Quatro bispos do estado mexicano de Guerrero reuniram-se recentemente com membros do crime organizado, num esforço de buscar a paz na região, abalada por confrontos e mortes.

Durante uma coletiva de imprensa realizada na última quarta-feira (14), depois da missa da Quarta-feira de Cinzas, o bispo de Chilpancingo-Chilapa, dom José de Jesús González, indicou que os bispos da região “começaram a buscar o diálogo com os chefes [criminosos] que poderiam trazer-nos paz.” No entanto, lamentou que o seu objetivo “não tenha sido alcançado”. 

Nestes encontros participaram os quatro bispos das dioceses que compõem a Província Eclesiástica de Acapulco, Além do bispo de Chilpancingo-Chilapa, participaram dom Leopoldo González, arcebispo de Acapulco; dom Dagoberto Sosa, bispo de Tlapa; e dom Joel Ocampo, arcebispo de Ciudad Altamirano.

A região governada pastoralmente pelos quatro bispos, no sudoeste do México, tem uma população de cerca de 4,8 milhões de pessoas.


O principal obstáculo a estas negociações, segundo dom José de Jesús González, é que os criminosos “cobiçam territórios”. O bispo destacou que a princípio uma das organizações criminosas queria “uma trégua com as suas condições”, mas para os seus rivais “essas condições não eram do seu agrado”.

Incidentes violentos aumentaram no estado de Guerrero nos últimos meses e foram registrados assassinatos de taxistas e transportadores.

“La Familia Michoacana” é um dos grupos do narcotráfico que luta por territórios na região, de mãos dadas com o “Cartel del Sur”. Entre os lados rivais estão organizações criminosas como “Los Tlacos”.

No ranking das 50 cidades mais violentas do mundo em 2022 , elaborado pelo Conselho Cidadão de Segurança Pública e Justiça Criminal, estão 17 cidades mexicanas. Acapulco ocupa a 10ª posição da lista.

Segundo a Secretaria Executiva do Sistema Nacional de Segurança Pública , foram registrados 1.398 homicídios dolosos em Guerrero ao longo de 2023. Desses, 1.026 foram execuções com armas de fogo.

Presidente do México fala sobre reuniões de bispos e crime organizado

Em entrevista coletiva na última quinta-feira (15), o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, falou sobre o encontro de bispos com membros do crime organizado.

López Obrador destacou que “padres, pastores, membros de todas as igrejas sempre participam e ajudam, na pacificação do país. Vejo isso muito bem, acho que todos temos que contribuir para alcançar a paz.”

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“Claro que a responsabilidade de garantir a paz e a tranquilidade é do Estado, isso deve ficar muito claro”, acrescentou.

Depois de garantir que os “costumes” e “tradições” que persistem no “México profundo”, “inibiram o consumo de drogas” no país, López Obrador destacou que “o tráfico é uma coisa e o consumo é outra. O problema que nossos irmãos nos Estados Unidos, nossos amigos americanos, têm é o consumo, e é por isso que 100 mil jovens perdem a vida todos os anos por consumirem fentanil.”

O presidente do México reiterou que em seu governo “vemos muito bem” os diálogos buscados pela Igreja Católica, mas pediu que não sejam feitos “acordos que signifiquem concessão de impunidade, privilégios, licenças para roubar”.

“Mas quem quiser sair desse inferno (…) quem quiser sair dele pode fazê-lo”, disse.

A violência das drogas atinge a Igreja Católica

Dom González Hernández indicou que a violência atingiu membros da Igreja Católica: “mataram presidentes de adoração noturna, mataram os pais de acólitos”. Em outubro de 2023, o padre Velázquez Florencio sofreu um ataque com arma de fogo por causa de seu trabalho social, enquanto viajava pela rodovia que liga as cidades de Tixtla e Chilpancingo, em Guerrero.

O bispo de Chilpancingo-Chilapa lamentou que pareça que as autoridades “deixaram” a população à mercê da violência. “Acreditamos que o governo tem a solução e também gostaríamos que não fosse corrompido (…) eles têm o poder, têm os recursos, têm os meios”.

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Apesar de não ter tido sucesso nas suas tentativas de diálogo com as organizações criminosas, Dom González assegurou que “as tentativas da Igreja Católica vão continuar” para alcançar a paz.

“Teremos que continuar com estratégias para chegar ao coração, para mudar a mentalidade [dos criminosos]”, disse o bispo.  

Neste sentido, o bispo exortou os fiéis a oferecerem a Deus oração, jejum e obras de misericórdia pela conversão dos criminosos, confiando que estas ações podem “mover essas mentes, podem mover esses corações”.

“Como Igreja [somos chamados] a não ficar indiferentes ao que acontece, a não fechar os olhos, os ouvidos, a não tapar a boca” e a estar “com os mais pobres, com os mais prejudicados, com as vítimas de violência; porque há muita dor”, expressou dom González.