O bispo emérito do Marajó, dom José Luís Azcona Hermoso, poderá continuar morando no território da prelazia. No início de dezembro, a prelazia havia informado que dom Azcona seria obrigado a deixar a ilha até janeiro por determinação transmitida pelo núncio apostólico no Brasil, dom Giambattista Diquattro.

Em um comunicado, o administrado diocesano da prelazia do Marajó, padre Kazimierz Antoni Skorki, disse que foi informado hoje (26) pelo bispo nomeado da prelazia do Marajó, dom José Ionilton, “que a nunciatura apostólica enviou uma carta para ele”, comunicando que o bispo emérito dom José Luís Azcona Hermoso “não precisará mais ‘transferir-se da residência na qual vive atualmente’”.

“Também o Dicastério dos Bispos sugere que a data da posse canônica seja adiada e que a nova data seja marcada com o núncio apostólico”, acrescentou o comunicado.

Dom José Luís Azcona é um religioso espanhol da Ordem dos Agostinianos Recoletos. Foi bispo da prelazia do Marajó de 1987 a 2016. Mesmo após sua renúncia, continua vivendo na ilha.

Em 2019, no contexto do Sínodo da Amazônia, foi uma das vozes conservadoras a se manifestar. O bispo emérito não participou do sínodo no Vaticano, mas publicou artigos com críticas ao Instrumentum Laboris, ao sínodo e ao documento final. Também criticou a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM). Ele classificou a REPAM como uma “instituição de pensamento único” e disse que “isto é ameaçador até por ser um perigo para a liberdade de pensamento na Igreja da Amazônia. É uma Amazônia imposta”.

Em 2009, dom Azcona denunciou casos de pedofilia e exploração sexual de crianças e adolescentes no Marajó por políticos e empresários locais. A denúncia deu origem à CPI da Pedofilia na Assembleia Legislativa do Pará e no Congresso Nacional.

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No último dia 9 de dezembro, o administrador diocesano, padre Kazimierz Skorki, disse em um comunicado que o núncio apostólico no Brasil tinha ligado para dom Azcona informando que ele não poderia mais morar no território da prelazia, sem dizer quais seriam os motivos para essa decisão.

Segundo o jornal O Liberal, do Pará, dom Azcona deveria deixar o Marajó até 13 de janeiro, data marcada para a posse o novo bispo, dom José Ionilton de Oliveira, nomeado pelo papa Francisco no início de novembro. Até então, dom Ionilton era bispo da prelazia Itacoatiara (AM). Ele também é secretário da REPAM-Brasil.

Depois do anúncio de que dom Azcona deveria deixar o território da prelazia do Marajó, marajoaras fizeram manifestações em diferentes locais da prelazia e nas redes sociais, onde adotaram a hashtag #FICADOMAZCONA, pedindo a permanência do bispo emérito. Instituições do Marajó também publicaram notas “de apoio à permanência de do Azcona” na prelazia.

Em uma carta aberta, os fiéis do Marajó chegaram a dizer que “a posse do novo bispo”, dom José Ionilton, “com participação e adesão popular” poderia “estar seriamente comprometida” e que a “a revogação da proibição da permanência” de dom José Azcona “em solo marajoara” era “condição sine qua non para que” o “povo marajoara e todos que o respeitam” pudesse “superar esse trauma inicial e proporcionar ao novo bispo um sentimento de acolhimento e adesão coletiva”.

Os padres do Marajó também pediram que a decisão de proibir dom Azcona de ficar na prelazia fosse revista. Em uma nota do dia 13 de dezembro, a prelazia informou que os padres tinham se reunido no encontro anual do clero com o bispo nomeado dom José Ionilton. Na nota, os sacerdotes expressaram que “o desejo do povo pela permanência de dom José Azcona no território marajoara” correspondia ao deles.

Também informaram que tinham enviado uma carta à nunciatura apostólica no Brasil, “juntamente com dom José Ionilton, em espírito de comunhão”, pedindo “esclarecimentos sobre a decisão pela saída de dom José Azcona do território da prelazia do Marajó” e solicitando “que tal decisão, para o bem dos fiéis”, fosse “revista”.