6 de mar de 2024 às 11:26
O observador permanente da Santa Sé na ONU em Genebra, dom Ettore Balestrero, reiterou a preocupação da Santa Sé com o uso crescente de armas movidas a inteligência artificial e o risco de dar a elas "a palavra final" sobre a vida das pessoas.
Ele fez este alerta na terça-feira (4), durante os debates do Grupo de Peritos Governamentais em Tecnologias Emergentes no Âmbito dos Sistemas de Armas Autônomas Letais (GEG LAWS), que decorrem em Genebra, Suíça.
O GGE LAWS é uma iniciativa das Nações Unidas criada em 2016 para rever a regulamentação existente sobre armas autônomas, ou seja, aquelas que, através de sensores e software, selecionam os seus alvos sem intervenção humana.
No seu discurso, mons. Balestrero citou a mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2024, na qual ele diz que “a pesquisa sobre as tecnologias emergentes no setor dos chamados ‘sistemas de armas letais autônomas’, incluindo a utilização bélica da inteligência artificial, é um grave motivo de preocupação ética”.
“Contemplando o mundo que nos rodeia, não se pode ignorar as graves questões éticas relacionadas com o setor dos armamentos”, diz a mensagem do papa.
Segundo o Vatican News, o representante da Santa Sé disse no seu discurso que “a urgência desta questão está aumentando devido ao desenvolvimento e utilização generalizada de drones armados, incluindo drones kamikaze e em enxames”.
Ele disse que isto leva a “uma menor percepção da devastação por eles causada e da responsabilidade pela sua utilização, contribuindo para uma abordagem ainda mais fria e distanciada da imensa tragédia da guerra”.
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Ao aprofundar o aspecto ético, dom Balestrero lembrou que “os sistemas de armas autônomos não podem ser considerados sujeitos moralmente responsáveis”, pois “uma máquina, embora sendo 'inteligente', continua a ser uma máquina”.
Em vez disso, “os seres humanos possuem uma capacidade única de julgamento moral e de tomada de decisões éticas que não pode ser reproduzida por um conjunto complexo de algoritmos”.
Para Balestrero, a “supervisão humana” direta e adequada é uma questão crucial, porque caso contrário “estes sistemas podem cometer erros na identificação dos alvos pretendidos devido a preconceitos não identificados induzidos pelas suas capacidades de aprendizagem automática”.
“Apesar da sua complexidade”, acrescentou dom Balestrero, “as máquinas não podem ter a última palavra sobre os seres humanos”.
É urgente para a Santa Sé, continuou ele, que este grupo de peritos trabalhe "especificamente no campo das proibições e das regulamentações dos sistemas de armas com base no seu grau de autonomia”, mantendo no centro das suas deliberações "a referência fundamental à dignidade da pessoa humana”.
O representante da Santa Sé disse aos participantes que “o desenvolvimento de armamentos cada vez mais sofisticados, mesmo com o objetivo de reduzir os danos colaterais, não é uma solução duradoura”, porque como todo o mal, “a guerra tem origem no coração humano”.
“O objetivo final, o que é digno do chamado do homem e da civilização humana, é a abolição da guerra”, concluiu.