19 de nov de 2023 às 07:57
Hoje a Igreja Católica celebra o Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo papa Francisco em 21 de novembro de 2016, na conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia.
“À luz do ‘Jubileu das Pessoas Excluídas Socialmente’, celebrado quando já se iam fechando as Portas da Misericórdia em todas as catedrais e santuários do mundo, intuí que, como mais um sinal concreto deste Ano Santo extraordinário, se deve celebrar em toda a Igreja, na ocorrência do XXXIII Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres”, escreveu o papa na carta apostólica Misericordia et misera.
Neste documento, o papa Francisco diz que este Dia “vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa”.
Em sua mensagem para o Dia Mundial dos Pobres 2023, o papa Francisco escolheu como lema “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar”, retirado do Livro de Tobias, do Antigo Testamento.
Francisco recorda que este livro narra o “testamento espiritual” que o idoso Tobit deixa ao seu filho Tobias, que partirá em viagem, e que consiste em encorajá-lo a recordar o Senhor todos os dias: “Evita o pecado e observa os seus mandamentos. Pratica a justiça em todos os dias da tua vida e não andes pelos caminhos da injustiça”.
Tobias, acrescenta o papa, “faz referência a gestos concretos, que consistem em praticar boas obras e viver com justiça. E a exortação torna-se ainda mais específica: ‘Dá esmolas, conforme as tuas posses. Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus’”.
Em sua mensagem, o papa Francisco lembra que o velho ficou cego acidentalmente após enterrar o corpo de um pobre que havia sido morto. “Ironia do destino! Pratica um gesto de caridade e sucede-lhe uma desgraça... Apetece-nos pensar assim, mas a fé ensina-nos a ir mais a fundo. A cegueira de Tobit tornar-se-á a sua força para reconhecer ainda melhor tantas formas de pobreza ao seu redor”, diz.
O papa recorda que além da cegueira, ao longo da vida o velho é posto à prova ao ser exilado da sua terra, perseguido pelo rei e pelos seus vizinhos pagãos.
“Apesar de ânimo tão bom, é posto à prova. Como muitas vezes nos ensina a Sagrada Escritura, Deus não poupa as provações a quem pratica o bem. E por quê? Não o faz para nos humilhar, mas para tornar firme a nossa fé n’Ele”, escreve o papa Francisco.
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O papa diz que, nestes tempos de dificuldades, Tobit “descobre a própria pobreza, que o torna capaz de reconhecer os pobres”, daí as palavras dirigidas ao seu filho Tobias: “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar”.
O papa Francisco destaca que desviar o olhar do pobre impede de encontrar “o rosto do Senhor Jesus”. “Somos chamados a ir ao encontro de todo o pobre e de todo o tipo de pobreza, sacudindo de nós mesmos a indiferença e a naturalidade com que defendemos um bem-estar ilusório”, diz.
Francisco alerta que a opulência e a realidade virtual silenciam e transformam os pobres em “imagens que até podem comover por alguns momentos, mas quando os encontramos em carne e osso pela estrada, sobrevêm o fastídio e a marginalização. A pressa, companheira diária da vida, impede de parar, socorrer e cuidar do outro”.
Por isso, agradece aos homens e às mulheres que, como o Bom Samaritano, “vivem a dedicação aos pobres e excluídos e a partilham com eles”.
Estas pessoas, destaca, “não se limitam a dar qualquer coisa: escutam, dialogam, procuram compreender a situação e as suas causas, para dar conselhos adequados e indicações justas. Estão atentos tanto à necessidade material como à espiritual, ou seja, à promoção integral da pessoa”.
“O Reino de Deus torna-se presente e visível neste serviço generoso e gratuito”, diz o papa, que também apela a não cair na retórica ao falar dos pobres, pois são pessoas com rostos, histórias, corações e almas, com méritos e defeitos.
“O Livro de Tobias ensina-nos a ser concretos no nosso agir com e pelos pobres. É uma questão de justiça que nos obriga a todos a procurar-nos e encontrar-nos reciprocamente, favorecendo a harmonia necessária para que uma comunidade se possa identificar como tal”, diz o papa Francisco na sua mensagem de 2023.