8 de nov de 2023 às 08:46
Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Entre as numerosas testemunhas da paixão pelo anúncio do Evangelho, aqueles evangelizadores apaixonados, apresento hoje a figura de uma francesa do século XX, a venerável serva de Deus Madeleine Delbrêl. Nascida em 1904 e falecida em 1964, foi assistente social, escritora e mística, e viveu por mais de trinta anos na periferia pobre e operária de Paris. Deslumbrada pelo encontro com o Senhor, escreveu: «Uma vez que conhecemos a palavra de Deus, não temos o direito de não a receber; quando a recebemos, não temos o direito de não a deixar encarnar-se em nós; quando se encarna em nós, não temos o direito de a conservar para nós: a partir daquele momento, pertencemos àqueles que a esperam» (La santità della gente comune, Milão 2020, 71). É bonito: é bonito o que ela escreveu...
Depois de uma adolescência vivida no agnosticismo – não acreditava em nada – com cerca de 20 anos Madeleine encontra o Senhor, impressionada pelo testemunho de alguns amigos crentes. Então põe-se à procura de Deus, dando voz a uma sede profunda que sentia dentro de si, e chega a compreender que o «vazio que nela gritava a sua angústia» era Deus que a procurava (Abbagliata da Dio. Corrispondenza 1910-1941, Milão 2007, 96). A alegria da fé leva-a a amadurecer uma opção de vida inteiramente dedicada a Deus, no coração da Igreja e no coração do mundo, simplesmente compartilhando em fraternidade a vida das “pessoas de rua”. Poeticamente, assim se dirigia a Jesus: «Para estar contigo no teu caminho, é preciso ir, até quando a nossa preguiça nos suplica que fiquemos. Escolheste-nos para estar num estranho equilíbrio, um equilíbrio que só pode ser estabelecido e mantido em movimento, só num impulso. Um pouco como uma bicicleta, que não consegue ficar de pé sem estar em movimento [...] Só podemos estar de pé avançando, movendo-nos, num ímpeto de caridade». É aquilo a que ela chama a “espiritualidade da bicicleta” (Umorismo nell’Amore. Meditazioni e poesie, Milão 2011, 56). Só a caminho, correndo, vivemos no equilíbrio da fé, que é um desequilíbrio, mas é assim: como a bicicleta. Se pararmos, ela não fica em pé.
Madeleine tinha o coração continuamente em saída e deixava-se interpelar pelo clamor dos pobres. Sentia que o Deus vivo do Evangelho devia arder dentro de nós, até levarmos o seu nome àqueles que ainda não o encontraram. Neste espírito, diante das agitações do mundo e do clamor dos pobres, Madeleine sente-se chamada a «viver o amor de Jesus inteiramente e ao pé da letra, desde o óleo do bom Samaritano até ao vinagre do Calvário, oferecendo-lhe assim amor por amor [...] para que, amando-o sem reservas e deixando-se amar até ao fim, os dois grandes mandamentos da caridade se encarnem em nós, tornando-se um só» (La vocation de la charité, 1, Œuvres complètes XIII, Bruyères-le-Châtel, 138-139).
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No final, Madeleine ensina-nos mais uma coisa: que evangelizando somos evangelizados: evangelizando, somos evangelizados. Por isso, inspirando-se em São Paulo, dizia: «Ai de mim, se a evangelização não me evangelizar!». Evangelizando, evangelizamo-nos a nós próprios. E esta é uma boa doutrina!
Olhando para esta testemunha do Evangelho, também nós aprendemos que, em cada situação e circunstância pessoal ou social da nossa vida, o Senhor está presente e chama-nos a habitar o nosso tempo, a compartilhar a vida dos outros, a misturar-nos com as alegrias e as dores do mundo. Em particular, ensina-nos que até os ambientes secularizados nos são úteis para a conversão, pois a interação com os não-crentes estimula o crente a uma contínua revisão do seu modo de crer e a redescobrir a fé na sua essencialidade (cf. Noi delle strade, Milão 1988, 268 s.).
Que Madeleine Delbrêl nos ensine a viver esta fé “em movimento”, por assim dizer, esta fé fecunda que faz de cada ato de fé um ato de caridade no anúncio do Evangelho. Obrigado!