O papa Pio IX declarou em 8 de dezembro de 1854, através da bula Ineffabilis Deus, que a Santíssima Virgem “foi preservada imune de toda mancha de culpa original desde o primeiro momento de sua concepção”.

A própria Mãe de Deus confirmaria esse dogma quatro anos depois, ao aparecer a santa Bernadette Soubirous em Lourdes, França.

Um dos mais importantes historiadores desses acontecimentos, o padre e teólogo francês René Laurentin, morto em 10 de setembro de 2017, conta que no dia 25 de março de 1858, santa Bernadette acordou no meio da noite, tomada por uma alegria sobrenatural que a levou a ir à gruta de Massabielle, às margens do rio Gave de Pau.

Este sentimento acompanhou Bernadette antes de cada uma das aparições anteriores, mas aquele dia seria especial, porque a menina estava decidida a que a petito Damizelo (pequena Donzela, no dialeto gascão da época) revelasse o seu nome.

Santa Bernadette ensaiava a pergunta havia três semanas, “cerimoniosa como uma reverência”, segundo o padre Laurentin, mas era extremamente difícil para ela lembrar, devido à sua memória fraca, afetada por uma vida de sofrimento físico e extrema pobreza:

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“Você teria a bondade de me dizer quem a Senhora é, por favor?”, perguntou ela corajosamente à Virgem. Mas a frase não saiu como esperado. Santa Bernadette confundia as palavras. Naquele momento, comenta o padre Laurentin, a “Senhora” sorriu: “Estava zombando, como dizia o pároco? Não... havia tanta amabilidade e tanta bondade em seu olhar”.

O padre Laurentin disse que a menina sempre se referiu à aparição desta forma. La petito Damizelo, que sempre se apresentou como uma jovem da idade de santa Bernadette, pequena como ela, que aos 14 anos chegava a 1,40 m de altura. Entre elas existia um “sentimento de cumplicidade” típico de uma amizade, algo que Bernadette sempre defendeu com bravura durante os duros interrogatórios civis e eclesiásticos.

A menina não ia se render, repetiria quantas vezes fosse necessário até conseguir. Ela começou a frase mais uma vez, e a mesma coisa. Desta vez o sorriso da “Senhora” ficou ainda maior. Na verdade, o padre Laurentin escreve que a pequena Donzela caiu na gargalhada. Ela repetiu novamente e ainda não conseguiu.

Não foi necessário que Bernadette conseguisse se expressar bem. Na quarta tentativa a “Senhora” parou de rir, passou o rosário para o braço direito, separou as mãos e estendeu-as com as palmas voltadas para o chão. “Daquele gesto simples emanava majestade”, conta o padre Laurentin.

“Sua silhueta de menina adquiriu grandeza. Sua juventude, um peso de eternidade. Com um movimento rítmico, juntou as mãos na altura do peito, ergueu os olhos para o céu e disse em gascão: 'Que soy era Immaculada Councepciou’ (Eu sou a Imaculada Conceição)”.