28 de dez de 2023 às 09:52
O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF), cardeal Víctor Manuel Fernández, disse, diante da resistência de bispos e conferências episcopais a aplicar a declaração Fiducia supplicans, que “é responsabilidade de cada bispo local fazer esse discernimento”.
A declaração do DDF publicada em 18 de dezembro último introduz uma distinção entre bênçãos litúrgicas e pastorais, que atribui ao papa Francisco. As bênçãos pastorais podem ser dadas a casais em “situações irregulares” e a “uniões do mesmo sexo”, considerando que, feitas com certos cuidados, não deveriam ser confundidas com uma aprovação de conduta ou circunstância contrária à doutrina.
Numa entrevista ao jornal espanhol ABC, o cardeal Fernández responde às críticas e divergências expressas por outros cardeais, bispos e conferências episcopais, dizendo que “se o texto for lido serenamente, pode-se ver que ele sustenta com muita clareza e simplicidade a doutrina católica de sempre sobre o matrimônio e a sexualidade”.
O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 1.640: “O vínculo matrimonial é, portanto, estabelecido pelo próprio Deus, de maneira que o matrimônio ratificado e consumado entre batizados não pode jamais ser dissolvido”.
O catecismo também ensina, no número 2.357, que: “Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (103) a Tradição sempre declarou que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados” e “não podem, em caso algum, ser aprovados”.
Segundo o cardeal argentino, os críticos da Fiducia supplicans “não poderão discordar dessa doutrina”. Para ele as objeções ao documento se referem “à inconveniência de realizar nos seus contextos regionais bênçãos que facilmente se confundiriam com uma legitimação de uma união irregular”.
Especialmente na África, onde “há uma legislação que penaliza com prisão o simples fato de se declarar gay, imagine uma bênção”, disse o cardeal, que conclui dizendo que “é responsabilidade de cada bispo local fazer esse discernimento na sua diocese ou, em todo caso, dar mais orientações”.
Divisão de opiniões sobre a Fiducia supplicans
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Fiducia supplicans foi recebida de modo divergente ao redor do mundo.
Bispos da Alemanha, Áustria e Bélgica receberam bem a declaração, e alguns deles até disseram que os padres não podem se recusar a dar essas bênçãos.
Bispos e conferências episcopais do Malaui, Zâmbia e do Cazaquistão proibiram as bênçãos propostas pelo DDF.
“Bênçãos não rituais” e não um “matrimônio”
O cardeal Fernández disse à ABC que a bênção informal ou “pastoral” promovida por Fiducia supplicans não significa, no caso das pessoas homossexuais, “aceitar um matrimônio, nem é uma ratificação da vida que levam, nem é uma absolvição. É um simples gesto de proximidade pastoral que não tem as mesmas exigências de um sacramento”.
“Teremos que nos acostumar a entender que se um padre dá este tipo de bênçãos simples não é um herege, não está ratificando nada, nem está negando a doutrina católica sobre o matrimônio”, acrescentou.
Respondendo sobre se esta declaração é um primeiro passo para a aceitação da conduta homossexual ou para a equiparação do casamento com as uniões entre pessoas do mesmo sexo, o cardeal Fernández disse: “Essa percepção é totalmente incorreta, e quem diz isso ou não leu o texto ou tem 'mau-humor', permita-me a expressão. A declaração afirma claramente e até o cansaço que são bênçãos não rituais, de forma que não sejam interpretadas como um matrimônio”.