O papa Francisco deu hoje sete chaves sobre a gratuidade apostólica de dar sem esperar nada em troca na evangelização, e o desafio de sentir que a falta de resultados pode ser considerada um fracasso.

Estas reflexões foram feitas numa mensagem enviada às instituições e organizações de ajuda à Igreja Católica na América Latina, que participam num encontro de 4 a 8 de março em Bogotá, Colômbia.

Francisco disse que quando se faz um esforço em favor da Igreja “é natural que exijamos um resultado. Não o obter poderia ser considerado um fracasso”, mas “essa percepção parece ser contrária à gratuidade, que evangelicamente se define como dar sem esperar nada em troca”.

Para falar da forma como ambas as dinâmicas podem ser conciliadas, o papa Francisco quis responder a sete perguntas sobre o assunto, “como faria um jornalista”.

Sete chaves como respostas para sete perguntas

À primeira pergunta, “Quem dá?”, o papa respondeu que “somos apenas administradores dos bens recebidos, por isso não devemos vangloriar-nos ou exigir uma recompensa superior ao nosso próprio salário, assumindo humildemente a responsabilidade que este dom nos “exige”.

Em relação à segunda pergunta, “o que o Senhor nos dá?”, o papa Francisco disse que “a resposta é simples: nos deu tudo”. Entre outros bens, citou “a vida, a criação, a inteligência e a vontade de sermos donos do nosso destino, a capacidade de nos relacionarmos com ele e com os nossos irmãos”.

“Além disso”, disse, “ele se entregou a nós inúmeras vezes”, então “tudo o que temos ou é de Deus ou é prova e penhor do seu amor. Se perdermos essa consciência ao dar e também ao receber, pervertemos sua essência e a nossa própria”.

Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram

Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:

A terceira chave do papa Francisco responde à pergunta de saber onde acontece a entrega do Senhor, o que na sua opinião representa “uma viragem”, porque abre a porta para um caminho concreto.

Assim, continua, “o Senhor sempre se entregou a nós, tomando nas suas mãos o nosso barro, o nosso pecado, a nossa inconstância”, de tal forma que o faz “no meio do seu Povo”, razão pela qual o papa chama a não evitar “os cegos, os que ficam à beira do caminho, os que estão cobertos de lepra ou de miséria”.

Neste ponto, o papa responde oferecendo duas outras chaves que respondem à pergunta “como e quando?” Deus se entrega ao seu povo. “Sempre e totalmente”, disse o papa, de tal forma que “Deus não impõe limites: mil vezes pecamos, mil vezes nos perdoa”.

“Ele espera na silenciosa solidão do sacrário que voltemos a Ele implorando o nosso amor”, disse Francisco.

À sexta pergunta, “por quê dá?”, o papa disse que “podemos concluir que a gratuidade é imitar o modo como Jesus se dá por nós” porque o faz “por amor”. Refere-se a um amor que “não tem agenda, não coloniza, mas encarna, torna-se um de nós, um mestiço, para fazer novas todas as coisas”

A sétima e última chave sobre como harmonizar a expectativa de resultados e a gratuidade da missão apostólica responde à pergunta “para que”.

“O esforço não é inútil, porque tem um fim”, disse o papa, de tal forma que “abraçar a cruz não é um sinal de fracasso, não é um trabalho em vão, é nos unirmos à missão de Jesus de levar 'a Boa Nova aos pobres, proclamar a liberdade aos presos e a recuperação da vista aos cegos, libertar os oprimidos (Lc 4,18)”.