31 de jan de 2024 às 10:04
“Se uma pessoa nunca se irasse, se não se indignasse diante de uma injustiça, se perante a opressão de uma pessoa frágil não sentisse tremer algo nas suas entranhas, então isto significaria que aquela pessoa não é humana, e muito menos cristã”, disse o papa Francisco ao falar sobre a “santa indignação”.
Na Audiência Geral de hoje (31), o papa Francisco continuou com seu ciclo de catequeses sobre os vícios e as virtudes e refletiu sobre a ira, “um vício particularmente tenebroso”.
Francisco disse que a pessoa dominada por esse vício "tem dificuldade de esconder este ímpeto: reconhecemo-lo pelos movimentos do seu corpo, pela agressividade, pela respiração ofegante, pelo olhar sombrio e carrancudo".
Destacou que a ira muitas vezes é desencadeada não contra o culpado, "mas contra o primeiro desventurado" que aparece.
O papa lamentou as ocasiões em que os homens "reprimem a ira no lugar de trabalho, demonstrando-se calmos e tranquilos, mas, quando chegam a casa, tornam-se insuportáveis para a esposa e os filhos".
"A noite não deve ser confiada ao diabo"
Para Francisco, a ira também é "um vício alastrante", pois é capaz de “tirar o sono e de nos levar a tramar em continuação na mente, sem conseguir encontrar uma barreira aos raciocínios e aos pensamentos”.
“Quando a relação chega a este nível de degeneração, já se perdeu a lucidez. A ira faz perder a lucidez. Pois às vezes uma das caraterísticas da ira é a de não conseguir atenuar-se com o tempo”, disse.
Por isso, o papa Francisco enfatizou a importância de qualquer mal-entendido "se dissolva imediatamente, antes que o sol se ponha".
Ele reiterou que "se durante o dia pode surgir algum desentendimento, e duas pessoas já não conseguirem compreender-se, sentindo-se repentinamente distantes, a noite não deve ser confiada ao diabo".
"O vício manter-nos-ia acordados na escuridão, a remoer as nossas razões e os erros indescritíveis, que nunca são nossos, sempre do outro”, disse.
O papa destacou que uma pessoa com raiva "nunca é capaz de reconhecer os próprios defeitos, as próprias falhas".
"Todos temos a conta no vermelho"
O papa Francisco observou que Jesus nos faz rezar no "Pai-Nosso" pelas relações humanas, que definiu como "um terreno minado: um plano que nunca está em perfeito equilíbrio".
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Destacou que "nem sempre amamos a todos na medida certa" e que muitas vezes "não restituímos o amor que lhe era devido".
Francisco, ressaltou que "somos todos pecadores, todos, e todos temos a conta no vermelho”. “Por isso, todos devemos aprender a perdoar para ser perdoados", disse.
O papa Francisco disse que “o que impede a ira é a benevolência, a abertura de coração, a mansidão, a paciência”.
Existe uma "santa indignação"
Depois de falar sobre os perigos desse vício, o papa Francisco ressaltou que "nem tudo o que nasce da ira está errado".
Ele reiterou que "em nós subsiste uma parte irascível, que não pode nem deve ser negada", como as paixões inconscientes que acontecem como experiências de vida.
O papa disse que "não somos responsáveis pelo nascimento da ira, mas sempre pelo seu desenvolvimento". “E às vezes é bom que a ira seja desabafada de maneira correta”, acrescentou.
"Se uma pessoa nunca se irasse, se não se indignasse diante de uma injustiça, se perante a opressão de uma pessoa frágil não sentisse tremer algo nas suas entranhas, então isto significaria que aquela pessoa não é humana, e muito menos cristã”, disse.
O papa Francisco chamou isso de "santa indignação", que não é ira, "mas sim um movimento interior". Francisco lembrou que Jesus experimentou esse sentimento com os comerciantes no Templo, onde realizou "uma ação forte e profética, ditada não pela ira, mas pelo zelo pela casa do Senhor".
Por fim, destacou que, com a ajuda do Espírito Santo, é possível "encontrar a medida certa das paixões, educá-las adequadamente, a fim de que se voltem para o bem, não para o mal".
"Na guerra há tanta crueldade"
Ao final da catequese, o papa Francisco pediu o fim das guerras e lamentou a crueldade que existe nelas.
O papa pediu que "o grito de dor” das vítimas das guerras, como as do Oriente Médio e da Ucrânia, “toque os corações dos responsáveis pelas nações e suscite projetos de paz".