7 de fev de 2024 às 09:18
Durante uma missa celebrada numa paróquia administrada por jesuítas na Cidade do México, um padre abençoou uma união homossexual e justificou o ato com base na declaração Fiducia supplicans do Dicastério para a Doutrina da Fé da Santa Sé.
No domingo, 28 de janeiro, no final da missa das 19h (horário local), um par do mesmo sexo subiu até um dos lados do altar da paróquia da Sagrada Família, no bairro Roma Norte, onde o padre redentorista americano Patrick Keyes lhes deu a bênção.
Embora tenha sido uma missa dominical aberta a todos os fiéis, a celebração das 19h do dia 28 de janeiro chamava-se “Missa pela inclusão” e foi convocada por diversas organizações LGTB (lésbicas, gays, transgêneros e bissexuais).
Ao publicar fotografias da missa, o “Coletivo Teresa de Cepeda y Ahumada” expressou através das suas redes sociais: “Obrigado a todxs xs que participaram”.
O padre Gonzalo Rosas disse à ACI Prensa que esta “Missa pela inclusão” é uma iniciativa que surge para “acompanhar, ouvir, não julgar, não desqualificar” as pessoas LGBT.
Segundo o padre jesuíta, na zona onde se situa a sua paróquia há “muita presença de diversidade sexual”.
Nestes eventos, disse, a missa é celebrada “como qualquer missa”, mas “eles fazem a homilia”, disse o padre jesuíta.
“Choque total”
Entre os participantes da missa dominical estava Cindy Ochoa, que contou à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, sobre a sua surpresa e “choque total” com a bênção.
Segundo relatou, a bênção foi anunciada durante os “avisos paroquiais” do padre jesuíta e pároco do templo, padre Gonzalo Rosas. Sem dar detalhes, o padre informou à comunidade que seria dada “uma bênção especial a um casal de jovens que está aqui”.
Ochoa disse que no final da missa, o padre Patrick Keyes aspergiu água benta sobre todos os fiéis presentes. Depois, o par homossexual aproximou-se do altar e “o padre estrangeiro [padre Patrick Keyes] não sei que palavras lhes disse, mas abençoou-os”.
Como recordou Ochoa, o padre Gonzalo Rosas disse aos que estavam no templo que “[o par homossexual] não está se casando”. “É só uma bênção”.
“Não estou exagerando, senti uma dor no coração. Eu disse: não, não pode ser”, disse a mulher à ACI Prensa.
Padre jesuíta reconhece que foi um “grande erro”
Entrevistado pela ACI Prensa, o padre Gonzalo Rosas admitiu que a forma como a bênção foi dada foi um “grande erro”.
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Naquele domingo, lembrou ele, o padre Keyes lhe disse durante a missa que um par homossexual havia pedido a bênção.
“Eu digo a ele: 'Patrick, você conhece o documento? Não podemos fazer isso aqui. E, além disso, teria que ser algo como diz o documento, fora de toda a liturgia e de algo que confunda as pessoas'”.
O padre Rosas disse que ele achou um “descuido” que o padre Keyes “simplesmente aceitasse e me avisasse”, mas finalmente, sendo o pároco, aceitou que a bênção acontecesse. "Eu disse: 'Está bem, também não vou fazer drama'".
No entanto, disse que com a intenção de evitar “causar confusão” e que se pense que “as instruções [do Dicastério para a Doutrina da Fé] estão sendo ignoradas”, o padre Rosas tomou a decisão de dar a bênção no final da missa.
Mais tarde foi dito aos fiéis presentes que o padre Patrick “não os casou, nem faltamos com o respeito. Eles receberam apenas uma bênção, conforme indicado no documento [Fiducia supplicans]”, disse o padre Rosas.
Ele também disse que é a primeira vez que pedem uma bênção, porque “nunca demos bênção de nada nesta missa”.
"Aceito que houve um erro. Estou ciente disso. Mas devemos seguir adiante", disse o padre jesuíta.
“Missa pela inclusão”
Fiducia supplicans e as bênçãos aos “casais em situação irregular”
Na declaração Fiducia supplicans, publicada em 18 de dezembro de 2023, o Dicastério para a Doutrina da Fé disse que os padres católicos podem abençoar “casais em situação irregular e uniões do mesmo sexo, sem validar oficialmente o seu estatuto ou alterar de forma alguma o ensinamento perene da Igreja sobre o matrimônio”.
“Para evitar qualquer forma de confusão ou escândalo”, o documento da Santa Sé estabelece que estas bênçãos não podem ser feitas “ao mesmo tempo que os ritos de união civil, nem em conexão com eles. Nem com as roupas, gestos ou palavras típicas de um casamento”.
Também diz que se trata de uma “bênção espontânea”.
Num comunicado de imprensa publicado em 4 de janeiro, em resposta às reações dos bispos de várias partes do mundo à Fiducia supplicans, o Dicastério para a Doutrina da Fé diz que estas “bênçãos pastorais” devem ser “muito breves” e ”sem uso do Ritual de Bênçãos”.
Nestas bênçãos, acrescenta, deve ser incluído um pedido para que “possam viver o Evangelho de Cristo em plena fidelidade” e que o Espírito Santo “as livre de tudo que não corresponde à vontade divina e de tudo que requer purificação”.
Para evitar confusão com o sacramento do matrimônio ou com as cerimônias de união civil, além de não usar roupas que possam induzir essa ideia, ressalta-se que a bênção pastoral “não deve acontecer num lugar importante do edifício sacro ou diante do altar, porque isto causaria confusão”.