“Em alguns ambientes religiosos” católicos, estão “sofrendo as consequências de um moralismo exacerbado”, disse ontem (25), o arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jaime Spengler ao programa Gaúcha Atualidade da rádio Gaúcha. “A moral é importante, a moral faz parte do convívio social, e ela marca uma ou outra tradição religiosa de uma forma característica”, disse o arcebispo. “Agora, não podemos cair em moralismos exacerbados que não levam a nada, excluem”.

O arcebispo comentava a declaração Fiducia supplicans publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e aprovada pelo papa Francisco no dia 18 de dezembro que autoriza bênçãos a casais irregulares e uniões homossexuais. A declaração tem tido uma recepção muito variada no mundo com alguns bispos e conferências episcopais rejeitando completamente sua aplicação, outros abraçando-a alegremente e outros estabelecendo condições particulares para sua aceitação em cada diocese.

Segundo dom Jaime, o documento “fala da prática da bênção hoje, entre nós” e “existe uma longa tradição que aparece já, nos primórdios da história sagrada da bênção”. “A bênção a pessoas, a objetos, a situações, isso sempre esteve presente também na prática da comunidade eclesial”.

Dom Jaime caracterizou como “situações delicadas” os “casais de segunda, terceira união, talvez até quarta” e “casais homoafetivos”, usando o termo criado pela desembargadora gaúcha Maria Berenice Dias. “E eu faço uma pergunta muito simples, que a mim me orienta e orienta também a ação: são pessoas?”, perguntou dom Jaime. “Se são pessoas merecem o nosso respeito também e quando se aproximam pedindo uma bênção, eu imagino que buscam também uma palavra de conforto, de esperança e talvez o desejo até de fazer frente a própria situação que vivem. Nós não podemos negar!”.

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“Agora também não podemos compactuar, digamos assim, com o comportamento que vá contra aquilo que para nós são valores fundamentais: o respeito pelo outro, o respeito pelo próprio corpo, o respeito pela própria individualidade”, afirmou o presidente da CNBB

Com relação ao batismo de filhos de casais homoafetivos, Spengler disse: “para nós católicos, o batismo é um direito da criança. Não do pai ou dos pais, ou da mãe ou das mães. É um direito da criança e não podemos negar”.

“Estamos tratando, estamos nos confrontando, sendo desafiados por pessoas. E mesmo diante destas questões polêmicas, eu diria assim, somos instigados a pensar e buscar saídas de uma forma ainda mais radical no sentido de construção, de compreensões que possam vir de encontro a toda necessidade autenticamente humana”, declarou.

“Na nossa atividade, seja como religiosos, mas seja também na sociedade civil que tem o cristianismo, a experiência judaica e cristã, não podemos pensar que estamos nos ocupando com anjos”, reforçou dom Jaime.