8 de abr de 2024 às 15:47
Os padres da Ordem dos Ministros dos Enfermos, mais conhecidos como camilianos, estão presos no Hospital São Camilo por causa da violência em Porto Príncipe, capital do Haiti, cometida por gangues criminosas que assumiram o controle da cidade.
Falando à agência Fides, serviço noticioso das Pontifícias Obras Missionárias, um padre camiliano chamado Erwan disse que a situação é muito grave e que a segurança das pessoas tratadas no centro e a dos próprios religiosos está em risco.
“As gangues estão cada dia mais armadas e mais ferozes, estamos barricados dentro do hospital, esperando que não nos ataquem. Não podemos sair para comprar alimentos ou remédios para as pessoas que acolhemos: crianças deficientes, crianças doentes, familiares de internados e profissionais da medicina e da enfermagem”, disse.
O padre Erwan, tesoureiro do hospital, acrescentou que os criminosos só lhes permitiram sair uma vez com a ambulância, depois de pagarem uma quantia, para comprar cilindros de oxigênio necessários para alguns pacientes e intervenções cirúrgicas.
“A situação está cada dia mais perigosa”, disse ele.
Outro padre camiliano, padre Antonio Menegón, disse que o Haiti está afundando cada vez mais no abismo, com a cumplicidade da “indiferença global”.
“Ninguém fala sobre isso. Pior ainda, ninguém intervém e com o pouco que podemos fazer tentamos estar presentes para ajudar os muitos ‘fantasmas’ haitianos a viver apesar do silêncio que os rodeia”, acrescentou.
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O diretor do hospital, padre Robert Daudier, disse ao Vatican News, site oficial de notícias da Santa Sé, que os 285 funcionários do centro médico sofrem diariamente com a violência. Comentou que as barricadas colocadas nas ruas pelos grupos armados dificultam muito a reposição de medicamentos e alimentos, razão pela qual devem ser racionados.
Antes de sair das instalações, disse o diretor, é preciso avaliar a situação na rua: “Está havendo tiroteio? Eles vão nos deixar passar para pegar oxigênio, combustível e outras necessidades básicas? Quando conseguimos sair, é sempre por meio de negociação com esses homens armados e bandidos”, disse.
“Cuidamos desses homens como de qualquer outro paciente”, disse o padre Daudier, “e muitas vezes eles são vítimas de operações decididas por seus líderes". Os padres camilianos não discriminam quem solicita ajuda no seu hospital.
A grave situação haitiana também impede que os civis recebam ajuda médica, por medo do que poderia acontecer com eles nas ruas. Dos 125 leitos disponíveis no Hospital São Camilo, apenas metade está ocupada.
“Os doentes só vêm ao hospital quando suas condições se deterioram. Então, quando chegam, já estão em estado grave”, disse o padre Daudier.
Segundo Daudier, embora se dediquem a cuidar dos necessitados, o hospital e seus funcionários não estão isentos de ataques.
"Eles podem atacar qualquer pessoa que passe por ali, até mesmo os doentes. Alguns deles são realmente cruéis", disse ele.