29 de out de 2023 às 09:27
Na missa de encerramento do Sínodo da Sinodalidade, o papa Francisco disse que “talvez tenhamos de verdade muitas e belas ideias para reformar a Igreja”, mas lembrou que “adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor, esta é a grande e perene reforma”.
O papa Francisco celebrou a missa de encerramento da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, hoje (29), às 10h, na basílica de São Pedro, no Vaticano.
O papa ficou à direita da nave central da basílica, ao lado da escultura em bronze de São Pedro. A missa foi celebrada pelo secretário geral do sínodo, cardeal Mario Grech.
Quase cinco mil pessoas estiveram presentes na Eucaristia, entre as quais bispos, religiosos e leigos que participaram do Sínodo da Sinodalidade iniciado no dia 4 de outubro.
Depois das leituras em inglês, espanhol e italiano, o papa leu a sua homilia, na qual recordou que “o maior mandamento” é amar a Deus “com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente”.
Ele então destacou que o segundo mandamento é semelhante ao primeiro e também importante: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.
Partindo desta ideia, o papa advertiu que o “princípio e fundamento” é amar a Deus. “Não está nas nossas estratégias, nos cálculos humanos, nem nas modas do mundo, mas no amor a Deus e ao próximo: é aqui que está o coração de tudo”.
Amar a Deus com adoração e serviço
O papa Francisco disse que Deus é amado através da adoração e do serviço. “A adoração é a primeira resposta que podemos oferecer ao amor gratuito, ao amor surpreendente de Deus. A maravilha própria da adoração é essencial na Igreja, sobretudo neste tempo em que perdemos o hábito da adoração”, disse.
“De fato, adorar significa reconhecer na fé que só Deus é Senhor e que, da ternura do seu amor, dependem as nossas vidas, o caminho da Igreja, as sortes da história. Ele é o sentido do nosso viver”.
Mais tarde, destacou que “quem adora a Deus rejeita os ídolos, pois, enquanto Deus liberta, os ídolos tornam-nos escravos. Enganam-nos e nunca realizam o que prometem, porque são ‘obra das mãos dos homens’”.
“E a prova de que nem sempre temos a ideia certa de Deus é o fato de às vezes ficarmos decepcionados: eu esperava isto, imaginava que Deus Se comportasse assim, mas enganei-me. Deste modo trilhamos de novo o caminho da idolatria, querendo que o Senhor atue segundo a imagem que nos fizemos d’Ele”.
Segundo o papa, este “é um risco que sempre podemos correr: pensar em ‘controlar Deus’, encerrar o seu amor nos nossos esquemas, quando, pelo contrário, o seu agir é sempre imprevisível, ultrapassa-nos e por isso este agir de Deus suscita maravilha e exige adoração”.
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“Sempre devemos lutar contra as idolatrias: sejam as mundanas, que muitas vezes derivam da vanglória pessoal, como a ânsia do sucesso, a autoafirmação a todo custo, a ganância do dinheiro (o diabo entra pelos bolsos, não o esqueçamos!), o encanto do carreirismo; sejam as disfarçadas de espiritualidade, como a minha espiritualidade, as minhas ideias religiosas, a minha habilidade pastoral... Vigiemos para não acontecer colocarmo-nos no centro a nós em vez d’Ele”.
O papa Francisco pediu para dedicar tempo “à intimidade com Jesus, Bom Pastor, diante do sacrário” e destacou que “não existe experiência religiosa que seja surda ao grito do mundo; falo duma verdadeira experiência religiosa. Não há amor a Deus sem envolvimento no cuidado do próximo, caso contrário corre-se o risco do farisaísmo”.
“Talvez tenhamos de verdade muitas e belas ideias para reformar a Igreja, mas lembremo-nos: adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor, esta é a grande e perene reforma”, disse.
Ele também exortou a ser uma “Igreja adoradora e Igreja do serviço, que lava os pés à humanidade ferida, acompanha o caminho dos mais frágeis, dos débeis e dos descartados, sai com ternura ao encontro dos mais pobres”.
Da mesma forma, dirigiu seu olhar para aqueles “que são vítimas das atrocidades da guerra; nas tribulações dos migrantes, no sofrimento escondido de quem se encontra sozinho e em condições de pobreza; em quem é esmagado pelos fardos da vida; em quem já não tem mais lágrimas, em quem não tem voz”.
“É esta, irmãos e irmãs, a Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama, perdoa, sem nunca exigir antes um atestado de ‘boa conduta’. Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia”.
“O Senhor nos ajudará a ser uma Igreja mais sinodal”
Finalmente, o papa Francisco disse que durante o Sínodo da Sinodalidade “pudemos experimentar a terna presença do Senhor e descobrir a beleza da fraternidade”.
“Ouvimo-nos reciprocamente e sobretudo, na rica variedade das nossas histórias e sensibilidades, pusemo-nos à escuta do Espírito Santo. Hoje não vemos o fruto completo deste processo, mas podemos com clarividência olhar o horizonte que se abre diante de nós”.
Por isso disse que “o Senhor guiar-nos-á e ajudar-nos-á a ser Igreja mais sinodal e mais missionária, que adora a Deus e serve as mulheres e os homens do nosso tempo, saindo para levar a todos a alegria consoladora do Evangelho".
Concluindo, agradeceu a presença de todos os participantes da assembleia e expressou a esperança de que “possamos crescer na adoração a Deus e no serviço ao próximo”.
As petições foram lidas por alguns membros do Sínodo da Sinodalidade, que posteriormente trouxeram as ofertas ao papa Francisco.
No final da missa cantaram a Salve Regina. Posteriormente, o papa Francisco saiu da basílica em cadeira de rodas pela nave central enquanto cumprimentava os fiéis presentes.