagem da Bem-Aventurada Virgem Maria envolta em uma bandeira do orgulho gay postada em seu site e uma oração à Mãe Santíssima, compartilhada sob o título de “Mãe do Orgulho”.
A nota manuscrita do papa veio em resposta a um e-mail que Zerkowski escreveu a ele em 10 de outubro sobre os três ministérios LGBTQ de Zerkowski, dois dos quais estão sob a diocese de Lexington.
“Eu contei a ele sobre Fortunate Families. Eu disse a ele o que faço local e nacionalmente com paróquias, hierarquia, instituições educacionais e construção de ministérios LGBTQ+ intencionais”, escreveu Zerkowski em uma postagem no Facebook.
“Agradeci a ele por abrir as portas para o ministério LGBTQ+ e expliquei que foi e ainda é um ministério difícil. Eu disse a ele que sua abertura salvou vidas, sei disso em primeira mão. Mencionei que à medida que o Sínodo [da Sinodalidade] se desenrola em Roma, ele ocupa um lugar especial nas minhas/nossas orações”, escreveu.
A resposta do papa Francisco, traduzida para o inglês numa foto que Zerkowski publicou on-line, dizia: “Querido irmão, muito obrigado pelo seu e-mail. Obrigado pelo seu ministério. Eu oro por você, por favor, continue fazendo isso por mim. Que o Senhor te abençoe e Nossa Senhora cuide de você”.
“Eu entendo perfeitamente que esta nota não é sobre mim. Esta nota é sobre nós e nosso ministério. É sobre você. É uma afirmação do papa”, escreveu Zerkowski. “Minha lição pessoal? O papa está ouvindo. O papa se importa”.
Zerkowski é autor de um livro de memórias intitulado “Coming Out and Coming Home: A Gay Catholic Man’s Journey from Marginalization to Ministry, with a Few Miracles Along the Way” (Saindo do armário e voltando para casa: A jornada de um homem gay católico da marginalização ao ministério, com alguns milagres ao longo do caminho). O bispo de Lexington, dom John Stowe, OFMConv, escreveu o prefácio.
Além de liderar a comissão de divulgação da diocese e o ministério LGBTQ+ em St. Paul's, Zerkowski dirige um ministério chamado Fortunate Families que oferece recursos e orientação ao clero, paróquias e escolas para “discernir e iniciar o ministério para pessoas LGBTQ+ através de boas-vindas intencionais e LGBTQ+ ministério” dentro da Igreja.
O site de Fortunate Families apresenta testemunhos de indivíduos que vivenciaram uma crise de identidade de gênero, alguns dos quais passaram por transições de gênero hormonais ou cirúrgicas. Contudo, ainda dizem que desejam estar em comunhão com a Igreja Católica.
Um homem que sofria de disforia de gênero escreveu em seu testemunho: “Depois de muita oração, consideração e ajuda de um terapeuta, comecei a terapia hormonal. Fisicamente estou muito melhor: minha saúde melhorou e meus sintomas diminuíram. Emocionalmente, estou lutando para saber como vou contar à minha esposa e a todos os outros. Acredito que meu caminho é fazer a transição e me apresentar como a mulher que sou. Acredito que é o único caminho a seguir, embora não saiba aonde o caminho vai levar. Continuo me lembrando de não ter medo e confiar em Deus”.
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“Acredito que não há problema em ser transgênero e católico. A vida de Jesus na terra se centrou no cuidado dos pobres e marginalizados. Ninguém estava e está fora de sua compaixão. Como ele disse: 'É misericórdia que desejo, não sacrifício'”, continuou o depoimento.
A CNA, agência em inglês do grupo EWTN, do qual ACI Digital faz parte, perguntou a Zerkowski se os depoimentos de indivíduos que passaram pela transição de gênero incentivavam a prática.
“Ouvimos e partilhamos histórias reais, tal como o papa Francisco encorajou a Igreja a fazer através do sínodo”, respondeu Zerkowski por e-mail. “As histórias são sagradas”.
Também no site há um livro para profissionais de saúde mental chamado “The Gender Affirmative Model: An Interdisciplinary Approach to Supporting Transgender and Gender Expansive Children” (O modelo afirmativo de gênero: uma abordagem interdisciplinar para apoiar crianças transgênero e com expansão de gênero). A sua descrição diz que “os leitores aprenderão como facilitar e permitir que as crianças vivam no seu gênero autêntico com os apoios sociais necessários”.
O livro diz que “influenciar as crianças a aceitarem o gênero que corresponde ao sexo na sua certidão de nascimento foi contestado, declarado antiético e avaliado como prejudicial ao bem-estar das crianças”.
Outro recurso, intitulado “Este é um livro para pais de crianças gays: um guia de perguntas e respostas para a vida cotidiana”, diz: “Seu filho, ao ter a liberdade de explorar quem é, pode conhecer alguém do mesmo sexo, cair loucamente apaixonado e envelhecer com eles, mais feliz do que você jamais poderia imaginar”.
Ao ser questionado por CNA se os dois livros contradizem o ensinamento da Igreja sobre relações entre pessoas do mesmo sexo e transgenerismo, Zerkowski se referiu ao site, que diz que Fortunate Families fornece uma lista de recursos, mas “não pode endossá-los”.
“Apoiamos o ensinamento social católico sobre a dignidade da pessoa humana e o mandato do Evangelho de trabalharmos juntos para o bem comum”, diz o site.
A notícia da carta surge após relatos de que o papa Francisco se reuniu em sua residência em outubro com a liderança da organização americana LGBT New Ways Ministry (Ministério Novos Caminhos), que foi anteriormente denunciada tanto pela conferência dos bispos dos EUA quanto pela Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé por causar confusão sobre a moralidade sexual entre os fiéis católicos.
A doutrina católica sobre a homossexualidade está resumida em três artigos do Catecismo: 2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves a Tradição sempre declarou que «os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.
2358. Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação, devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.
2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.