5 de mar de 2024 às 09:42
O Movimento Leigos do Marajó enviou uma carta ao núncio apostólico no Brasil, dom Giambattista Diquattro, perguntando sobre a posse do bispo nomeado da prelazia do Marajó (PA), dom José Ionilton de Oliveira. A posse estava marcada para o dia 13 de janeiro, mas foi adiada depois da mobilização surgida pelo anúncio de que o bispo emérito, dom José Luis Azcona Hermoso, deveria deixar a ilha. Essa decisão foi cancelada depois da mobilização.
“Apesar do Marajó ser uma localidade muito carente, pobre, temos uma força muito grande que é o próprio povo que já aprendeu a se defender e a se manifestar. Então, queremos uma resposta concreta se dom Ionilton vai vir, se vai assumir”, disse o militar da reserva da Marinha José Otávio Oliveira Martins, 55 anos, membro do Movimento Leigos do Marajó.
“Não vamos parar porque percebemos a importância de que o povo se manifeste”, disse Martins. “Fazemos parte da Igreja. O próprio papa Francisco fala muito da sinodalidade. Essa palavra que para a gente também é nova vem justamente abranger isso. Acho que, pelas necessidades que o Marajó tem, os leigos devem se manifestar”.
Segundo Martins, esse movimento “foi criado a partir daquele momento em que houve por parte da nunciatura o pedido para que dom José [Azcona] se afastasse do Marajó. Houve uma mobilização, nós nos organizamos, para que pudéssemos tentar entender e, ao mesmo tempo, ajudar dom José Luiz, por ser um bispo muito querido em nossa região”.
Em 9 de dezembro de 2023, o administrado diocesano da prelazia do Marajó, padre Casimiro Skorki, disse em um comunicado que o núncio apostólico no Brasil tinha ligado para dom Azcona informando que ele não poderia mais morar no território da prelazia, sem dizer quais seriam os motivos para essa decisão.
Depois desse anúncio, marajoaras fizeram manifestações em diferentes locais da prelazia e nas redes sociais, pedindo a permanência do bispo emérito. Instituições do Marajó também publicaram notas “de apoio à permanência de dom Azcona” na prelazia.
Os padres do Marajó também pediram que a decisão de proibir dom Azcona de ficar na prelazia fosse revista. Em uma nota do dia 13 de dezembro, a prelazia informou que os padres tinham se reunido no encontro anual do clero com o bispo nomeado dom José Ionilton. Na nota, os sacerdotes expressaram que “o desejo do povo pela permanência de dom José Azcona no território marajoara” correspondia ao deles. Também informaram que tinham enviado uma carta à nunciatura apostólica no Brasil, “juntamente com dom José Ionilton, em espírito de comunhão”, pedindo “esclarecimentos sobre a decisão pela saída de dom José Azcona do território da prelazia do Marajó” e solicitando “que tal decisão, para o bem dos fiéis”, fosse “revista”.
Em 26 de dezembro, o administrador diocesano disse em um comunicado que dom Azcona não teria mais que deixar o Marajó. Também informou que a posse de dom Ionilton seria adiada e que a nova data seria “marcada com o núncio apostólico”.
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Consultados por ACI Digital tanto dom José Ionilton como o administrador diocesano da prelazia do Marajó, padre Casimiro Skorki, disseram que ainda não foram informados sobre uma nova data para a posse.
Na carta destinada ao núncio apostólico, o Movimento Leigos do Marajó lamenta que, “desde meados de dezembro”, os “leigos marajoaras” aguardam “pacientemente” o pronunciamento de dom Diquattro “sobre a vinda do bispo nomeado” para a prelazia.
O Movimento Leigos do Marajó diz temer que “os recentes acontecimentos que delinearam o adiamento da posse do novo bispo possam incidir negativamente no povo num processo de afastamento da Igreja junto com a rejeição de dom Ionilton”.
“Nós ousamos perguntar: Por que esse silencia da Nunciatura? Por que não se fala claramente a todo o povo do Marajó, especialmente a nós leigos? Por quê? Para que este silêncio? Contra quem?”
Os leigos solicitam a dom Giambattista Diquattro “que possa se pronunciar a respeito da permanência ou afastamento de dom José Ionilton Lisboa de Oliveira como bispo da prelazia do Marajó”.
José Otávio Martins disse à ACI Digital que a carta, datada de 20 de fevereiro, foi enviada por e-mail para a nunciatura apostólica. “Mas, não tivemos nenhuma resposta ainda”. Ele ressaltou que a iniciativa é totalmente dos leigos e que “dom José Azcona está isento disso, não se envolve”.
Martins disse que, embora a carta tenha apenas treze assinaturas, “muitas pessoas disseram que queriam assinar também, mas esta é uma carta que já foi enviada, não um abaixo-assinado”.
Segundo ele, caso não tenham uma resposta, o grupo pretende continuar com a cobrança. “Estamos pensando em formalizar juridicamente nosso movimento, para ter mais poder, falando juridicamente” e “vamos continuar com cartas, abaixo-assinados”, disse.