12 de jan de 2024 às 15:13
Os atos de violência ocorridos no Equador nos últimos dias e a declaração do estado de conflito armado interno por parte do governo chocaram a opinião pública internacional. O país vive as consequências de um processo em que o tráfico de drogas desempenha um papel central.
1. Nos últimos anos a violência aumentou no Equador
O Equador, com aproximadamente 18 milhões de habitantes, experimentou um aumento notável no número de assassinatos e violência por parte de grupos de narcotraficantes desde 2021.
Segundo dados recentes, 2023 terminou com mais de 7,6 mil homicídios, superando largamente 2022, quando foram cometidos 4,6 mil crimes, e 2021, em que ocorreram 2,1 mil homicídios.
Assim, os casos mais notáveis recentemente foram o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio em agosto de 2023 e a tomada violenta do canal TC na terça-feira (9).
Para compreender este aumento da violência, é preciso voltar a 2016, quando na Colômbia o governo assinou o acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que, embora fosse uma guerrilha de esquerda, abrigava o narcotráfico no território que controlava.
O vazio deixado por este grupo passou a ser disputado por outras organizações locais e estrangeiras, como o Cartel Mexicano de Sinaloa, os sucessores dos grupos paramilitares colombianos e os dissidentes das FARC, formados por guerrilheiros que não aceitaram o acordo de 2016.
Embora a Colômbia, o Peru e a Bolívia sejam os maiores países produtores de coca, o porto equatoriano de Guayaquil tornou-se a principal porta de entrada da droga para os mercados internacionais.
2. A pobreza alimenta a violência no Equador
Junto ao tráfico de drogas, o relator da ONU sobre pobreza extrema e direitos humanos, Olivier De Schutter, exortou em setembro de 2023 a levar em consideração que a pobreza é também uma das raízes mais profundas da violência no Equador, ao indicar que a falta de oportunidades de emprego significa que os jovens são facilmente recrutados por grupos criminosos.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos, até junho de 2023, 27% da população equatoriana estava na pobreza e 10,8% na pobreza extrema.
E enquanto nas cidades a pobreza chegou a 18% e a pobreza extrema a 5,2%; “nas áreas rurais, a pobreza atingiu 46,4% e a pobreza extrema 22,6%”.
3. A fuga dos líderes criminosos
Em 23 de novembro de 2023, Daniel Noboa assumiu a presidência do Equador para governar só até maio de 2025, pois foi eleito para completar o mandato de Guillermo Lasso.
Embora seja um período curto, Noboa se propôs a enfrentar a violência e para isso prometeu medidas que combatessem o narcotráfico e que lhe permitiriam recuperar o controle dos centros penitenciários, que há anos foram palco de confrontos entre gangues que culminaram em massacres.
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Porém, no domingo (7), o país soube da fuga de Adolfo Macías Aguilar, conhecido como “Fito” e líder de Los Choneros, que segundo InSight Crime é uma das maiores organizações criminosas do Equador ligadas ao narcotráfico.
Segundo o secretário de Comunicação do governo, Roberto Izurieta, estava previsto o envio de Macías, que desde 2011 cumpria pena de 34 anos de prisão, para um presídio de segurança máxima, por isso suspeita-se que alguém o tenha alertado para fugir.
Na manhã de segunda-feira (8), ocorreram tumultos em pelo menos seis prisões com detenção forçada de agentes penitenciários.
Na terça-feira (9), em pleno estado de emergência, Fabricio Colón Pico, conhecido como “Capitão Pico”, líder da gangue Los Lobos e suspeito de participar de um suposto plano de ataque à promotora do Equador, Diana Salazar, escapou.
4. O presidente declara que o Equador enfrenta um conflito armado interno
Por causa da fuga de “Fito” e dos tumultos nas prisões, o presidente Daniel Noboa assinou na segunda-feira (8), o Decreto 110 que declarou “o estado de exceção” em todo o país "devido a graves perturbações internas", inclusive nos centros penitenciários.
A resposta dos grupos criminosos foi cometer ataques em vários pontos do Equador, sequestrar policiais e assumir o controle das instalações do canal TC de Guayaquil.
Na terça-feira (9), Noboa assinou o decreto 111 que modifica o anterior e reconhece “a existência de um conflito armado interno” no Equador, com o objetivo de prever “a mobilização e intervenção das Forças Armadas e da Polícia Nacional” contra o “crime organizado internacional, organizações terroristas e atores beligerantes não estatais”.
O decreto menciona as 22 organizações envolvidas e ordena às Forças Armadas que “realizem operações militares” contra elas “de acordo com o direito humanitário internacional e respeitando os direitos humanos”.
Noboa disse à Rádio Canela que o Equador luta contra “grupos terroristas” que têm mais de 20 mil membros.
5. O apelo da conferência episcopal
A Conferência Episcopal do Equador publicou um comunicado na quarta-feira (10) pedindo que a população não caia no pânico que as organizações criminosas querem semear, nem na ingenuidade de que a responsabilidade cabe exclusivamente ao governo.
“A violência, de onde quer que venha, deve nos encontrar olhando para frente e com a força necessária para que o Equador seja o que sempre foi, um lugar de paz, de trabalho, de fraternidade”.
A conferência pediu que se confie a Deus a integridade de cada equatoriano e a estabilidade do Estado, “como garantia de que a paz retornará o mais rápido possível”. “Somos um país de fé”.