O bispo de Sunyani, dom Matthew Kwasi Gyamfi, presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Gana, disse que a bênção de uniões homossexuais não é permitida no país. A Igreja sequer tem os ritos e orações para tais acordos.

Num esforço para esclarecer a declaração da Santa Sé sobre a bênção de “uniões homossexuais” num webinar organizado pela agência de notícias Catholic Trends, o bispo distinguiu entre a bênção do casamento como instituição e a bênção dada a um indivíduo que a solicita aleatoriamente.

Ele disse que uma seção de católicos interpretou mal a declaração da Santa Sé, Fiducia Supplicans, publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé na segunda-feira (18).

“Parece que muitas pessoas não entendem a diferença entre abençoar coisas diferentes e pessoas diferentes, e as orações especiais que temos para abençoar instituições”, disse dom Kwasi.

“Não abençoamos uniões homossexuais. Se eles vierem até você dizendo ‘Olha, eu sou uma mulher e este é meu marido que é uma mulher’, então a Igreja não permite que o padre abençoe tal arranjo. Nem sequer temos orações e ritos para tais coisas”, disse o presidente da GCBC. “O papa não está dizendo que podemos abençoar uniões homossexuais. A lei da Igreja ignora e abomina tais atos”.

Intitulado “Bênção de uniões homossexuais, pessoas em situações irregulares: por que tanto alvoroço?”, o painel de discussão feito na terça-feira (19), buscou “criar mais clareza” na declaração da Santa Sé sobre a bênção de “uniões homossexuais” e casais em “situações irregulares”.

No seu discurso no painel de discussão, dom Kwasi comparou a diferença entre abençoar um casamento como instituição e o que é referido nos Fiducia supplicans como “dia e noite”.

“Há uma distinção muito nítida, uma distinção tão clara como o dia e a noite, entre abençoar o casamento como instituição e abençoar um indivíduo”, disse ele.

“Temos diferentes orações e diferentes ritos para diferentes coisas”, disse ainda o presidente da conferência episcopal de Gana.

“Quando falamos de bênção como o papa está falando, podemos abençoar qualquer pessoa e todos que a pedirem. Mas para alguém ter seu casamento abençoado, existem orações e ritos especiais pelos quais passamos. As pessoas, portanto, precisam de fazer uma distinção entre as bênçãos que normalmente damos a todos e as bênçãos das instituições”, continuou.

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Dom Kwasi observou que na Igreja Católica nem todos podem receber a forma mais elevada de bênção, que é a eucaristia, e acrescentou: “Depois da missa, porém, qualquer pessoa pode vir e pedir ao sacerdote que os abençoe. Alguns podem até pedir que uma missa seja celebrada para eles. Eles solicitam tais bênçãos para ajudá-los a mudar sua predisposição.”

“Quando duplas homossexuais vêm ao sacerdote pedindo as suas bênçãos, o sacerdote não está abençoando a sua união”, disse dom Kwasi, bispo de Sunyani desde a sua consagração episcopal em junho de 2003.

O bispo ganense fez referência à questão atual em torno das pessoas que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais, transgênero e queer (LGBTQ) respondendo à questão de porque pensava que o papa Francisco tinha escolhido destacar as uniões homossexuais e fazer uma declaração sobre elas.

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“As pessoas LGBTQ têm estado na linha da frente, com muitas pessoas fazendo muitas perguntas sobre elas. Somente quando o papa recebe tais perguntas é que ele esclarece o assunto através de um pronunciamento como a declaração que fez”, disse dom Kwasi.

Outros participantes do webinar da terça (19) disseram ter recebido notícias sobre a declaração da Santa Sé com reações mistas.

A coordenadora da Rede da Juventude Católica para a Sustentabilidade Ambiental na África (CYNESA, na sigla em inglês) em Gana, Francisca Ziniel, disse que a declaração era esperada.

“Isto não era novidade para mim”, disse Francisca, e explicou: “Olhando para os vários pronunciamentos que o papa tinha feito sobre o assunto, eu sabia que algo assim iria acontecer, mais cedo ou mais tarde. Só que eu não sabia que seria tão cedo.”

O documento, porém, surpreendeu a jovem ganense que se aprofundou no estudo do seu conteúdo.

Ela disse que os seus esforços para explicar o conteúdo do documento aos católicos irados no país da África ocidental foram inúteis.

“A maioria dos nossos irmãos e irmãs católicos não estava interessada em ler nenhum documento. Eles já haviam tirado suas conclusões com base nas manchetes da internet. Eles já começaram a importar os seus próprios fatos e verdades sobre o assunto”, disse a responsável pela CYNESA.

Peter Owusu Ansah, ministro leigo em Gana, exortou os católicos no país da África ocidental a serem mais proativos na resposta a questões sobre a Igreja que parecem ser controversas.

Expressando os seus receios sobre o declínio da população católica em Gana, Ansah disse: “Já sabemos que os nossos números estão diminuindo, e não ajuda o fato de muitos do nosso povo não serem muito profundos no que diz respeito à fé. Eles não deveriam estar ouvindo algumas dessas coisas.”

Os bispos católicos em Gana opuseram-se explicitamente às pessoas LGBTQ+. Na sua declaração de 11 de dezembro, os membros do GCBC esclareceram a sua posição sobre a homossexualidade e expressaram o seu apoio à Lei de Promoção dos Direitos Sexuais Humanos Adequados e dos Valores Familiares de Gana, que procura criminalizar as pessoas LGBTQ+.

Os bispos católicos observaram que os atos homossexuais são “intrinsecamente desordenados e não devem, em caso algum, ser aprovados”.

“Assim, embora a Igreja não condene os homossexuais por serem homossexuais, ela condena os atos homossexuais que praticam”, disseram.