14 de mar de 2024 às 16:18
A decisão da Suprema Corte do Alabama, EUA, de que embriões humanos congelados são crianças segundo lei do Estado e não podem ser mortas, gerou um debate nacional sobre a fertilização in vitro (FIV). O número de mortes na indústria para os nascituros é provavelmente maior do que o do aborto.
Na fertilização in vitro, os médicos extraem óvulos da mulher e os fertilizam com esperma para criar embriões humanos em laboratório sem ato sexual.
Como o tratamento tem baixa taxa de sucesso – cerca de 50% para mulheres com menos de 35 anos, mas significativamente menor à medida que as mulheres envelhecem – as clínicas criam muito mais embriões humanos do que pretendem implantar nas mulheres para levar a gestação a termo. Isso aumenta as chances de um nascimento, mas resulta na morte ou no congelamento indefinido de milhões de embriões excedentes.
As clínicas de fertilização in vitro não informam o número exato de embriões que são mortos sob seus cuidados, mas as clínicas normalmente extraem entre 10 e 15 óvulos por tratamento. Segundo a rede de clínicas de fertilização in vitro Illume Fertility, se a clínica extrair 12 óvulos, cerca de 80% – nove ou 10 óvulos – serão viáveis e cerca de 80% dos óvulos viáveis serão fertilizados com sucesso para criar embriões – sendo cerca de sete ou oito embriões por paciente.
O Centro para Controle de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) estima que mais de 238 mil pacientes tentaram a fertilização in vitro em 2021. Se as clínicas tiverem criado entre sete e oito embriões para cada paciente, isso daria cerca de 1,6 milhão a 1,9 milhão ao longo de um ano. Apesar destes números elevados, menos de 100 mil crianças embriões nasceram, o que sugere que cerca de 1,5 milhões a 1,8 milhões de embriões criados através de fertilização in vitro nunca nasceram.
A indústria do aborto ceifou cerca de 985 mil vidas entre julho de 2022 e junho de 2023, menos da metade da indústria da fertilização in vitro por ano.
Os pacientes podem congelar os embriões excedentes para uso futuro ou adoção por outros casais. Congelar os embriões, porém, custa ao casal milhares de dólares. Mesmo quando estão congelados, a maioria acaba abandonada. De 2004 a 2019, ocorreram menos de 8,5 mil nascimentos vivos de embriões doados. Os EUA permitem tratamentos de fertilização in vitro desde o início da década de 1980 e as estimativas sugerem que existem entre várias centenas de milhares e 1,5 milhão de embriões atualmente congelados.
A maioria dos embriões foi morta intencionalmente ou morreu em algum momento do processo de fertilização in vitro.
Mortes embrionárias intencionais e não intencionais
Quando determinam quais embriões vão sobreviver e quais não, as clínicas fazem testes para “rastrear doenças genéticas que o casal deseja garantir que o embrião não tenha”, disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, a professora de ética médica na Universidade Católica da América, Melissa Moschella.
Depois desses testes, os embriões são “classificados segundo a sua qualidade”, disse ela. “Aqueles considerados mais saudáveis são os escolhidos para implantação inicial.”
O presidente do Centro Nacional Católico de Bioética, Joseph Meaney, disse à CNA que quando as clínicas detectam “anomalias genéticas ou outras condições de saúde”, esses embriões são “imediatamente retirados e mortos”.
“Essencialmente, o que eles estão tentando fazer é vender um produto… [e] qualquer coisa que não seja [um bebê saudável] – é eliminada [através de] um processo de controle de qualidade”, disse Meaney.
Mas os testes e classificação embrionária não são a única etapa na qual os embriões morrem, segundo Meaney: “Alguns deles morrem no processo de descongelamento” e “alguns deles não conseguem implantar-se”.
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Mesmo depois da implantação, Meaney observou que as mulheres têm uma “taxa de aborto espontâneo mais elevada do que a média com bebês de fertilização in vitro”. No caso de uma implantação bem-sucedida – se houver mais filhos nascituros do que a mãe deseja dar à luz, os menos saudáveis no útero serão abortados através de um processo denominado “redução seletiva”, disse ele.
“Em cada fase do processo, existe uma taxa de mortalidade”, disse Meaney.
Os embriões que sobrevivem ao processo de teste, classificação e descongelamento, mas não são escolhidos para implantação, são normalmente descartados, o que põe fim à vida humana. Alguns são doados para pesquisas científicas e sofrem o mesmo destino. Mesmo que estejam congelados, Meaney disse que “são basicamente órfãos lá” e “são essencialmente abandonados em câmaras frigoríficas”.
Políticos não tratam fertilização in vitro como aborto
Apesar da destruição exorbitante da vida humana inerente ao processo de fertilização in vitro, o público e os seus representantes eleitos tratam o assunto de forma muito diferente do que tratam as mortes causadas pelo aborto.
Depois da decisão da Suprema Corte do Alabama, que forçou algumas clínicas de fertilização in vitro a suspender os serviços, o tribunal recebeu reação negativa de democratas e republicanos. No Alabama, o legislativo, de maioria republicana, adotou uma lei para proteger as clínicas de fertilização in vitro de responsabilidade civil ou criminal, que a auto-proclamada governadora pró-vida Kay Ivey assinou imediatamente. Ivey e outros republicanos que apoiaram o projeto alegaram que proteger a fertilização in vitro é pró-vida.
O professor de pesquisa social na Universidade Católica da América e ativista pró-vida, Michael New, disse à CNA que a fertilização in vitro é “uma questão espinhosa para nós politicamente”. Ele disse que ninguém poderia ser eleito para proibir a fertilização in vitro, mas “se você não pode proibir algo… [pelo menos] pare de promover”.
“É errado criar embriões sem a intenção de levá-los até o fim”, disse New.
Moschella também reconheceu a difícil batalha política. “Pode ser difícil ver os danos da fertilização in vitro porque os danos são infligidos a seres humanos muito pequenos”, disse ela, acrescentando que qualquer pessoa que respeite o direito à vida deveria pelo menos “prevenir a criação de embriões sobressalentes além do número que é seguro para a implantação”.
“Os embriões criados através da fertilização in vitro devem receber as mesmas proteções que qualquer ser humano – principalmente proteção contra agressão [e] proteção contra morte ou destruição intencional”, disse Moschella.
Meaney repetiu o mesmo sentimento, dizendo que uma vida nascitura criada através de fertilização in vitro é tão valiosa quanto uma vida concebida naturalmente: “Não importa como seja feito… esse indivíduo é um membro da nossa espécie [e] é um novo ser humano”.
“Nossa natureza humana vem do nosso DNA” e “o início desse processo acontece na concepção – na fertilização”, disse ele.
A Igreja proíbe a fertilização in vitro porque separa o ato matrimonial da procriação e destrói a vida humana embrionária. O Catecismo da Igreja Católica diz no nº 2.377 que práticas de fertilização in vitro “são moralmente inaceitáveis. Dissociam o ato sexual do ato procriador. O ato fundador da existência do filho deixa de ser um ato pelo qual duas pessoas se dão uma à outra, e ‘remete a vida e a identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos. Instaurando o domínio da técnica sobre a origem e destino da pessoa humana. Tal relação de domínio é, de si, contrária à dignidade e à igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos’. ‘A procriação é moralmente privada da sua perfeição própria, quando não é querida como fruto do ato conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos. [...] Só o respeito pelo laço que existe entre os significados do ato conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite uma procriação conforme à dignidade da pessoa’ ”.