14 de mai de 2024 às 13:33
O Santuário Nacional de Aparecida, em Aparecida (SP), inaugurou no sábado (11), os mosaicos de sua fachada sul, com cenas do Novo Testamento que narram desde o nascimento de Jesus até a sua morte e ressurreição. A obra faz parte do projeto Jornada Bíblica cujo objetivo é revestir as quatro fachadas do Santuário Nacional com mosaicos que representam cenas bíblicas.
Os mosaicos são apresentados pelo santuário como obra do Centro de Arte Espiritual Aletti, escola dedicada à promoção da arte sacra, fundada pelo padre e ex-jesuíta Marko Ivan Rupnik, em Roma, Itália. Os desenhos trazem as marcas características da obra de Rupnik como os grandes olhos negros arregalados das personagens.
O padre Marko Rupnik é acusado de abusos sexuais, espirituais e psicológicos contra ao menos 20 mulheres na Comunidade Loyola, fundada por ele e uma religiosa na Eslovênia.
A entrega da fachada aconteceu através do especial Páscoa: Nossa Vida em Cristo exibido pela TV Aparecida no sábado (11), véspera do dia das mães. O programa teve quatro dias de gravação e contou com a participação do arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, missionários redentoristas e muitos artistas e cantores que através da música e de encenações representaram as passagens bíblicas retratadas nos mosaicos.
“Optamos por realizar a gravação da entrega da Fachada Sul para permitir uma visão detalhada da complexa estrutura da obra, que não poderia ser vista em detalhes em uma transmissão ao vivo”, disse o roteirista e diretor-geral do espetáculo, Romulo Barros, ao portal A12, site oficial do Santuário Nacional de Aparecida.
Durante a bênção da fachada, dom Orlando Brandes recordou “todos os operários que trabalharam aqui nesta praça e aqueles que pedrinha por pedrinha formaram esses mosaicos”.
As obras dos mosaicos no exterior do Santuário de Aparecida começaram em 2019. A fachada norte foi inaugurada em 2022 com cenas do livro do Êxodo. O Projeto da Jornada Bíblica é financiado com o dinheiro da Campanha dos Devotos, que é a doação feita por devotos de Nossa Senhora de todo o Brasil.
As primeiras denúncias contra o padre Rupnik, foram feitas em 2018.
Como comissário da Santa Sé para a comunidade fundada por Rupnik onde teriam acontecido os abusos, e que foi dissolvida em dezembro de 2023, dom Daniel Libanori corroborou a veracidade das acusações.
Em junho de 2023, Rupnik foi expulso da ordem jesuíta por causa de sua “recusa repetida” em cumprir restrições impostas por seu superior.
Em outubro de 2023, o Dicastério da Doutrina da Fé reabriu o caso contra Rupnik, fechado um ano antes por prescrição das faltas cometidas. O papa Francisco suspendeu a prescrição por causa do clamor público sobre a notícia de que Rupnik tinha sido incardinado numa diocese de sua Eslovênia natal em outubro de 2023, embora continue vivendo em Roma.
Em fevereiro de 2024, acusadoras de Rupnik falaram em público pela primeira vez e contaram suas histórias numa conferência de imprensa nos escritórios do sindicato dos jornalistas italianos em Roma.
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Em abril de 2024, cinco novas denúncias contra Rupnik foram apresentadas ao Dicastério para a Doutrina da Fé, em Roma.
Obra extensa
Além do santuário de Aparecida, as obras do padre Rupnik e do Centro Aletti estão presente em diversos outros templos no mundo todo, como na capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico, no Vaticano, nos santuários de São Pio de Pietrelcina, na Itália; de Fátima, em Portugal; e de Lourdes, na França.
Em 31 de março de 2023, o bispo de Lourdes, dom Jean-Marc Micas, disse por meio de um comunicado que criou uma comissão para considerar se os mosaicos do padre Rupnik deveriam ser retirados do santuário de Lourdes por causa do sofrimento das vítimas que chegam ao templo em busca de consolação.
Em fevereiro de 2024, dom Micas disse à CNA, agência em inglês da EWTN, que recebeu uma “pilha de cartas de pessoas muito irritadas porque os mosaicos ainda estão lá e outras pessoas que estavam muito irritadas com a ideia de podermos removê-los” esta é uma “decisão muito, muito difícil de tomar”.
A inauguração dos mosaicos de Rupnik em Aparecida acontece nesse momento no qual muitos se perguntam sobre a possibilidade da retirada das obras dele dos santuários e Igrejas em todo o mundo em honra e respeito às vítimas.
Enquanto muitos dizem ser conveniente separar a obra do autor e são contra a retirada dos mosaicos de Rupnik dos templos católicos, alegando que isso seria parte de uma cultura do cancelamento atual, outros pedem a sua retirada em respeito às vítimas de abusos e alegam que da mesma forma que Rupnik com a sua personalidade abusiva persuadia as suas vítimas de que com atos pecaminosos adorariam a Deus, sua arte sacra poderia estar imbuída disso e transmitir um falso Evangelho.
Até o fechamento dessa matéria, a assessoria de imprensa do Santuário de Aparecida não havia respondido às perguntas da ACI Digital sobre o tema, mas enviou uma nota à ACI Digital dizendo que “as obras de revestimento em mosaico das fachadas da Basílica de Nossa Senhora Aparecida seguem sob a liderança e execução do Centro Aletti”.
“Desde 2020, o ateliê é dirigido pela artista italiana e doutora em teologia, Maria Campatelli, e conta com doze mulheres e nove homens em seu corpo diretivo, além de dezenas de artistas de diferentes nacionalidades, que estão diretamente envolvidos no projeto”, continua a nota.
“Recentemente, o Vicariato de Roma, ao qual o ateliê está subordinado, após visita canônica, emitiu um parecer atestando ‘claramente que há uma vida comunitária saudável no Centro Aletti, livre de problemas específicos’", conclui o comunicado.