10 de jun de 2024 às 14:08
O arcebispo de Sydney, Austrália, dom Anthony Fisher, fez um alerta sobre a erosão crescente da liberdade religiosa na Austrália em relação aos cuidados de saúde, à educação e à sociedade em geral.
Em entrevista por escrito à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, a que pertence ACI Digital, o arcebispo, que também é frade dominicano, descreveu a situação como uma "casa de direitos humanos construída sobre areia" e pediu aos católicos "que levem a sério serem santos para o nosso tempo".
Fisher, membro de vários órgãos da Santa Sé, classificou a "lawfare" (guerra jurídica, em tradução livre) e "muitos outros exemplos de movimentos legislativos ou políticos em nosso governo federal e estadual que são hostis à religião".
O arcebispo alertou sobre as consequências de ações legislativas e burocráticas, que, segundo ele, podem destruir o próprio tecido da liberdade religiosa.
Proibição de oração silenciosa e exigência de 'matar equipes'
Dom Fisher disse à CNA que o ritmo acelerou notavelmente nos últimos anos, ao falar sobre autoridades que visam a oração silenciosa em público.
"Se considerarmos as questões da vida, nos últimos anos assistimos à descriminalização completa do aborto, com alguns Estados exigindo que profissionais médicos com objeção de consciência encaminhassem uma paciente para um provedor de aborto", disse o arcebispo.
O arcebispo australiano acrescentou que o aborto também recebeu "proteção especial, sendo que até mesmo oração silenciosa a menos de 150 metros de uma clínica de aborto agora é um crime em muitos estados".
"No outro extremo da vida, a eutanásia também foi legalizada e, embora os médicos não tenham de participar na eutanásia e no suicídio assistido, as instituições católicas de cuidados a idosos em três estados são obrigadas a acolher equipes de extermínio no local para fornecer medicamentos letais a um paciente", acrescentou.
Aquisição forçada de hospital administrado pela Igreja Católica
Embora Fisher tenha dito à CNA que geralmente os movimentos para obstruir a missão da Igreja são "mais sutis, como ataques à consciência ou restrições a quem pode ser contratado", o arcebispo destacou um caso em particular.
Ao falar sobre a tomada forçada do Calvary Hospital (Hospital do Calvário, em tradução livre), administrado pela Igreja Católica, na capital do país, pelo Território da Capital Australiana, dom Fisher descreveu o caso como a interferência mais flagrante na missão da Igreja nos últimos tempos.
O governo assumiu e renomeou "Calvary Hospital" para "North Canberra Hospital” no ano passado, apesar dos protestos do arcebispo de Canberra e Goulburn, dom Christopher Prowse, e subsequente contestação legal. Custos e compensações ainda estão nas manchetes da mídia local.
"Tomar o terreno, o prédio, a equipe e as operações de um hospital católico foi realmente apenas acelerar o mesmo fim para o qual esses ataques menores e mais sutis são direcionados", disse o arcebispo.
A batalha pelas escolas religiosas
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Em um país onde um a cada cinco alunos frequenta escolas católicas, o arcebispo expressou profunda preocupação com os esforços legislativos para conter o impacto das instituições católicas, especialmente sua capacidade de evangelizar.
"Aqueles que se opõem a que a Igreja tenha qualquer espaço na praça pública estão efetivamente sendo convidados a se engajar no lawfare contra nossas escolas", disse dom Fischer, ao acrescentar que isso constitui "usar as leis antidiscriminação como uma espada para nos impedir de operar de acordo com o ethos católico".
Ao abordar as recomendações da Comissão Australiana de Reforma da Lei que impõe restrições à capacidade das escolas religiosas de contratar funcionários e apresentar ensinamentos católicos sem ressalvas, Fisher alertou que tais medidas alterariam fundamentalmente a natureza dessas escolas.
"Se as suas recomendações forem implementadas, as escolas católicas serão em grande parte indistinguíveis das suas congêneres públicas", alertou.
Fisher também alertou sobre os riscos das recentes recomendações burocráticas, como a retirada do status de caridade de instituições religiosas.
O arcebispo alerta que tal medida poderia devastar a capacidade da Igreja de fornecer educação, saúde e serviços de bem-estar.
A noção de que as instituições religiosas poderiam não mais se qualificar para o status de caridade de tal forma era "absurda", afirmou Fisher.
Direitos humanos e dignidade cristã
O arcebispo falou sobre o profundo embate filosófico subjacente a essas ações legislativas e burocráticas.
Ele disse à CNA que as tentativas modernas de reivindicar certos direitos humanos enquanto negam a existência da dignidade humana inerente – particularmente como articulado pela antropologia cristã – são fundamentalmente falhas.
"Mas isso é tão sábio quanto construir uma casa na areia; sem o fundamento firme da infinita dignidade da pessoa humana, a casa dos direitos humanos acabará por cair", enfatizou Fisher.
Firmeza e um caminho espiritual a seguir
Ao olhar para o futuro, o arcebispo de Sydney expressou esperança de que as autoridades eleitas reconheçam as contribuições significativas dos crentes religiosos para a sociedade australiana. Ele pediu à Igreja e aos seus fiéis que permaneçam firmes em sua missão, independentemente de legislações e políticas restritivas.
"Devemos ser muito sérios em proclamar a verdade do casamento e da família pela maneira como vivemos nossas vidas", disse Fisher à CNA.
"A melhor coisa que podemos fazer para proteger a liberdade religiosa é levar a sério ser santos para o nosso tempo, comprometendo-nos com a oração, o serviço e a vida sacramental", disse o arcebispo australiano ao pedir aos católicos que tomem medidas espirituais.