O papa Francisco anunciou recentemente sua intenção de viajar ao sudeste asiático em setembro para visitar Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura. O país insular de Singapura é uma das regiões com maior diversidade étnica e religiosa da Ásia e abriga cerca de 395 mil católicos. O pequeno país, de importância estratégica, também tem a maior densidade urbana da Ásia, mas é classificado como o país com a maior qualidade de vida do continente. Como em todos o mundo, o país também enfrenta as ameaças do secularismo, do relativismo e a perda de valores tradicionais, especialmente o compromisso com a família e o respeito pelos idosos.

O pastor espiritual da Igreja em Singapura é o cardeal William Goh, arcebispo desde o início de 2013 e cardeal desde 2022. Ele reuniu-se em sua residência em Singapura com o vice-presidente e diretor editorial da EWTN News, Matthew Bunson, para discutir a futura viagem do papa, o colégio de cardeais, o processo sinodal e os desafios e oportunidades para a Igreja na Ásia.

Na transcrição editada a seguir, o cardeal Goh, de 66 anos, diz que "a maioria de nós" no colégio de cardeais "não se conhece", uma desvantagem para um órgão que um dia vai escolher o sucessor do papa Francisco. O cardeal também sugere a necessidade de "outro nível" para o Sínodo da Sinodalidade além de sua segunda e última assembleia em outubro deste ano - ou seja, um sínodo apenas para bispos. O sínodo existente, que inclui bispos, clérigos e leigos, "não pode realmente ser considerado um sínodo dogmático teológico", diz ele, porque nem todos os delegados são teologicamente treinados.

 

O papa Francisco fala com dom William Goh (à esquerda) depois de ordená-lo cardeal durante um consistório para criar 20 novos cardeais, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em 27 de agosto de 2022. Alberto Pizzoli
O papa Francisco fala com dom William Goh (à esquerda) depois de ordená-lo cardeal durante um consistório para criar 20 novos cardeais, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em 27 de agosto de 2022. Alberto Pizzoli

Vossa Eminência, sou muito grato pelo seu tempo. Sei que o senhor é um homem muito ocupado, ainda mais ocupado agora com o anúncio de que o papa Francisco vai visitar Singapura. Gostaria de começar com uma pergunta sobre o senhor. O senhor é nativo de Singapura?

Sim.

O senhor poderia falar sobre sua jornada de fé, especialmente ao sacerdócio, ao episcopado e agora ao colégio dos cardeais?

Minha jornada de fé é realmente uma retrospectiva. Ao olhar para a minha vida, é realmente uma jornada cheia de fé, mas verdadeiramente uma graça de Deus. Minha família não é extremamente religiosa, exceto talvez por minha mãe. Mas quando eu era jovem, sendo introvertido, em vez de me juntar aos meus colegas para brincar antes da aula, eu ia à igreja rezar o terço, aos sete anos de idade. Aos 12 anos, eu estava fazendo o ofício divino, embora não soubesse do que se tratava. E então entrei para os coroinhas. Eu também estava nos cruzados. E então começamos o clube do Rosário, onde 100 jovens iam à escola... Durante o recreio, 60 deles vinham rezar o terço, 60 deles; Em vez de irem para o recreio, para o alimento, vinham rezar. Depois, senti-me muito atraído por essa vocação, e entrei para o seminário; e então fui ordenado. Fui sacerdote assistente por alguns anos, e então eles me enviaram a Roma para mais estudos. Ao voltar, ensinei no seminário por 22 anos.

Ocupei todos os diferentes cargos no seminário, desde diretor de estudos até reitor. Esse foi meu último cargo, e depois fui bispo. Mas, paralelamente ao que eu estava fazendo, também fui nomeado diretor espiritual do Centro de Espiritualidade Católica com a renovação carismática. Então, sou muito presente no movimento de renovação. E assim fiz retiros de experiência de conversão. Esta será a 60ª sessão que vou conduzir, e cada retiro dura cinco dias.

Então, minha própria experiência de conversão, devo dizer, ocorreu porque eu conduzi o retiro de experiência de conversão, porque eu passei a realmente entrar em contato com os sofrimentos das pessoas, a vida real, as lutas como católicos; porque durante esse retiro, todos fazem o que sempre chamo de "confissão no leito de morte". Eles estão devidamente preparados para a confissão. Isso é realmente comovente, e mudou toda a minha perspectiva de vida, muito diferente da minha vida no seminário. Como professor, estou sempre ensinando, estou sempre lendo, e sou mais teórico; mas, aqui, isso realmente me ajuda a colocar a teologia em prática. Em retrospectiva, realmente, ao olhar para a minha vida, Deus sempre me guiou.

Como soube que virou membro do colégio de cardeais?

Assim como todos os outros cardeais, pelo papa Francisco, em sua forma de anunciar na oração do Ângelus. E então alguém me enviou uma mensagem de texto: "Seu nome foi mencionado". Eu não podia ser incomodado, pois estava muito ocupado preparando uma homilia. Em seguida, mais algumas mensagens de texto chegaram. Então percebi...

Como tem sido a experiência de ser membro do colégio, com todas as responsabilidades, e essa relação particular com a diocese de Roma?

Bem, certamente como cardeais, temos uma responsabilidade maior para com a Igreja universal. Mas, até agora, só participei de dois consistórios e uma reunião porque sou membro do dicastério para a Família e a Vida. Essa é a conexão até agora. Então eu acho que ser escolhido como cardeal, e o que o papa Francisco tem feito, é uma boa ideia. ... A Igreja deve ser inclusiva, universal. Temos cardeais de todo o mundo. Mas acho que a dificuldade, o desafio seria fazer com que os cardeais se conhecessem bem, especialmente ao votar no papa durante o conclave. Isso seria necessário. Mas, atualmente, acho que a maioria de nós não conhece uns aos outros e nem todos falam italiano. Então, acho que essa área de relacionamento entre os cardeais seria necessária para uma maior comunhão.

Você mencionou o papa Francisco. Ele está vindo para Singapura. O que significa a visita dele? Sei que João Paulo II esteve aqui muito brevemente em 1986. Como foi essa experiência? E quais são as suas esperanças para a visita de Francisco?

Bem, Francisco é sempre popular entre muitos de nossos católicos, e acho que ele é um farol de esperança, um farol de misericórdia e compaixão. Esse é o seu ponto forte, realmente, para tentar continuar o trabalho do papa são João Paulo II e do papa Bento XVI. O tema da evangelização é muito caro ao coração do papa Francisco, mas o seu método de evangelização é anunciar a alegria do Evangelho, que inclui acolher as pessoas, estar com os pobres, com os marginalizados. Então, nesse sentido, ele será capaz de promover uma maior unidade e fortalecer a fé dos nossos católicos e também inspirar pessoas de outras religiões, que a Igreja não está voltada para dentro, mas nós estamos realmente a serviço da humanidade. Por isso, acredito que a sua vinda certamente vai não só inspirar e renovar a fé dos católicos, mas também das pessoas que o ouvem e apreciam muito o papa Francisco. Na verdade, os líderes religiosos não católicos de Singapura apreciam muito o papa Francisco, e falam muito bem dele.

Estamos chegando à conclusão desse longo processo de sinodalidade. Sei que participou do sínodo em outubro do ano passado. Como foi essa experiência?

O que eu gostei no sínodo foi o retiro e a partilha em pequenos grupos – nessa partilha em grupo, pudemos verdadeiramente caminhar uns com os outros, ouvir uns aos outros, sem julgamentos, e acompanhar-nos uns aos outros, especialmente quando estamos entre os bispos. É muito mais fácil porque entendemos nossas próprias lutas, dificuldades, desafios e também aspirações. Esse é o lado bom do sínodo. E acho que esse é o caminho, não só para a Igreja universal, mas também para a Igreja particular, a Igreja local, no qual precisamos ouvir, caminhar uns com os outros. Penso que isso é muito útil, para que haja uma maior compreensão e comunhão entre o clero e os leigos, para que caminhemos como um só, para que estejamos verdadeiramente unidos como uma só Igreja.

Mas o sínodo, eu acho que, para mim, é realmente ótimo. Isso é o mais importante. Eu me beneficio com o sínodo. Mas em uma assembleia plenária na qual todos estão intervindo [com falas], isso se torna um pouco mais sensível, porque não conseguimos ser tão abertos ou diretos como gostaríamos... por medo de ofender pessoas que têm outros pontos de vista.

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Então, é preciso muita coragem para dizer o que é preciso e ser aberto. Mas suponho que haja também uma pressão sutil de que se o que dizemos não for apreciado por alguns setores, pode não correr muito bem. Então acho que isso também é uma pressão sutil. E penso, acima de tudo... No final das contas, embora tenha sido ressaltado que o sínodo não é uma sessão parlamentar, o que não é, mas há uma votação no final. Então a votação, na cabeça das pessoas, apesar de não ser uma sessão parlamentar, mas acho que a maioria das pessoas tomaria as votações como uma espécie de consenso. É claro que, no final das contas, é o papa quem toma a decisão. Foi o que ele fez. Então eu acho que, na área da consulta, é útil para a Igreja, e eu acho que é muito importante também para os prelados ouvirem também os leigos. Mas, como muitas vezes foi dito, ou alguns bispos estão sugerindo, talvez devesse haver outro nível em que seja realmente um Sínodo dos Bispos, depois de ouvir os leigos, depois de caminhar com eles. Deveria haver esse nível de sínodos episcopais, onde os bispos podem se reunir, porque esse sínodo [com leigos] não pode realmente ser considerado um sínodo dogmático teológico, porque nem todos são teologicamente treinados.

Todos os que votam não são teologicamente treinados. Então você pode precisar ter outro nível, basicamente composto por bispos, com o papa para determinar certas questões doutrinárias. Em termos de pastoral, acho que para esse tipo de sínodo seria útil; mas quando se trata de doutrinas, acho que é um pouco diferente.

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O vice-presidente e diretor editorial da EWTN News, Matthew Bunson, com o cardeal William Goh em 19 de abril de 2024. Sean Boyce/EWTN News
O vice-presidente e diretor editorial da EWTN News, Matthew Bunson, com o cardeal William Goh em 19 de abril de 2024. Sean Boyce/EWTN News

E a população cristã aqui compõe, eu acho, cerca de 19% ou 20% da população total. É isso? Quais são as oportunidades de alcance ecumênico para os católicos, mas também de diálogo inter-religioso aqui? Este parece um lugar muito rico para isso.

Sim, isso é algo único em Singapura. Tentamos fazer de Singapura um ícone do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. Mas eu acho, e compartilho com muitas pessoas, que é um pouco difícil para outros países duplicar o que estamos fazendo em Singapura. Temos excelente relação religiosa, harmoniosa com todas as outras religiões. Conhecemos os líderes religiosos todos pelo nome, e os conhecemos como amigos. E por isso não temos problemas. Qualquer coisa que tivermos, falaremos com eles. Somos todos muito simpáticos e solidários uns com os outros. Visitamo-nos para as suas celebrações religiosas. Estamos presentes em reuniões com bastante frequência, e compartilhamos, e há muito respeito mútuo, apreço – e também o fato de que, em Singapura, temos uma lei que proíbe qualquer pessoa de falar mal de outra religião. Isso ajuda muito, e isso faz com que todos respeitem porque é muito sensível. Então, nesse sentido, já existe muita partilha inter-religiosa entre católicos, entre líderes religiosos. Em termos de ecumenismo, estamos em muito boas condições com os cristãos e apoiamo-nos uns aos outros. Então, é claro, poderíamos fazer mais, sabe, mas eu comecei um escritório... um [escritório] arquidiocesano para o diálogo inter-religioso e também para o ecumenismo. Mas nossos recursos são limitados. E também meu tempo é limitado. Não posso estar em todos os lugares. Eu tento dar o meu melhor com o tempo que eu tiver para estender a mão aos cristãos e especialmente aos não-cristãos.

A Igreja em Singapura, como a Igreja em todos os lugares, sofre pressão do secularismo, do relativismo. O senhor falou sobre a importância de defender... acho que o senhor usou a expressão "verdade e justiça". O que isso significa?

É importante para nós que, diante desse secularismo ou dos “ismos”, individualismos e assim por diante, acho que a Igreja tem que ser verdadeira naquilo que proclamamos. Não creio que devamos tornar a mensagem evangélica diferente ou diluir a mensagem evangélica. A verdade tem que ser dita, porque a verdade nos liberta. Mas, é claro, a verdade tem que ser dita com caridade. Isso é muito importante. Mas não creio que devamos tentar comprometer o Evangelho. E esse é o meu medo: que, hoje, até os líderes da Igreja estejam comprometendo o Evangelho. Acho que Jesus nunca comprometeu o Evangelho, mesmo para a mulher adúltera. Ele diz: "Eu não te julgo, não te condeno, mas por favor, não peques mais". Acho que isso tem que ser mencionado. É aqui que entra a importância da veracidade, da misericórdia e da compaixão.

Há muita injustiça no mundo de hoje. Então, o que podemos fazer? Em alguns países, não em Singapura, porque sou membro da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC, na sigla em inglês) e em alguns países, há perseguições por causa da sua religião, às vezes por causa da sua raça e política.

Então, como falar com essas pessoas com autoridade? Como dialogamos? Então, eu acho que é aqui que, novamente, acho que o papa Francisco dá a direção que nós precisamos seguir. Diálogo. Precisamos dialogar. Precisamos ouvir; precisamos dialogar. Precisamos fortalecer a confiança porque, no final das contas, estamos todos pelo mesmo objetivo. Toda a humanidade tem o mesmo objetivo: queremos felicidade, mas não uma felicidade qualquer, apenas a verdadeira felicidade. Não queremos apenas amor. Queremos amor fecundo.

Singapura tem sido descrita como uma espécie de ponte entre o ocidente e o oriente. O que Singapura pode mostrar, e o que esta região pode mostrar, para a Igreja em geral, em termos de harmonia. Qual direção você acha que precisamos seguir?

Na verdade, Singapura é considerada mais um país de “primeiro mundo” do que o restante da região. É por isso que, ao participar das reuniões da FABC, que embora seja uma federação de conferências episcopais asiáticas, mostra o mundo inteiro, porque há países muito ricos e alguns pobres; alguns enfrentam questões políticas, outros a repressão à religião. Então é muito diverso e, nesse sentido, um pouco difícil. Mas para nós, como Igreja, acho que Singapura pode ser um modelo, em termos de como podemos permanecer fiéis à nossa fé em um país rico. Porque os desafios que Singapura enfrenta são basicamente um problema de primeiro mundo. Assim, poderíamos identificar-nos muito com a Europa; de modo que os problemas que a Europa enfrenta não são os problemas de África ou da Ásia em geral. Então, às vezes, é uma questão continental e não a questão da Igreja universal. Então, como em Singapura, o que eu acho que podemos fazer é realmente ajudar a promover a harmonia religiosa. Essa é a nossa força pelo trabalho que temos feito e, principalmente, para ajudar os governos. Em Singapura, algo belo de nosso governo é que nos vemos como um país multirracial e multirreligioso. Não somos um país laico.

Temos um governo laico, sim, para garantir justiça e imparcialidade; e mesmo a maioria dos membros do governo pertence a alguma fé, e é muito firme nela. Mas acho que é que Singapura pode mostrar o caminho de como podemos viver juntos mesmo num país muito cosmopolita, muito diversamente religioso. Desde que haja respeito, sensibilidade uns com os outros, acho que podemos trabalhar juntos. E Singapura tem muitas raças, muitos grupos étnicos de pessoas; podemos viver juntos como um só, para que haja um modelo forte de como viver em harmonia a outros países do mundo. Acho que é preciso ter um bom governo, um governo forte para poder apoiar o trabalho das religiões e de todas as ONGs.

Então, essa relação entre a Igreja e o Estado tem que ser respeitosa?

Sim. E em Singapura, o Estado nos vê como parceiros, o que é verdade. Somos parceiros do governo pelo mesmo motivo, porque é para o bem comum do povo. Cuidamos de suas necessidades espirituais; Ajudamos o governo a garantir que governe com justiça. Manifestamos nossas opiniões, e o governo é muito grato por isso. Quando o governo se depara com certas questões morais e sociais, ele consulta líderes religiosos. É claro que, no final do dia, eles têm que tomar a decisão. Quer dizer, é um país multirreligioso.

A Ásia é uma dessas partes do mundo, como a África, na qual a população católica cresce. Você vê a importância da Ásia crescendo neste século? E, caso sim, o que o resto da Igreja pode aprender com a Ásia? Sei que estamos falando de um conjunto muito diversificado de culturas e países, mas a Igreja parece estar crescendo aqui, e é muito vibrante.

Eu diria que, e esta é a minha avaliação, acho que o problema com países cristãos estabelecidos, como a Europa, por exemplo, é que a fé, penso eu, tornou-se muito institucional. A religião tornou-se ritualizada. Virou rotina; tornou-se até um costume. Não é uma fé pessoal. Eles não têm esse encontro pessoal com Jesus. Na Ásia, porque muitos de nós somos convertidos, pelo menos nas últimas duas, três gerações – e converter-se de uma fé para outra, não é uma coisa fácil; você será marginalizado no início– e assim essas pessoas, não só estudaram sobre a fé, mas acima de tudo, encontraram Jesus. E é isso que meu retiro de experiência de conversão tenta fazer. Na verdade, o retiro da experiência de conversão, no início, quando comecei, era destinado a católicos não praticantes. Eu queria trazer de volta as ovelhas perdidas. Então, depois disso, muitos membros da Igreja disseram: 'Nós também nunca experimentamos Deus. Nós também queremos fazer parte', então agora o retiro é aberto a todos. Mas creio que quando conseguimos que uma pessoa tenha um encontro pessoal com Jesus, Jesus é real; Jesus está vivo. Podem encontrar a sua misericórdia, o seu amor, o seu perdão. A vida deles vai mudar.

E eu honestamente acredito em todas essas lutas ideológicas, sejam da ideologia de gênero, do homossexualismo, do aborto, da eutanásia – tudo isso acontece ao se operar no nível da cabeça. No nível da cabeça, tudo pode ser distorcido. É possível argumentar de todos os lados. Para nós, que somos católicos, ao encontrarmos Jesus, sabemos que Ele é o vosso Senhor e Salvador. Aceitamos toda a doutrina nas Escrituras. Vivemos a vida segundo o que Jesus viveu e Sua Doutrina, mesmo que não concordemos – porque temos fé em Jesus. Então, a minha abordagem pastoral no trato com as pessoas que discordam com a Igreja é... Não podemos forçar nossas doutrinas sobre essas pessoas. Convido-as a conhecer Jesus. Convido-as a se apaixonarem por Jesus. E creio que Jesus vai cuidar dele. Porque quem ama Jesus tão profundamente, certamente quer viver como Ele. ... Quem são essas pessoas que resmungam sobre certas questões morais da Igreja? Esses são todos católicos apenas no nome, porque não têm fé.

Então sua mensagem para eles é: Jesus?

Sim. Precisamos ter um relacionamento pessoal, e a Igreja tem que dar a oportunidade, então não é só pregar, ensinar; Isso é importante, mas vem depois também. Então, mesmo na Igreja primitiva, o que fazemos na Igreja primitiva?  Apresentamos a Didaquê depois da evangelização. Portanto, o "querigma" tem que ser pregado primeiro; depois a Didaquê; depois a doutrina. Mas estamos colocando a carroça na frente dos bois. Damos a doutrina, e esperamos que eles recebam o "querigma". Esse também é o meu medo, de que os jovens de hoje não recebam isso. Porque se eles são criados numa família católica tradicional e os pais são fracos em sua fé depois do crisma, como diz o papa Francisco, é um adeus [à fé] – tchau. Porque não têm fé; Chamamos isso de fé rotineira. Não é fé real. Portanto, o que tentamos fazer agora, mesmo para os jovens, é também dar-lhes um encontro profundo com Jesus. E temos o ministério dos jovens fazendo paralelo com o que estou fazendo para os adultos. Nós lhes damos uma boa experiência de Jesus. Suas vidas mudam.

O cardeal William Goh em entrevista à EWTN News em 19 de abril de 2024, em Cingapura. Sean Boyce/EWTN News
O cardeal William Goh em entrevista à EWTN News em 19 de abril de 2024, em Cingapura. Sean Boyce/EWTN News

Com tantas influências sobre os jovens, o senhor mencionou esse ministério sendo desenvolvido.  Qual é sua mensagem imediata para os jovens de hoje e para quem é desafiado pelas mídias sociais, pelas influências seculares?

O que eu sinto que é mais importante para os jovens: precisamos construir comunidades de fé. Eles precisam ser apoiados em sua fé. E é por isso que, para manter os jovens na fé, precisamos ajudá-los a formar comunidades de fé onde possam apoiar-se mutuamente. Portanto, duas coisas para mim são fundamentais para ajudar nossos jovens a lidar com todos os desafios do mundo: o encontro com Jesus; pertencer a uma comunidade de fé. E assim vão crescer. À medida que sua fé cresce, eles saberão o que fazer e como lidar com todos esses desafios, pode-se dizer, na sociedade. E, claro, acho que também há um papel importante a desempenhar... depois do querigma há a Didaquê. Mas também precisamos continuar pregando e ensinando a doutrina. Uma das razões pelas quais os jovens deixaram a Igreja é porque sentem que não podem se conectar com a Igreja e não podem se conectar com as doutrinas da Igreja. E precisamos ter mais teólogos, talvez leigos, para serem a ponte entre a linguagem eclesiástica e a linguagem comum.

O problema é que ao sermos treinados em teologia e nas Escrituras, tendemos a usar esse tipo de linguagem eclesiástica. Para nós, é a nossa xícara de chá. Usamos essa linguagem com tanta frequência que não percebemos que as pessoas no mundo não entendem do que estamos falando. E por isso não podemos nos conectar com os jovens. Então eu acho que a gente precisa ter uma ponte. E é aqui que todas as mídias sociais e coisas do tipo tentam tornar isso mais palatável para os jovens entenderem, apreciarem e poderem divulgar a seus amigos.

Eminência, a última pergunta que tenho é sobre uma das coisas que está muito clara em Singapura: a importância da família. O papa Francisco fala em respeitar as gerações, em ter essas pontes entre velhos e jovens. Qual é o segredo aqui? Por que isso ainda faz tanto parte da vida aqui? O que outras culturas podem aprender com isso?

Acho que, geralmente, não na Igreja Católica, mas também na sociedade asiática, há uma maior tendência em focar na família. A piedade familiar, a piedade filial, tudo isso é muito importante. Mas isso também está sendo corroído por causa da influência ocidental; Por causa da riqueza, porque as pessoas querem ter uma vida melhor, vão viver, vão migrar, e os pais estão trabalhando para ter uma vida melhor. O custo de vida é alto. Portanto, há muitas ameaças contra a família, mesmo em Singapura, embora tentemos proteger a família. Temos muitas – acho que temos 11 – organizações que lidam com a vida familiar. Então, temos que trabalhar muito para isso. Não vou dizer que estamos indo muito bem, mas porque pertencemos a essa cultura asiática, essa dimensão familiar é sempre importante e precisamos protegê-la, porque acho que a família está sendo ameaçada com a riqueza. E como os pais e os filhos estão trabalhando, temos famílias pequenas. Na verdade, estamos abaixo do nível de reposição da população também. E os mais jovens, não estão interessados em ter famílias.

Então promovemos a vida familiar. E a beleza disso é que o governo está trabalhando conosco. Temos um ministério que chamamos de Ministério da Assistência Social e da Família. E nesse ministério, eles tentam promover a vida familiar. Os programas que eles têm são muito bons, então nos complementamos. E somos gratos porque o governo também vê a importância de aumentar a família, fortalecê-la e curar as feridas de pessoas divorciadas e famílias disfuncionais.