19 de fev de 2024 às 13:16
Um cristão de 72 anos, acusado de blasfêmia no Paquistão, foi considerado inocente e libertado pela polícia em 15 de fevereiro.
Younis Bhatti, também conhecido como Bhagat, estava preso, acusado por uma mulher chamada Susan Fatima de ter entrado violentamente em sua casa, de a ter agredido e de ter insultado o Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.
The police discharged a 72-year-old #Christian from a false #blasphemy case after the Muslim complainant admitted she had falsely accused.
— Faraz Pervaiz (@FarazPervaiz3) February 17, 2024
Younis Bhatti,had been arrested and charged with desecrating the Quran under Section 295-B of Pakistan’s blasphemy statutes, which carries a… pic.twitter.com/hdWFVqnR9H
Segundo a legislação paquistanesa, a blasfêmia é punível com prisão perpétua ou com a pena de morte.
A denúncia alega que o suposto ataque de Bhagat ocorreu por causa da conversão da mulher ao Islã, há cerca de um ano e meio.
Longe de fugir, Bhagat se apresentou às autoridades do distrito de Faisalabad, na província de Punjab, para que estas esclarecessem o incidente. A prisão causou indignação na comunidade cristã local, onde o homem é um líder e benfeitor respeitado.
Segundo a mídia e ativistas cristãos locais, Bhagat possui, junto com sua família, um terreno grande na cidade onde moram, e que alugam a preços baixos aos cristãos da região, para que possam ter um lugar para morar com um custo acessível. Susan Fatima frequentava a mesma igreja cristã que Bhagat.
Foi assim que o cristão idoso teria dado a Susan Fátima e ao seu marido, que tem uma deficiência, uma casa onde morar de forma gratuita, com um terreno com mais de 120 metros quadrados.
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Há alguns meses, Bhagat teria informado à mulher que queria reservar um espaço naquela propriedade para outra família cristã morar, ao que ela teria se oposto.
Segundo testemunhas presentes na região, no dia 10 de fevereiro, sem que Bhagat sequer entrasse na propriedade, Susan Fatima começou a gritar acusações de blasfêmia. Para muitos vizinhos, a suposta conversão da mulher ao Islã é apenas uma estratégia para não permitir que ele disponha da sua propriedade.
Depois da libertação de Bhagat, as autoridades prenderam a mulher para uma investigação mais aprofundada.
Segundo informa a agência Fides, serviço noticioso das Pontifícias Obras Missionárias, a advogada Aneeqa Maria Anthony, que defendeu Bhagat, disse que a resolução positiva deste caso “criou confiança na comunidade cristã, especialmente no que diz respeito ao apoio das autoridades à justiça e à proteção dos direitos de todas as pessoas, independentemente de suas crenças religiosas”.
A organização não governamental Centro de Assistência Jurídica, Assistência e Acordo (CLAAS), disse que este caso “é um lembrete da importância de julgamentos justos e imparciais e do risco de falsas acusações”.
Nasir Saeed, diretor do CLAAS, disse que o caso de Bhagat coloca o abuso das leis de blasfêmia no Paquistão novamente no centro das atenções e alertou que "este não é um caso isolado".
Situações como esta, observou ele, se não forem devidamente investigadas “podem ter consequências trágicas: algumas pessoas inocentes podem passar muitos anos na prisão ou mesmo ser assassinadas”.
Saeed também recordou os ataques às comunidades cristãs em Jaranwala em agosto do ano passado, quando multidões muçulmanas queimaram centenas de casas e igrejas, por causa de acusações de suposta blasfêmia contra o Alcorão.
As autoridades eleitas nas recentes eleições de 8 de fevereiro para a Assembleia Nacional, disse Saeed, “terão o dever de implementar reformas legais para evitar mais injustiças e proteger os direitos de todos os cidadãos”.