20 de jun de 2024 às 13:22
Morreu o padre Jacobo Huang Guirong, que esperou cerca de 45 anos para ser ordenado na China e ficou preso por mais de uma década pelo regime comunista que persegue a Igreja Católica.
Asia News informa que o padre Jacobo, ex-administrador apostólico da arquidiocese de Kunming, morreu na tarde de 16 de junho no condado de Leping, leste da China, aos 91 anos.
O padre nasceu em 25 de julho de 1933 ou 1932, não se sabe ao certo, no condado de Huaping, Lijiang. Era o filho mais novo de sua família católica e tinha duas irmãs. Estudou na escola paroquial local e depois entrou para o seminário de Kunming.
Em 1949 os comunistas chegaram ao poder, e o seminário onde estudava foi fechado.
Em 1953, com a autorização do administrador apostólico de Kunming, monsenhor Luis He Dezong, depois da saída forçada do arcebispo Alexandre Derouineau, Jacobo, já com cerca de 20 anos, estudou teologia e filosofia na catedral. Dois anos depois, porém, ele foi obrigado a trabalhar em uma oficina mecânica.
Isso não o impediu de continuar sendo um membro ativo da comunidade católica local. Em 1966, durante a Revolução Cultural, processo de expurgo de inimigos do líder comunista Mao Zedong que instaurou um regime de terror que durou uma década no país, padre Jacobo foi detido e ficou na prisão por mais de dez anos.
Em 1978, quando foi libertado da prisão, Jacobo voltou a trabalhar numa oficina, desta vez de máquinas agrícolas. Quando a oficina fechou em 1986, ele continuou morando na aldeia de Xiaomabu, trabalhando então como carpinteiro e pregando o Evangelho.
Em 1994, depois de completar mais um ano de formação com monsenhor He Dezong, que reconstruía pacientemente a Igreja local depois da Revolução Cultural, o padre Jacobo foi considerado apto para ser ordenado sacerdote.
A tão esperada ordenação ocorreu em 4 de junho de 1995 na catedral de Zhaotong.
Ele foi ordenado sacerdote por dom Matteo Chen Muchen, então com 92 anos, que morreu dois anos depois, em 1997.
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O administrador apostólico He Dezong o designou para a vila de Lefeng, condado de Qujing. Em fevereiro de 2012 e depois da morte do padre Zhang Wenchang, o padre Jacobo tornou-se administrador apostólico de Kunming.
A situação complicou-se quando organismos oficiais controlados pelo Partido Comunista Chinês impuseram a ordenação episcopal do padre Ma Yinglin, sem a correspondente autorização da Santa Sé.
Com o acordo de conteúdo secreto assinado entre a China e a Santa Sé em 2018 para a nomeação de bispos, dom Ma Yinglin foi readmitido na plena comunhão da Igreja Católica, juntamente com outros seis bispos chineses ordenados ilicitamente como ele.
A nota enviada a Asia News diz que “o padre Jacobo era um sacerdote muito respeitado na Igreja de Yunnan, que viveu uma vida simples e difícil, e foi meticuloso, consciente e responsável no seu trabalho pastoral”.
“Na sociedade materialista de hoje, ser capaz de manter tal estado de pureza e permanecer incontaminado é um milagre dado por Deus aos nossos tempos”, diz a nota.
A perseguição sofrida pela Igreja Católica na China
Embora a Santa Sé tenha assinado em 2018 um acordo com o governo comunista da China para a nomeação de bispos, renovado em 2020 e 2022, a perseguição contra a Igreja continua.
Em janeiro deste ano, o bispo de Wenzhou, dom Peter Shao Zhumin, foi preso porque se recusou a aderir à Associação Patriótica, organização criada pelo regime comunista para tentar controlar a Igreja na China.
O cardeal Joseph Zen ze-kiun, de 92 anos, foi julgado e condenado por colaborar com manifestantes pró-democracia em Hong Kong, que fizeram parte dos protestos de 2019.