14 de mar de 2024 às 10:32
Aos pés do Pic Macaya, a montanha mais alta do Haiti, uma paróquia criada em agosto de 2023 tornou-se um farol de paz e harmonia no meio do caos, da violência e da morte que reinam no país. O seu pároco, o camiliano Massimo Miraglio, trabalha para construir um futuro melhor, lutando “contra o ódio e o rancor”.
Há várias semanas, o povo haitiano é atingido pela violência de gangues criminosas que operam livremente no país, especialmente em Porto Príncipe, onde controlam 80% do território sem qualquer oposição da polícia.
O padre Miraglio, de origem italiana, expressou em entrevista ao Vatican News, site de notícias oficial da Santa Sé, que considera um milagre o florescimento da nova comunidade de fiéis, tendo em conta a difícil realidade nacional.
“O que mais me impressionou nessas pessoas foi sua energia, sua vontade de trabalhar, seu desejo de deixar para trás, com esforço, a dor pelo tributo de sangue derramado pelo seu povo ao longo desses meses”, disse o pároco da igreja dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Ele disse que os grupos criminosos que operam no Haiti não deixam nada para trás. “Ministérios, aeroporto, prisões, delegacias: tudo destruído. Sem falar nos hospitais que, sob assalto, estão fechando um atrás do outro". Ele também disse que os mortos são incontáveis, que são vistos em massa pelas esquinas e que a maioria são jovens.
A paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi criada na cidade de Pourcine, há menos de um ano, a pedido do bispo de Jérémie, dom Joseph Gontran Décoste, para representar “uma futura reconciliação nacional”.
“Com este gesto, as pessoas da região sentiram-se amadas, sentiram que podiam sair do isolamento e do medo em que tinham caído. Puderam, em parte, começar a esquecer os efeitos dramáticos do furacão Matthew em 2016 e do terremoto de 2021”, comentou o padre Miraglio.
Assim, o desafio do padre camiliano é demonstrar que somente com unidade os haitianos poderão combater o ódio e o desespero. Na zona onde fica a paróquia há muitas carências: não há escola nem dispensário médico, mas o objetivo da comunidade é construí-los “com a contribuição de todos”.
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Esta tem sido a mentalidade que a Igreja tem tentado imprimir na sociedade haitiana, uma ação pacificadora promovida pelos seus padres e freiras, que cuidam com especial predileção dos mais vulneráveis.
“Quando essa violência acabar”, conclui o padre Miraglio, “a Igreja não pode deixar de se envolver na reconstrução da esperança. O Haiti precisa de um plano preciso para envolver as forças saudáveis do país, e a Igreja tem credibilidade para ajudar a alcançar esse objetivo”.
A Igreja na América Latina é solidária com o Haiti
O Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM) enviou uma mensagem de solidariedade ao presidente da Conferência Episcopal do Haiti (CEH), dom Max Leroy Mésidor, e a todo o povo daquele país pela crescente violência das últimas semanas.
No comunicado, a diretoria do CELAM diz que acompanha “com grande preocupação” as notícias sobre a grave crise social, alimentar e de segurança que atravessa o país caribenho. Também agradeceu a dom Mésidor e a todos os bispos haitianos pelo testemunho de dedicação e por “tornarem presente a luz da fé no meio de tantas trevas”.
O CELAM ofereceu sua colaboração, embora tenha especificado que "não conhece os meios mais adequados" para enviar ajuda e, portanto, pediu ao presidente da CEH que diga "com confiança" o que pode ser feito para apoiar a Igreja local. Esse espírito de colaboração, continuou o conselho do CELAM, é compartilhado por todos os bispos da Igreja da América Latina e do Caribe.
Finalmente, o CELAM disse que continua implorando ao Senhor que abra as mentes e os corações “de quem deve tomar as decisões para alcançar a paz e o bem comum”.