8 de dez de 2023 às 15:00
O bispo emérito do Xingu dom Erwin Kräutler se disse decepcionado com o papa Francisco que não incluiu a ordenação de homens casados e de mulheres na exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, como tinha sido pedido no documento final do Sínodo da Amazônia, de 2019.
Para o bispo, nada mudará com o Sínodo da Sinodalidade convocado pelo papa que teve sua primeira etapa em outubro deste ano e terá a segunda e conclusiva em outubro de 2024
Em entrevista ao site católico suíço cath.ch, traduzida ao português pelo Instituto Humanitas Unisinos, dom Kräutler disse que em sua diocese “80 a 90% dos católicos só celebram a Eucaristia uma vez por ano”. “É um escândalo. A solução seria ordenar padres entre homens e mulheres que se formaram nas comunidades eclesiais. Poderiam assim celebrar a Eucaristia todos os domingos”.
Dom Erwin Kräutler nasceu em Koblach, Áustria, em 12 de julho de 1939. É missionário da Congregação do Preciosíssimo Sangue. Chegou ao Brasil em 1965 um ano depois da instalação da ditadura militar no Brasil e no ano do encerramento da concílio Vaticano II.
Em 1980, foi nomeado bispo coadjutor da prelazia do Xingu. Na época, a Teologia da Libertação, interpretação do cristianismo baseada na análise marxista, era dominante no Brasil e dom Kräutler um de seus principais defensores na hierarquia.
Em 2 de setembro de 1981, foi nomeado bispo prelado do Xingu, função que exerceu até 2015, quando teve seu pedido de renúncia por idade aceito pela Santa Sé. Foi presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil).
Em 2019, participou da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, o Sínodo da Amazônia, no Vaticano. Na ocasião, defendeu a ordenação de diaconisas e de homens casados de provada virtude, os chamados viri probati.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
Na entrevista a cath.ch, dom Kräutler lembrou que ele e outros padres sinodais propuseram a ordenação de homens casados e de mulheres no Sínodo da Amazônia, “porque o papa Francisco havia declarado a nós – os bispos – antes do Sínodo: ‘Façam-me propostas corajosas’”.
“Mas, no fim, ele não aceitou, o que me frustrou e decepcionou muito. Durante o Sínodo, 80% dos bispos votaram a favor dos viri probati e do diaconato feminino. É inconcebível que o papa Francisco não o tenha mencionado na sua exortação apostólica. Um confrade muito tradicional me disse: ‘Tenho quatro homens casados que posso ordenar imediatamente. Não entendo por que nossos pedidos não foram implementados’”, disse.
A ordenação de homens casados já foi defendida por outros bispos da Amazônia. Em uma entrevista também a cath.ch em agosto do ano passado, o arcebispo de Manaus (AM), cardeal Leonardo Steiner, disse que “haverá uma maneira” para a autorização de ordenar homens casados. “No rito latino há séculos de considerações e explicações que visam justificar o celibato obrigatório. As necessidades de nossas comunidades mostram que devemos continuar o diálogo”, disse dias antes de ser criado cardeal no Vaticano.
Em maio do ano passado, logo após o anúncio do seu nome entre os novos cardeais que Francisco criaria em agosto, dom Steiner disse que, com esta nomeação, o papa estaria “pedindo a nossas igrejas que assumam o sínodo, especialmente o texto Querida Amazônia e o documento final do sínodo dos bispos para a Amazônia”.
Meses antes, em fevereiro de 2022, dom Steiner comentou em uma entrevista ao site do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre a Assembleia Sinodal Arquidiocesana, que havia convocado em 2021. “É a tentativa de envolver todas as comunidades e as expressões eclesiais no processo sinodal. A escuta realizada como processo sinodal que levou a documento final e a Carta com os quatro sonhos [a Querida Amazônia], iluminará nosso caminho eclesial”, disse.
Mas, para dom Erwin Kräutler essas mudanças não serão aprovadas no Sínodo da Sinodalidade. “Nada resultará disso. Além dos custos, nada foi feito”, disse a cath.ch.
“O problema é que nem todos os temas de reforma são abordados. Na minha opinião, as reformas do futuro seriam inicialmente a ordenação de homens casados e depois o diaconato feminino. A ordenação de mulheres seria o próximo passo”, acrescentou.