No dia 5 de fevereiro de 1597, o governante unificador do Japão, Toyotomi Hideyoshi, conhecido como Taikosama, ordenou que o jesuíta são Paulo Miki e 25 outros religiosos e leigos fossem crucificados na colina Nishizaka, Nagasaki. Foi a primeira crucificação coletiva em 15 séculos.

O grupo dos 26 mártires do Japão, como são conhecidos, é formado por três jesuítas, seis franciscanos e leigos entre estrangeiros e japoneses.

Eram são Paulo Miki, são Paulo Suzuki, são Francisco, carpinteiro de Kyoto, são Cosme Takeya, são Tomás Kozaki, são Pedro Sukejiro, são Miguel Kozaki, são Leão Karasumaru, são Diego Kisai, são Paulo Ibaraki, são João de Gotoo, são Joaquim Sakakibara, são Luís Ibaraki, santo Antônio, são Matias, são Francisco, médico de Kyoto, são Tomás Dangui, são João Kinuya, são Ventura, São Pedro Batista, são Martinho da Ascensão, são Felipe de Jesus , são Gonzalo García, são Francisco Blanco, são Francisco de São Miguel e São Gabriel.

Antes de serem crucificados, todos tiveram as orelhas esquerdas cortadas e foram obrigados a caminhar na neve durante cerca de mil quilômetros, de Kyoto a Nagasaki, para assustar aqueles que pretendiam tornar-se católicos.

Todos foram amarrados com cordas e correntes nas pernas e nos braços. Eles também foram amarrados a um tronco com um anel de ferro em volta do pescoço.

Segundo o escrito A Colina dos Mártires, do beato Diego Yuki, testemunha que se tornaria mártir anos depois, quando foram transferidos para a Colina Nishizaka, os mártires rezavam o Rosário com “as mãos atadas”, enquanto os pés descalços “marcavam pegadas avermelhadas no caminho áspero”.

“Vale a pena parar para contemplá-los. Já se passou um mês desde que deixaram Kyoto, depois de sofrerem a mutilação da orelha esquerda. Um mês orientados para o seu Calvário, renovando cada manhã a sua decisão, oferecendo cada noite o dia difícil. Esse mês de via-sacra, em pleno inverno, marca um percurso espiritual”, escreveu ele.

Sobre são Paulo Miki, o grande pregador jesuíta de origem japonesa, o beato Yuki disse: “Ele continuava sendo o homem sereno, dono de si, que sabia medir o alcance de cada detalhe. O seu instinto de pregador fê-lo descobrir naquela sentença a ocasião para uma profissão final de fé, para proclamar livremente aquilo em que acreditava e amava”.

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“Ele se afirmou na cruz, olhou para a multidão e gritou: 'Todos vocês que estão presentes, escutem-me'”, disse ele.

Segundo o beato, são Paulo Miki disse: “Não sou das Filipinas, mas sou japonês de nação e irmão da Companhia de Jesus. Não cometi nenhuma falta; morro apenas por ter pregado a lei de Nosso Senhor Jesus Cristo. Estou muito feliz por morrer por esta causa. Tenho isso por causa de um grande benefício que o Senhor me faz. E já que estou nesta hora em que vocês podem acreditar que não vou mentir para vocês, certifiquem-se e acreditem, que não há outro caminho para o homem ser salvo a não ser o dos cristãos”.

“E como a lei dos cristãos ordena perdoar nossos inimigos e aqueles que nos fazem mal, digo que perdoo Taikosama e todos aqueles que tiveram parte nesta minha morte. Não tenho nenhum ódio por Taikosama, mas desejo que ele e todos os japoneses se tornem cristãos”, continuou são Paulo Miki.

Por fim, segundo o beato Yuki, o santo voltou-se para os seus companheiros e exclamou: “Senhor, nas tuas mãos eu entrego o meu espírito. Saiam ao encontro dos santos de Deus”.

No domingo, 24 de novembro de 2019, o papa Francisco visitou o Monumento aos Mártires de Nagasaki, onde foi recebido pelo diretor do museu, um padre e irmão jesuíta. Ele recebeu de uma família um arranjo de flores que colocou em frente ao memorial onde estão as relíquias dos 26 mártires.

“Neste lugar nos unimos também aos cristãos que hoje em várias partes do mundo sofrem e experimentam o martírio por causa da sua fé”, disse naquele momento o papa aos presentes.

São Paulo Miki e os seus amigos não foram os únicos mártires da Igreja no Japão. Em 24 de novembro de 2008, outros 188 mártires, assassinados entre 1603 e 1639, foram beatificados, pois o cristianismo havia sido proibido por ser considerado um “elemento de influência ocidental e um perigo para a ordem social e religiosa”. “Entre estes mártires estão leigos, mulheres, crianças e alguns religiosos. Quem liderou a lista foi o padre jesuíta Pierre Kibe.