Numa entrevista exclusiva à EWTN Noticias, telejornal da EWTN, rede de comunicação católica à qual pertence a ACI Digital, o bispo auxiliar da arquidiocese de Osaka-Takamatsu, Japão, dom Paul Toshihiro Sakai, falou sobre os perigos da recente decisão do Supremo Tribunal do Japão sobre a “identidade de gênero” e o seu impacto na comunidade católica.

Em 25 de outubro de 2023, o sistema de justiça japonês declarou inconstitucional uma lei nacional que obrigava pessoas que sofriam de disforia de gênero a submeter-se a uma operação de mudança de sexo para modificá-la nos seus documentos de identidade.

A lei de disposições especiais sobre tratamento de gênero para pessoas com transtorno de identidade de gênero, promulgada em 2003, exigia que uma pessoa tivesse mais de 18 anos de idade, fosse solteira, não tivesse filhos e tivesse “uma aparência que se assemelhe à zonal genital do corpo de outro gênero”, para poder mudar legalmente de sexo.

A disforia de gênero pode ser definida como sentimentos fortes e persistentes de identificação com outro gênero e desconforto com o próprio gênero e sexo natural.

“A conferência episcopal ainda não disse praticamente nada – entre aspas – sobre o assunto do gênero porque o Catecismo já o diz bem”, disse dom Toshihiro, que também é coordenador de educação e comunicação da Conferência dos Bispos Católicos do Japão (CBCJ, na sigla em inglês).

“João Paulo II também explica muito bem isso na teologia do corpo. E em abril, precisamente quando estávamos em Roma, em visita ad limina, o Dicastério para a Doutrina da Fé publicou o documento Infinita Divindade, Infinitas divinitas”, comentou.

A teologia do corpo é o conjunto de catequeses que são João Paulo II proferiu durante as audiências gerais de quarta-feira entre 1979 e 1984, como resposta às consequências causadas pela revolução sexual do final dos anos 1960.

“Estamos agora no processo de tradução para estudá-lo em nosso idioma. Em julho, temos uma reunião de bispos. Lá ouviremos o teólogo tradutor e analisaremos o documento”, acrescentou.

Em relação à comunidade cristã japonesa e à sua reação a esta controversa decisão da justiça, dom Toshihiro disse que os cristãos são “totalmente uma minoria” (apenas 400 mil numa população de 120 milhões) e que “não há meios de comunicação dos católicos”.

“Portanto, neste momento, não há nenhuma reação ou ressonância em relação a esta decisão do Supremo Tribunal”, acrescentou o bispo japonês.

No entanto, ele falou da necessidade urgente de educar os jovens sobre esses temas, e disse que a conferência episcopal – e cada bispo em particular – deve trabalhar para atender aos centros educativos, “porque no Japão existem centenas de escolas católicas, desde jardins de infância até universidades”.

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A polêmica com o livro de Abigail Shaire

O livro Danos irreversíveis: a loucura transgênero que seduz nossas filhas, de Abigail Shrier – jornalista americana do The Wall Street Journal – gerou furor e debates acalorados em todo o Japão quando foi anunciada sua publicação no país asiático.

No final de 2023, a editora Kadokawa anunciou que publicaria o livro traduzido para o japonês, porém, depois de uma onda de protestos e pressões da comunidade LGBT, a editora decidiu cancelar a publicação.

Os porta-vozes LGBT denunciaram Kadokawa por dar uma plataforma a uma "odiadora trans" e por "incitar a discriminação por meio de relações públicas". Shrier, por sua vez, condenou a censura.

Pouco tempo depois, outra editora – Sankei Shimbun Publications – anunciou que publicaria a obra no lugar de Kadokawa. Apesar de uma nova onda de protestos, em que alguns ativistas ameaçaram incendiar as livrarias onde o livro era distribuído, a publicação do livro aconteceu no início de abril.

Ao responder sobre esta controvérsia no Japão, dom Toshihiro simplesmente disse: “Não há nenhuma polêmica nacional sobre isso”.

A Igreja Católica no Japão e sua participação em temas polêmicos

Diante do atual rebuliço no Japão sobre temas culturais e familiares, o bispo afirmou que, no momento, a Igreja não está envolvida na polêmica. Sobre se a Igreja Católica no Japão oferece algum programa para apoiar as pessoas que estão explorando seu gênero e identidade, o bispo respondeu: “Ele faz isso esporadicamente. Em Tóquio há algumas missas por exemplo para quem tem esse problema, porque lá há uma população maior. Todo mês há missa para essas pessoas, mas não é pública”. E acrescentou: “Quem quiser participar deve inscrever-se. Em Osaka não existe tal serviço. Em outros lugares eu não ouvi”.

Por fim, enviou uma mensagem aos seus paroquianos à luz das mudanças sociais e jurídicas pelas quais o Japão está passando: “Como diz o papa Francisco, a Igreja admite todas as pessoas porque o Senhor Jesus Cristo morreu por todos. Então você tem que distinguir entre a pessoa e os fatos. A Igreja Católica tem a sua doutrina”, disse.

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“Então aceitamos todos, mas os fatos devem estar sempre de acordo com a providência de Deus, com o que Jesus Cristo nos diz. É preciso dizer isso”, concluiu.