21 de mar de 2024 às 16:05
O arcebispo de Toledo e primaz da Espanha, dom Francisco Cerro Chávez, adverte em carta recente sobre a necessidade de apoiar os cristãos da Terra Santa, ainda mais em tempos de guerra, dado o perigo de “tornar-se um museu, uma mera lembrança arqueológica”.
Na carta, intitulada A Terra Santa precisa urgentemente de nós em tempos de guerra, o arcebispo recordou o seu “apoio incondicional” aos Lugares Santos ao longo do seu ministério e fez três apelos à situação atual, uma vez que “não podemos olhar para outro lado”.
O primeiro é que a coleta para os Lugares Santos seja feita na Sexta-Feira Santa, dizendo que “neste momento seria pecado de omissão não a fazer”. Para reforçar esta ideia, dom Cerro diz que “há muitas semanas” telefona para os franciscanos da Custódia da Terra Santa: “Eles me contam que estão passando por um momento muito difícil, especialmente aqueles que, principalmente por causa das dificuldades de sobrevivência, acabam deixando suas casas", disse.
Diante do perigo de que a região se torne um museu, o arcebispo de Toledo disse que "todos nós devemos trabalhar juntos para promover as peregrinações".
Dom Cerro convidou as pessoas a se unirem aos Amigos da Terra Santa, uma associação que se reúne uma vez por mês para rezar, receber formação e "compartilhar a sensibilidade e o compromisso com a Terra Santa".
Em terceiro lugar, ele convidou a lembrar, nos cultos da Sexta-Feira Santa, "o drama da falta de paz", porque "o que está acontecendo em todos os lugares onde a guerra assumiu o 'direito de cidadania' é sangrento".
O que é a Coleta em favor da Terra Santa?
“A Coleta Pró Terra Santa com a qual, por séculos, cristãos de todo o mundo fazem o melhor que podem pela presença dos seus irmãos, na terra de Jesus, é a mais importante da Igreja Católica, porque estabelece e explica o próprio significado da caridade”, diz o site da Custódia da Terra Santa confiada aos franciscanos. Essa coleta, ocorre toda Sexta-Feira Santa nas paróquias de todo o mundo.
O primeiro documento sobre esta prática de caridade e comunhão entre os cristãos data de 1455. Trata-se de uma bula do Papa Calisto III, que dá permissão aos frades para viajarem para pedir doações para a manutenção dos lugares santos.
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Depois, existem outras bulas papais que se referem às necessidades de financiamento na Terra Santa, mas foi no século XIX que foi realizada especificamente na Sexta-Feira Santa.
Na exortação apostólica Nobis in animo, de 1974, o papa Paulo VI diz que a comunidade católica na Terra Santa “ao longo dos séculos, suportou quase inúmeras adversidades e foi sujeita a amargas vicissitudes da fortuna”. De tal forma que “ela não consegue mais se sustentar e, portanto, precisa da nossa benevolência e ajuda tanto para fortalecer sua mente quanto para buscar riquezas”.
“Se alguma vez a sua presença falhasse completamente, então o fervor do testemunho vivo nos tão famosos Templos seria extinto, e os Lugares Santos dos Cristãos, seja na cidade de Jerusalém ou em toda a Terra Santa, tornar-se-iam claramente museus. Já confessamos abertamente em outras ocasiões o quão preocupados ficaríamos se o número de cristãos diminuísse cada vez mais naquelas antigas regiões que foram o berço da nossa fé”, diz a exortação apostólica de Paulo VI.
Por estes motivos, institui a coleta da Sexta-Feira Santa: “Em todos os templos e oratórios, confiados ao clero, seja diocesano ou religioso, uma vez por ano – no 6º dia da Semana Santa da Paixão do Senhor, ou em outro dia designado pelo ordinário do lugar -, além de derramar orações especiais pelos nossos fiéis irmãos da Terra Santa, também deverá ser feita uma contribuição para o cepo, que será destinada a eles”.
Custódio da Terra Santa: “Ajudem-nos”
Na sua mensagem por ocasião da coleta em favor da Terra Santa, o custódio dos Lugares Santos, frei Francesco Patton, diz que depois do início da guerra em outubro de 2023, a visita dos peregrinos foi bloqueada “mais uma vez, tirou as nossas crianças das escola durante longos períodos e deixou muitos dos nossos cristãos na Terra Santa sem trabalho, especialmente em Belém e na Palestina, mas também na Cidade Antiga de Jerusalém e em Israel”.
Pela manutenção dos lugares que Cristo habitou na Terra e pelas diversas obras educativas, caritativas e de promoção humana realizadas pela Igreja Católica, “nós, frades da Custódia da Terra Santa, tornamo-nos mendicantes e recorremos a todos para que a Sexta-feira Santa seja um dia de solidariedade universal, um dia em que os cristãos de todo o mundo ajudem concretamente a Igreja mãe de Jerusalém, que neste momento tem extrema necessidade de ajuda”, diz o custódio.
“Por favor, abra o seu coração e ajude-nos de acordo com as suas possibilidades, para que também nós possamos continuar a cuidar desta Terra Santa e dos seus filhos”, conclui a sua mensagem.