12 de mar de 2024 às 15:43
O Povo de Deus no Sudão do Sul precisa urgentemente de apoio externo, disse o presidente da Comissão de Desenvolvimento Humano Integral da Conferência dos Bispos Católicos Sudaneses (SCBC).
Numa carta datada de sexta-feira (8) dirigida ao “chefe da rede Caritas, às pessoas de boa vontade e à comunidade internacional”, dom Eduardo Hiiboro Kussala descreveu a situação desesperadora dos seus compatriotas, dizendo que estão “à beira da miséria” e “perecendo lentamente”, em meio aos desafios causados por conflitos violentos e pela Covid-19.
“O nosso povo continua sofrendo os efeitos de emergências complexas, que ainda ocorrem em muitas partes do país, incluindo aquelas áreas que antes eram pacíficas”, disse o bispo de Tombura-Yambia (Sudão do Sul), dom Hiiboro Kussala.
Na sua carta, ele disse que o número de deslocados internos “aumentou enormemente em todo o país”. Ele explicou que são sul-sudaneses “que vivem em condições deploráveis e têm fome”.
Ele também disse que “as mulheres, as crianças, os idosos e as pessoas com deficiência” são os mais afetados pelas condições no país da África Central e Oriental.
Dom Hiiboro Kussala pintou um panorama sombrio da situação das mulheres, meninas e meninos no país mais jovem do mundo, que conquistou a independência do Sudão em julho de 2011.
“Consideremos a mãe no Sudão do Sul que vê o seu filho morrer de desnutrição causada pela fome extrema; o jovem que morre no hospital porque não há remédio para tratá-lo; a menina de nove anos que é obrigada a vender o corpo por um pedaço de bambe (batata); e a velha debilitada que fica dentro de sua cabana em ruínas esperando que a morte leve embora seu sofrimento”, disse ele.
O bispo acrescentou que “aqueles que ainda vivem nas suas casas enfrentam igualmente a fome, pois a maioria deles, ironicamente, teve de abandonar as suas fontes de subsistência na tentativa de salvar as suas vidas”. “A maioria das crianças em idade escolar tiveram de abandonar a escola devido à insegurança e ao medo de serem recrutadas à força para servirem como soldados em conflitos”, observou.
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Estes desafios foram agravados pelos efeitos negativos provocados pelas restrições da covid-19, lamentou dom Hiiboro Kussala, como o colapso da economia do país.
Ele disse que a pandemia “fez com que muitas pessoas perdessem os seus empregos e meios de subsistência, fazendo com que aqueles que antes eram autossuficientes se tornassem dependentes de pessoas solidárias”.
Os desafios do Povo de Deus no Sudão do Sul foram agravados pelo “aumento da inflação” no país, observou o bispo, acrescentando que “muitas pessoas já não conseguem comprar nem mesmo os alimentos mais baratos. Como resultado, os níveis de pobreza no país aumentaram e o número de famílias que sofrem de fome aumentou”.
O estado do país piorou “devido às inundações em algumas áreas e às secas graves noutras”, lamentou. Ele disse que parece que o Sudão do Sul está “andando em círculos de uma calamidade para outra e vice-versa. A realidade mais triste é a nossa incapacidade de superar os efeitos destas calamidades e proteger o nosso povo contra elas”.
Dom Hiiboro Kussala, teme que, se estes problemas não forem resolvidos, o seu povo não sobreviverá, “especialmente porque a maioria da população (64%) são jovens indefesos que não têm fonte de renda, enquanto a maior parte dos 36% restantes “são pessoas mais velhas”.
Como presidente da Comissão para o Desenvolvimento Humano Integral da SCBC, que reúne os bispos católicos do Sudão e do Sudão do Sul, dom Hiiboro Kussala apelou ao apoio externo, implorando-lhes que “não se cansem de nos ver batendo à sua porta repetidamente”. ... porque são a nossa única esperança e, portanto, luz no fim do túnel”.
“Já não se trata do país e dos seus líderes, mas do povo do Sudão do Sul, que está perecendo lentamente”, disse o bispo.
Ele reconheceu com gratidão o apoio da comunidade internacional ao longo dos anos. “Vocês têm sido a nossa âncora em meio a águas turbulentas, e só podemos agradecer e orar para que o bom Deus os recompense de uma forma que só Ele pode fazer”, disse ele em sua carta.