15 de dez de 2023 às 16:28
O bispo da Administração Apostólica São João Maria Vianney, dom Fernando Rifan, disse no 2º Congresso Eucarístico Diocesano de Petrolina (PE), no mês passado, que “a missa é uma só, pode variar a sua forma litúrgica, mas ela é uma só. Não se pode dizer que a missa romana antiga não é a missa, nem muito menos dizer que a missa atual promulgada pelo papa são Paulo VI e repromulgada pelo papa são João Paulo II não é a missa”.
“A hermenêutica da continuidade significa que a missa sempre vai continuar até o fim do mundo”, diz dom Rifan. “Pode-se dizer ‘eu gosto mais do rito moçárabe’, ou ‘eu gosto mais do rito bracarense’ “, citando os ritos particulares da Espanha e de Braga, Portugal, como exemplo dos “mais de vinte ritos da Igreja católica. “Mas não se pode dizer que o outro rito não é válido, o outro rito não é católico”.
Hermenêutica da continuidade foi o termo cunhado pelo cardeal Jospeph Ratzinger, depois papa Bento XVI, quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé “para explicar a continuidade na doutrina da igreja”, explicou dom Rifan. “Porque muitos consideravam ou até ainda consideram o Concílio Vaticano II como um marco de uma nova igreja. Assim, interpretavam os ultra progressistas”.
Para o bispo, os ultra tradicionalistas disseram a mesma coisa: “Com o Concílio Vaticano II começou uma nova igreja”. Os ultra progressistas lutaram por implantar essa nova Igreja. Os ultra tradicionalistas para rejeitá-la. “Ambas as posições estão erradas, porque a igreja é Una, Santa, Católica, Apostólica e vai durar até o fim do mundo”, disse dom Rifan.
Dom Rifan ocupa uma posição peculiar dentro da Igreja. Em 2002, foi nomeado bispo da Administração Apostólica São João Maria Vianney, com sede em Campos (RJ) pelo papa são João Paulo II. A administração tem como carisma particular cultivar a liturgia tradicional, anterior à reforma do Concílio Vaticano II.
Pouco depois da promulgação do missal de são Paulo VI, um pequeno grupo de bispos no mundo recusou a nova liturgia e se manteve fiel à liturgia tradicional em latim. O então bispo de Campos, dom Antônio de Castro Mayer, era um deles. Dom Castro Mayer era diretor da União Sacerdotal São João Maria Vianney, um grupo de padres que conservavam a liturgia antiga, a disciplina e os costumes tradicionais.
Dom Fernando Arêas Rifan foi ordenado padre no dia 8 de dezembro de 1974 na catedral basílica menor do Santíssimo Salvador, em Campos dos Goytacazes (RJ) por dom Antônio de Castro Mayer. Em 1991, dom Licínio Rangel sucedeu dom Mayer e Rifan continuava atuando como uma das principais lideranças do grupo.
O grupo, conhecido informalmente como “padres de Campos”, era irregular. Dom Rifan ajudou a negociar a reconciliação com a Santa Sé, celebrada em 2001. No dia 18 de janeiro de 2002, o papa são João Paulo II criou a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney com dom Rifan como bispo.
Assim, o bispo se tornou um dos porta-vozes do rito latino antigo dentro da Igreja. Em 2007, o papa Bento XVI publicou o motu próprio Summorum pontificum, com o qual liberou o uso da liturgia para todos os padres. No ano seguinte, dom Rifan foi convidado para participar da Jornada Mundial da Juventude em Sidney, Austrália, para servir aos jovens ligados à liturgia tradicional.
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“A igreja não vai morrer, a igreja não vai perecer, isso tem a garantia, a presença do seu Divino fundador até o fim dos tempos”, disse dom Rifan em Petrolina. “O cardeal Ratzinger dizia, ‘não se pode dizer que é uma nova igreja porque senão teria acabado a igreja’, nem os ultra progressistas, nem os ultra tradicionalistas podem dizer isso”
O bispo da administração apostólica comentou essa unidade da Igreja que persiste. “A sua unidade é unidade de doutrina, unidade de governo e unidade de culto”.
“Nós aqui conservamos a missa de são Pio V e o povo gosta e continuamos com a licença da Santa Sé”, disse dom Rifan. A missa tradicional também é chamada missa de São Pio V por ter sido promulgada pelo papa Pio V depois do Concílio de Trento, no século XVI.
Dom Rifan contou que, em conversa com o papa Francisco ouviu dele: “eu sou só contra aqueles que usam da missa antiga como modo de combater o concílio e combater a missa atual”. Essa é a justificativa apresentada na carta que acompanhou o motu proprio Traditiones custodes, com o qual Francisco restringiu o uso da liturgia tradicional.
“Eu também sou contra”, disse ter respondido dom Rifan ao papa. “Nós conservamos e queremos dar uma correta linha de direção na missa, na forma antiga, sem desrespeitar o Concílio e nem a missa atual”. O papa teria respondido: “Assim, é uma riqueza na igreja”.
“A hermenêutica da continuidade a partir da Eucaristia quer dizer isso: A eucaristia vai continuar sempre viva, ela é a força da igreja católica, ela é o centro da igreja católica”, concluiu dom Rifan.
Além da unidade de culto, a Igreja tem unidade de governo, explicou dom Rifan. “Um só governo, que é o papa que governa a igreja com os bispos: ubi Petrus, ibi Ecclesia. Onde está Pedro, aí está a Igreja”.
Por fim, dom Rifan falou da unidade de doutrina. “A igreja tem uma doutrina só. Está lá bem expressa no Catecismo da Igreja Católica que é um resumo de tudo aquilo que está no magistério da igreja. Porque o nosso critério de verdade, o critério de verdade para um católico é o magistério da igreja”.