16 de jan de 2024 às 16:10
O padre Tirayr Hakobyan, natural de Vanadzor, na Armênia, denunciou de Roma a "situação dramática" dos cristãos armênios expulsos de suas casas em Nagorno-Karabakh, cercados nos últimos meses pelo governo do Azerbaijão.
Segundo ele, o Azerbaijão está transformando igrejas em mesquitas e eliminando qualquer vestígio armênio na região, com o intuito de "redefinir a história" sob o olhar passivo da comunidade internacional.
O conflito entre Armênia e Azerbaijão
A Armênia e o Azerbaijão estão em conflito por causa do Nagorno-Karabakh desde 1988. Atualmente, a região é reconhecida internacionalmente como parte do Azerbaijão, embora fosse quase totalmente habitada por cristãos armênios.
Os armênios étnicos de Nagorno-Karabakh reivindicam independência.
O conflito se agravou desde 19 de setembro de 2023, quando o governo azerbaijano lançou uma ofensiva militar depois de um bloqueio de nove meses.
Mais de 100 mil pessoas se deslocaram nos últimos dias para a fronteira da Armênia em busca de refúgio.
"Eles estão transformando igrejas em mesquitas"
Ao passar pela capital italiana, o arquimandrita da igreja apostólica armênia na Europa Ocidental lamentou que esse conflito "tenha sido esquecido" e que o único objetivo do Azerbaijão seja expulsar os armênios de suas terras e "subjugá-los sob suas regras".
"Não há mais armênios em Nagorno-Karabakh, está totalmente vazio", lamentou padre Hakobyan, ao mesmo tempo em que denunciou que o Azerbaijão, onde 95% da população é muçulmana, está convertendo igrejas em mesquitas e pretende "eliminar qualquer vestígio da Armênia em Nagorno-Karabakh" com o objetivo de "redefinir a história".
Segundo o padre, "a igreja apostólica armênia em Nagorno-Karabakh tem um patrimônio muito grande, há muitas igrejas armênias dos séculos V e VI que foram completamente destruídas".
Ele denunciou que o Azerbaijão "paga muito dinheiro a países, até mesmo a países europeus, para falsificar a história. Hoje em dia é muito fácil falsificar algo, e meu pedido é que denunciem essa mentira", pediu o padre.
"Eles querem arruinar tudo e reconstruir uma nova terra dizendo que ela fazia parte do Azerbaijão", disse.
Padre Tirayr Hakobyan ressaltou que "não é certo destruir igrejas" e apontou que a cúpula da catedral de Ghazanchetsots, também conhecida como a catedral de Cristo Salvador e a catedral de Shushi, uma das principais igrejas apostólicas armênias que foi destruída após um bombardeio, "foi substituída por uma cúpula na forma de uma mesquita, porque a intenção deles é tomar a cultura armênia".
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Ele ressaltou que os armênios sempre viveram em paz com os muçulmanos e respeitaram seus lugares sagrados. Ele também lembrou que a religião para os armênios "é um componente de sua identidade. Ser armênio significa ser cristão", declarou.
Ele esclareceu ainda que dos doze milhões de armênios no mundo, três milhões vivem na Armênia. "Como cristãos, os armênios sempre respeitaram outras nações e viveram em paz em outros países. No Irã, em Dubai, no Líbano ou na Síria, sempre vivemos juntos sem nenhum problema porque respeitamos os muçulmanos e seu modo de vida".
"Mas se um povo vem para absorver outro povo, isso é um perigo. Eles dizem que nossa cultura é a cultura deles", denunciou.
Um conflito silenciado por vários interesses
O padre explicou que o Azerbaijão se encontra em um enclave "onde os interesses de grandes países se confrontam".
Ele explicou que "o gás da Rússia passa pelo Azerbaijão, que revende esse gás, e é por isso que nenhum país quer ofender o Azerbaijão".
Referindo-se à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, ele enfatizou que "o mundo condena a Rússia pela invasão. O Azerbaijão fez o mesmo e o mundo aceita isso. Estamos nos sentindo sozinhos".
"Não há esperança para as famílias"
Padre Hakobyan lamentou que "todas as casas foram esvaziadas e roubadas, ninguém levou nada consigo, eles tiveram apenas um dia depois do ataque. Seus pertences foram levados pelos soldados".
O sacerdote disse ter testemunhado o desespero dos cristãos expulsos de suas casas. "Pude visitar várias famílias e não encontrei um pingo de esperança.
"Em Nagorno-Karabakh, eles começaram do zero, construíram tudo esperando um belo futuro e agora têm que começar tudo de novo, não há esperança. É uma situação muito triste, que tem a ver com dificuldades econômicas, mas também psicológicas, e eles precisam de ajuda imediata", ressaltou.
Entre as famílias deportadas, havia cerca de 30 mil crianças que ficaram "dez meses sem infância", enfatizou o padre.
"É um sofrimento contínuo. Eles não queriam ir para longe da fronteira para estarem o mais próximo possível de suas casas, mas ninguém está falando sobre o retorno deles, talvez eles nunca mais possam voltar".