5 de nov de 2023 às 16:05
O papa Francisco alertou contra viver uma vida dupla, destacando os perigos que representa para o testemunho cristão autêntico e o seu potencial para criar uma crise de credibilidade para a Igreja em discurso durante a oração do ângelus de hoje (5) no Vaticano.
A advertência partiu da leitura do Evangelho do dia, na qual Jesus adverte contra seguir os exemplos dos escribas e dos fariseus.
“Jesus usa palavras muito severas: 'Pois eles pregam, mas não praticam...eles fazem todas as suas obras para serem vistos pelos outros' ”, disse o papa ao citar o Evangelho de Mateus.
Tal como os escribas e os fariseus, “os líderes religiosos do povo”, o papa advertiu que esta incoerência representa um problema não só para aqueles que servem a Igreja, mas para qualquer pessoa que seja chamada a “um papel de responsabilidade”.
“Esta regra é sempre válida para um padre, um agente pastoral, um político, um professor ou um pai: o que você diz, o que você prega aos outros, comprometa-se a vivê-lo primeiro você mesmo”, disse o papa.
Usando estas palavras como ponto de partida, o papa concentrou-se neste duplo aspecto da “distância entre dizer e fazer e a primazia do exterior sobre o interior”.
O papa advertiu que no abismo entre as palavras e as ações externas existe a “duplicidade de coração que põe em risco a autenticidade do nosso testemunho e a nossa credibilidade como pessoas e como cristãos”.
Embora reconhecendo que, devido à fragilidade inerente à condição humana, “experimentamos uma certa distância entre o que dizemos e o que fazemos”, o papa advertiu que “ter um coração dúbio é outra coisa”.
O papa disse que isto representa um grave risco tanto para a vida espiritual interna como para uma expressão externa de viver como cristão, colocando em risco a vida dos cristãos e a credibilidade da Igreja.
“Os escribas e fariseus estavam preocupados em ter de esconder a sua inconsistência para salvar a sua reputação externa”, explicou o papa ao expor o segundo componente da mensagem do Evangelho.
“Este truque é muito comum – manifestar um belo exterior para esconder a sujeira interior”, continuou Francisco. “Mas esta é uma doença terrível, especialmente para nós, cristãos – quando o exterior prevalece sobre o interior. Às vezes, mesmo na Igreja, somos tentados a salvar a aparência, quando deveríamos nos preocupar com o interior para sermos cristãos consistentes e credíveis”.
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O papa encerrou a reflexão evangélica pedindo aos quase 23 mil fiéis reunidos na praça de São Pedro que refletissem sobre esta inconsistência.
“Tentamos praticar o que pregamos ou vivemos duvidosamente? Estamos preocupados apenas em mostrar quão impecáveis somos por fora, ou cultivamos também a nossa vida interior com sinceridade de coração?”
Após o ângelus, o papa renovou o seu apelo à paz na guerra Israel-Hamas, que eclodiu no início de outubro, após o grupo terrorista ter invadido Israel.
“Continuo pensando na grave situação na Palestina e em Israel, onde tantas pessoas perderam a vida”, disse o papa. “Por favor, pare, em nome de Deus: cessem fogo.”
O papa pediu que se esgotem todos os esforços para um cessar-fogo, especialmente à luz da situação humanitária insustentável na Faixa de Gaza.
“Espero que todos os caminhos sejam seguidos para que o conflito possa ser absolutamente evitado, os feridos possam ser ajudados e a ajuda possa chegar à população de Gaza, onde a situação humanitária é muito grave. Libertem os reféns imediatamente. Entre eles também há muitas crianças, que voltem para suas famílias!”, disse o papa.
O papa também pediu uma intenção especial de oração pelo povo do Nepal, onde um forte terremoto de magnitude 5,7 atingiu a província ocidental de Karnali. Segundo informações da rede de notícias britânica BBC, os esforços de resgate estão em andamento e as autoridades temem que o número de mortos, que atualmente é de 157, possa aumentar.
Ele também fez um apelo aos “refugiados afegãos que encontraram refúgio no Paquistão, mas agora não sabem mais para onde ir”.
O papa concluiu o seu apelo pedindo aos fiéis que rezassem por aqueles que foram afetados pelas inundações na Itália. Na quinta (2), uma torrente atingiu a região da Toscana, incluindo as províncias de Prato, Florença e Pistoia. Atualmente, sete pessoas morreram e uma está desaparecida, enquanto milhares foram forçados a evacuar as suas casas.